Como é habitual, o meu dia-a-dia profissional é um manancial de situações caricatas. Esta semana houve uma utente que me pôs a rir à gargalhada embora isso não seja difícil. Neste tempo em que se fala de extremismo, em que o adormecido racismo português acordou, em que se tem que ter cuidado com o nosso discurso para que seja politicamente correcto é sempre refrescante quando alguém se ri das suas próprias características.
A senhora procurava uma escova de cabelo desembaraçadora específica. Tinha visto a divulgação dessa escova numa página de Instagram e diz-me assim:
- Se desembaraça o cabelo dela (a instagrammer), também desembaraça o meu. Ela também tem cabelo de preta como eu. Parece palha de aço.
Já não estou habituada a que as pessoas usem as palavras com este desassombro "preta como eu".
Só havia 2 cores de escova, cor de rosa/roxa e preta. Obviamente que ela escolheu a escova colorida:
- Levo esta, para preta já basto eu.
Tive que me rir, não estava nada à espera que ela se saísse com esta tirada.
Tantos eufemismos que nós arranjamos para falar destas características físicas das pessoas e esta senhora diz de si própria "para preta já basto eu".
A recente polémica que envolve o partido Livre e a deputada Joacine Katar Moreira deixa-me muito desiludida. Para começo de conversa, devo dizer que não votei no Livre até porque o meu voto de nada adiantaria, voto num distrito onde não se elegem muitos deputados. No entanto, fiquei contente pela chegada do Livre ao Parlamento. Considero que é um partido que pode contribuir para a construção de um país mais justo, inclusivo e solidário. A deputada eleita também me despertou simpatia como ficou aqui explícito. Achei abjectos os ataques de que ela foi alvo no que diz respeito às suas origens e à sua gaguez. A sua história de vida mostra que ela foi uma mulher lutadora que venceu as circunstâncias da vida em que nasceu e cresceu.
No entanto, as suas atitudes recentes já não abonam muito a seu favor. Independentemente de ser negra, mulher e gaga, isso não lhe dá o direito à atitude de sobranceria que tem tido com o Parlamento, com os jornalistas, com o Partido Livre e com os eleitores que a elegeram. Na Assembleia da República ela representa o partido e não só a si própria. Tem que agir, minimamente, de acordo com os princípios defendidos pelo partido a que ela escolheu aderir. Julgava-a mais inteligente do que isto. Começo a achar que talvez gagueje um bocadinho quando pensa, afinal.
Por outro lado, o Livre também não fica bem na fotografia. Nunca deveriam ter começado com a "guerra de comunicados" do passado fim-de-semana. Srs, a roupa suja lava-se em casa. Não façam do espaço público uma qualquer lavandaria self-service. Resolvam os vossos problemas nos órgãos próprios do partido e talvez seja melhor reverem a vossa maneira de escolher candidatos. Se calhar, não é boa ideia serem assim tão Livres.
Não tenho dúvidas que a chegada do Livre ao Parlamento se deve muito à cabeça de lista que escolheram para Lisboa e à projecção que ela teve durante a campanha eleitoral. Por outro lado, ela não podia chegar ao Parlamento sem ser integrada nas listas de um partido. Ou seja, Joacine serviu-se do Livre e o Livre serviu-se da Joacine. É muito má ideia estarem, agora, a descartarem-se mutuamente.
E por último, uma palavra à comunicação social, menos é mais. Deixem de dar tanta cobertura aquilo que fazem estes pequenos partidos. Eles são importantes para que o nosso país seja verdadeiramente democrático mas não têm tanto poder no nosso futuro como os partidos com maior representação. Esse sim, decidem a nossa vida.
Quando se trabalha no atendimento ao público, há sempre histórias para contar. Temos um utente que é daquelas pessoas que pensam que são melhores que os outros, que são seres superiores e que todas as pessoas lhe devem prestar vassalagem. Infelizmente, tivemos um problema com os medicamentos dele já que havia 2 que estavam esgotados desde Setembro, Acontece que não eram medicamentos insubstituíveis porque se tratavam de genéricos que podiam, facilmente, ter sido trocados por medicamentos de outros laboratórios. Acontece que ele queria aqueles laboratórios em específico.
No dia em questão, ele voltou a reclamar sobre o assunto e os argumentos para nós lhe resolvermos o problema foram estes:
"Sabe, eu sou da classe média alta"
e
"Eu só venho a esta farmácia porque tenho muita consideração pela Dra F. (a patroazinha) mas pelas funcionárias não tenho consideração nenhuma"
Diga???
Tenho imensa pena que estas pérolas não tenham sido ditas ao pé de mim. É que eu tinha cá uma resposta na ponta da língua. Há pessoas que tem a mais completa falta de noção.
Hoje é 2a feira e isso significa que é dia de música nova aqui no blogue. Não sei se já repararam mas gosto muito de duetos. Se pesquisarem o meu tag #música, encontram inúmeros encontros musicais. Não sei se corresponde à verdade mas a impressão que dá é que, no panorama musical português, todos se dão bem, se admiram mutuamente e gostam de trabalhar juntos. Sendo assim, aqui a música " Anjos" com as vozes cristalinas e angelicais de Diogo Piçarra e Carolina Deslandes, dois dos melhores artistas do nosso tempo.
"Afinal anjos não voam/Nem foi preciso olhar/Pro céu para te encontrar"
A foto da semana não tem grande qualidade fotográfica mas tem um ar muito saboroso
Cornucópia, uma delícia típica de Alcobaça
Este doce foi comprado, no domingo passado, no stand da Pastelaria Alcoa durante a XXI Mostra Internacional de Doces Conventuais e Licores. Este evento decorre dentro do Mosteiro de Alcobaça logo foi possível ter acesso ao interior do Mosteiro. Só lá tinha ido uma vez numa visita de estudo da escola primária.
Neste último ano da 2a década do Séc XXI, em que temos acesso a inúmeras funcionalidades através dum pequeno objecto que podemos transportar no bolso ou na mala, em que podemos ver, em tempo real, alguém que esteja do outro lado do mundo, em que as nossas informações viajam pelo ar graças à acção dos satélites que povoam a órbita terrestre, ou seja, neste tempo em que vivemos um avanço tecnológico com que nunca sonhámos, ainda é possível estar a ter uma conversa com alguém e ouvir:
- Eu não me quero encontrar com ela porque ela é uma invejosa. Ela até foi à bruxa por causa da S.. Ela disse-me que a S. tinha feito bruxaria para a prejudicar por isso teve que ir à bruxa para desfazer o que a outra lhe tinha feito.
Surreal .
Só me posso sentir grata por não pautar a minha vida por crendices deste tipo. Os momentos difíceis acontecem porque têm que acontecer ou porque tomamos decisões erradas na vida que contribuem para que a vida não corra sempre sobre rodas.
José Mário Branco não gostava de homenagens. Nunca quis ser homenageado em vida por isso este post não é uma homenagem. É uma celebração da sua vida no dia em que a sua voz se calou para sempre. Ele foi cantor, compositor e produtor. Trabalhou com imensos artistas como Zeca Afonso, Sérgio Godinho, Camané, ou Carlos do Carmo, para citar apenas alguns. Para além disso, foi também um homem inconformado, lutador e com uma grande consciência política. Aliás, a sua obra é constituída, em grande parte, por músicas de intervenção. Chegou a estar exilado durante a ditadura. Foi um homem que nunca se acomodou. Aos 64 anos chegou a ser um aluno brilhante de Linguística na Faculdade de Letras. Hoje calou-se uma das vozes mais marcantes da nossa cultura recente.
Vídeo gravado durante o espectáculo "Vozes de Abril" em 2008.
Grata pela oportunidade de ir passear a Alcobaça com o pretexto de visitar a XXI Mostra Internacional de doces conventuais e licores. Só tinha ido uma vez ao Mosteiro de Alcobaça, na escola primária. Só não fiquei muito grata à chuva que apanhei porque agora estou constipada. Obrigadinha, São Pedro.
P.S. - A "culpada" deste Diário da Gratidão, a Maria das Palavras, foi entrevistada pelo Pedro Neves. Encontram essa conversa aqui. Vou ver se a consigo ouvir daqui a pouco, a caminho do trabalho.
Esta semana trago-vos a minha última descoberta musical, Tainá. Trata-se de uma jovem brasileira que veio viver para Portugal há poucos anos. Apesar dos seus 22 anos, as suas canções revelam uma maturidade e uma profundidade admiráveis e a sua voz cristalina é encantadora.
A semana que passou não foi muito profícua em fotografias por isso a foto da semana é a imagem de ontem, captada na apanha das poucas azeitonas que temos este ano. Felizmente que ontem tivemos um dia de sol. Hoje o tempo está pior para actividades agrícolas.