A passada semana trouxe um cenário trágico, embora expectável, em relação ao número de casos positivos de Covid-19 bem como ao número de mortos. Os hospitais estão no limite quer em relação aos doentes Covid quer em relação a outras patologias respiratórias. Ouvimos na Comunicação Social, e nas conversas do dia-a-dia, a atribuição de responsabilidades ao Governo neste agravamento da pandemia em Portugal. Há quem alegue que não se devia ter aliviado as medidas no Natal ou que deviam, mesmo, ter sido agravadas estabelecendo, por exemplo, um número máximo de pessoas, ou de agregados familiares, nas celebrações particulares desta quadra.
É bem verdade que os países que seguiram esse caminho apresentam uma curva descendente no número de casos enquanto por aqui se enfrenta uma terceira onda gigantesca.
Quanto a mim, acho que cada indivíduo tem a sua quota-parte de responsabilidade. Porque é que estamos sempre à espera de um Estado paternalista que nos diga o que podemos, ou não, fazer? Não temos cabeça para pensar? O bom senso está em vias de extinção? Já que não era proibido, vamos juntar a família toda na ceia de Natal como é habitual. Deve ter havido muitas pessoas a pensar isso, com certeza. Ou então a fazer testes que, ao darem negativo, podem ter dado uma falsa sensação de segurança. Há um período, após o contacto com alguém doente, durante o qual ainda não se tem carga viral detectável.
Tudo indica que caminhamos a passos largos para um confinamento geral. Aguardemos pelos próximos desenvolvimentos.
Há uma série de dúvidas que me tem assaltado o espírito, ultimamente. Passo a elencar:
Os negacionistas da pandemia são as mesmas pessoas que acreditam que a Terra é plana e que a chegada do Homem à Lua foi uma encenação filmada algures nos Estados Unidos da América?
Também serão do clube anti-vacinas?
Surgiram agora ou sempre existiram?
Estariam escondidos debaixo de que pedra? Ou em que gruta?
Serão assim tantos que justifiquem a atenção da comunicação social, dos humoristas e a minha própria atenção?
Os "médicos pela verdade" tiraram o curso aonde? Na escola da vida ou na Farinha Amparo?
A existência dos "jornalistas pela verdade" implica que todos os outros são pela mentira? Acredito que até um adolescente que escreva para o jornal de parede da escola tem mais ética profissional do que estes pseudojornalistas.
Eu já desconfiava que havia muita gente descompensada à solta mas a pandemia, e tudo o que a rodeia, intensificou a loucura que anda por aí.
Ontem, para acabar o dia de trabalho. em beleza, recebi um telefonema de uma pessoa que se queria inscrever na lista de espera para a vacina anti-covid. O pior é que eu tenho a certeza de que a pessoa estava mesmo a falar a sério.
Oh senhores, ainda não se resolveu o problema da vacina da gripe e já nos querem atacar com outra?!
Ao que tudo indica, a vacina anti-covid da americana Pfizer e da alemã BioNtech apresenta uma eficácia de 90% e já está na fase final dos testes clínicos pouco faltando para iniciar o processo de pedido de autorização às autoridades de saúde americanas (FDA). Ora são excelentes notícias embora ainda haja um longo processo antes de as vacinas chegarem à população. Esta vacina é uma das que foram negociadas pelo governo português para virem para o nosso país. Não se pode dizer que seja a luz ao fundo do túnel mas já é uma boa promessa.
O engraçado da questão é que Donald Trump veio afirmar que a FDA e a Pfizer tinham adiado este anúncio propositadamente para que acontecesse depois das eleições presidenciais americanas. Mas esta criatura ainda não percebeu que não é o centro do Universo?!
Esta semana destaco a foto do meu almoço de domingo da semana passada.
Cozido à Portuguesa
Sou um bom garfo. Gosto muito de comer. Nem sempre fui assim. Quando era miúda, comia muito mal. Só gostava de doces. Hoje em dia, gosto de doces e salgados o que é um problema para manter a linha.
Cozido à Portuguesa é um prato que só costumo consumir no Outono e no Inverno. Não faço em casa porque a família é muito pequena e este prato faz mais sentido cozinhar para mais pessoas. Se calhar, é uma mania minha.
Na era pré-Covid, o meu sítio preferido para comer esta iguaria portuguesa era um pequeno restaurante familiar muito perto de casa. Tendo em conta que o restaurante teve que reduzir o número de mesas, pensámos em ir buscar para comer em casa.
Quando fui encomendar fiquei com pena da cozinheira. Ela perguntou-me porque é não comíamos no restaurante porque agora a frequência era muito menor. Fiquei triste. Antes o local estava sempre a abarrotar e era difícil conseguir mesa.
É desolador pensar o que os pequenos negócios familiares estão a sofrer com esta situação. Por trás dos números que vemos nas notícias, estão pessoas. Quem puder continuar a consumir, deve fazê-lo. A economia tem que continuar a girar senão sofreremos todos.
A pressão das pessoas por causa da vacina da gripe é tremenda. Não consigo lidar com o facto de que não há vacinas da gripe suficientes mas que isso não depende da nossa vontade nem do trabalho da farmácia. Não há nada que possamos fazer mas não deixa de ser frustante. Há pessoas que compreendem e outras nem tanto. Houve dias em que tive vontade de largar tudo e deixar de trabalhar com o público. Afinal, já lá vão mais de 20 anos
A covid19 atingiu pessoas próximas, familiares de uma colega, bem como outras pessoas relacionadas e que eu conheço bem. Nunca tinha "sentido" o vírus tão perto. Pela notícia do jornal Expresso, o concelho onde trabalho está acima dos 200 casos por 100 mil habitantes. É assustador sentirmos medo nos olhos dos outros bem como no nosso próprio olhar quando sentimos necessidade de nos desviarmos dos outros.
Estou a ficar cada vez mais assustada. Se, no princípio, pensava: "as autoridades de saúde estão a exagerar, nem conheço ninguém que esteja doente.", agora tal não se verifica. Até me custa a acreditar que cheguei a dizer que isto seria como a Gripe A, uns meses turbulentos e depois o vírus acalmava e voltava ao normal. Agora já percebi que o Sars-CoV 2 veio para ficar. Mais dia menos dia o "novo normal" será só "normal".
E eis que Portugal ultrapassa os 1000 casos diários neste início de Outono. Há várias semanas que se antevia este cenário. Acabei de ouvir que os especialistas estão surpreendidos porque tinham previsto que isto acontecesse mais tarde, em pleno Inverno. O que me parece é que os especialistas não sabem grande coisa. Este vírus continua a ser um grande desconhecido tornando impossível qualquer previsão. O que se percebe é que, tal como a primeira, esta nova vaga chega a Portugal mais tarde do que no resto da Europa. Vantagens de estarmos aqui neste cantinho recôndito. Como dizem os meus utentes, é preciso ter sorte.
Ontem dei um passeio que já fiz muitas vezes. Saí da aldeia pelas 11h e segui até às Caldas da Rainha. Como já não era muito cedo fomos só à Praça da Fruta mas fiquei com pena de não ter ido ao jardim que já se pinta com as cores de Outono. O Mercado da Fruta das Caldas da Rainha é dos poucos mercados deste género que ainda persiste ao ar livre. Faz lembrar os mercados franceses. Costuma ser um lugar muito animado e dá gosto ver a apresentação das bancas mesmo quando não vamos comprar nada. Aliás, às vezes não temos essa intenção, mas lá adquirimos qualquer coisa, nem que seja, apenas, uns bolinhos. Infelizmente o cenário com que me deparei foi tudo menos alegre. Para além de circularem poucas pessoas, devido às regras de distanciamento, também faltavam imensas bancas. Presumo que muitas mais do que seria exigido pelas normas de saúde públicas vigentes. Achei tão triste e deprimente. Apertou-se-me o coração. Mais uma pista de que a vida, dificilmente, voltará a ser igual ao que era antes de termos sido atropelados pelo Sars-CoV 2.
Quero agradecer muito aos meios de Comunicação Social por terem alertado as pessoas, no último fim-de-semana, para a possível falta de vacinas da gripe. É sempre bom lançar o pânico.
Há uns meses, os meus utentes faziam chantagem emocional para comprarem máscaras e agora passaram a fazê-la por causa da vacina da gripe.
Suspeito que vou ter que voltar a tomar os meus ansiolíticos naturais antes que vá engrossar as filas para o serviço de psiquiatria do hospital mais próximo. Receio ficar louca com tantas solicitações de vacina.
Hoje completam-se 6 meses sobre a confirmação do 1° caso de Covid-19 em Portugal. E a nossa vida nunca mais foi mesma. Nem posso acreditar que até fiz piadas com a situação. Nunca imaginei que esta doença se prolongasse por 6 meses. E muito menos que ainda estivesse tão longe de tudo estar resolvido. Não há nenhuma luz ao fundo do túnel.