100 anos de PCP
Hoje assinala-se o centenário do mais antigo partido político português, o Partido Comunista Português. Podemos concordar ou não com os princípios que norteiam este partido mas não podemos escamotear a resiliência e a resistência dos seus militantes na luta contra a ditadura no nosso país. Muitas vezes arriscando, e perdendo, a vida, sofrendo com a prisão e a tortura, sacrificando a sua vida privada e as suas naturais aspirações pessoais. Há inúmeras histórias de comunistas que viveram durante anos na clandestinidade, usando um nome diferente do seu e vivendo uma vida criada para esse efeito.
Imagem da Notícias Magazine
A história já nos mostrou que nem sempre os ideais teóricos resultam numa melhoria na vida das pessoas quando aplicados na prática. Todas as situações que nos coartam a liberdade são condenáveis. Sejam perpetradas por ditaduras de esquerda ou de direita. Aliás é conhecido que os regimes comunistas também cometeram crimes. Esses factos não deviam ser escondidos debaixo do tapete. Não quero branquear as acções negativas desses regimes mas reconheço o papel de PCP em Portugal. Muitos dos direitos de que usufruímos hoje resultaram da luta dos militantes do PCP assim como dos sindicatos ligados ao partido.
Não sou militante deste partido nem de qualquer outro. A minha postura política é mais ao centro uma vez que concordo com princípios quer de um quadrante quer de outro. Já votei em partidos diferentes consoante as pessoas em questão ou a eleição em causa.
No entanto, o PCP faz parte da minha história familiar e de algumas das minhas memórias de infância. O meu pai era militante do PCP e membro da assembleia de freguesia quando faleceu. Fazia parte da direcção de uma cooperativa de consumo ligada ao partido e era muito activo nas tarefas do partido. Durante a minha infância acompanhei-o muitas vezes ao centro de trabalho do PCP na nossa terra. Embora me lembre melhor do bar que havia nas traseiras e das guloseimas que os amigos do meu pai me compravam*. E do enorme retrato de Catarina Eufémia que estava em frente à porta de entrada. As cerimónias fúnebres do meu avô paterno não tiveram padre mas o caixão tinha a bandeira do PCP.
Às vezes questiono-me se o meu caminho teria sido diferente caso o meu pai não tivesse falecido tão cedo. Se calhar, em vez de ter enveredado pela prática religiosa (pertenci a grupos de jovens católicos, dei catequese, fui leitora na eucaristia) talvez me tivesse filiado no PCP. Afinal, há quem afirme que Jesus Cristo foi o primeiro comunista porque defendiam os mais pobres e humildes da sociedade do seu tempo.
*chocolates da regina e uns pacotinhos pequeninos que havia nos anos 80 com pevides e amendoins. Ainda hoje sou perdida por estes snacks. (Editado porque me esqueci do * na primeira versão).