O meu isolamento terminou há uns dias e já voltei a trabalhar. Continuo a acompanhar a situação pandémica que o país, e o mundo, atravessam. Agora que tanto eu como o A. estamos restabelecidos, já posso olhar para trás e enfrentar aquilo que senti quando vi o positivo no teste rápido.
O primeiro sentimento foi medo. Antes eu dizia que não tinha medo de apanhar Covid-19 porque achava que teria sintomas leves já que não tenho factores de risco (um resfriadinho como dizia o Bolsonaro). Mas quando me vi naquela situação receei que a doença evoluisse para uma situação grave quando já era patente que o SNS estava a chegar ao colapso. Também senti medo de ter infectado alguém como, de facto, aconteceu já que fui eu que infectei o meu companheiro. Aí o medo transformou-se em pavor porque ele tem historial de doença asmática.
A seguir ao medo, senti culpa. Culpa por me ter deixado infectar embora eu não tenha percebido como e culpa por não ter percebido logo aos primeiros sintomas que se tratava desta doença.
Felizmente, a nossa situação clínica evoluiu favoravelmente. Eu nunca tive muitos sintomas. O A. teve alguns dias com sintomas mais intensos mas que também conseguiu ultrapassar. Assim chegou a sensação de alívio porque não contaminei mais ninguém e por nenhum de nós ter tido necessidade de recorrer ao hospital por agravamento dos nossos sintomas.
Ao olhar para as imagens que chegam pelas televisões não posso deixar de pensar que tivemos uma imensa sorte.
E, pensando bem, não achei o isolamento assim tão negativo. Gosto muito de passear, de viajar, de sair mas sinto-me muito bem em casa. Não consigo perceber o drama das pessoas com o confinamento.
Ainda mantenho algumas preocupações. Continuo com tosse apesar de já ter feito um teste rápido que deu negativo e de ter tido alta. Já acho que vou ficar com tosse para o resto da vida. E, se falo durante mais tempo ou ando mais depressa, parece que o ar não quer entrar. Será psicológico?!
O último post que escrevi tem uma história gira. Escrevi-o durante a semana passada e enganei-me no agendamento. Publiquei quando percebi o erro. Mal sabia que, horas depois de o publicar, iria descobrir que a Covid-19 tinha entrado na minha vida.
No fim-de-semana passado comecei a sentir a garganta irritada, alguma tosse e o nariz congestionado. Como está muito frio, pensei que era uma normal constipação devido às diferenças de temperatura entre as zonas aquecidas e as zonas mais frias. Não valorizei muito mas fui medindo a temperatura. Não detectei febre. Mas a verdade é que fiz o teste e a infecção confirmou-se.
Não consigo perceber como fui contagiada. Não fui a nenhum festa nem no Natal nem na Passagem de Ano. Fora do meu trabalho, só tenho contacto com o meu companheiro, que também já apresenta alguns sintomas, e estive com a minha mãe nas datas festivas. A única coisa que fiz, fora do habitual, foi dar um passeio, sempre de máscara, e fui almoçar fora num restaurante que, aparentemente, cumpria todas as normas. No meu dia-a-dia sou muito criteriosa com a desinfecção das mãos e utilizo, sempre, máscara FFP2.
Nunca vou descobrir como é que isto aconteceu. No meu trabalho, felizmente, ninguém apresenta sintomas. Eu estava convencida que estava a fazer tudo certo mas alguma coisa correu mal. Os meus sintomas têm-se mantido ligeiros, felizmente.
Partilho esta situação convosco porque quero alertar para que prestem atenção aos sintomas mais insignificantes. É muito difícil lidar com a culpa de, inadvertidamente, ter colocado as pessoas de quem gosto em risco. Por mais cuidadoso que se seja, pode acontecer a qualquer pessoa. Tenham cuidado e muita atenção ao vosso corpo.
Os anos passam, vou ficando mais velha, entra em cena uma pandemia que modificou a minha vida diária tal como a de toda a gente mas há coisas que nunca mudam. E isso até me dá um certo conforto, um quentinho na alma. Porque pode ser um certo contraponto, o normal de sempre versus o novo normal. E uma das coisas que nunca muda é a minha natureza saudavelmente despistada. Sim, já entrei num supermercado sem máscara mas isso acontece a toda a gente. Mas o disparate que eu cometi aqui há dias, só distraídas mais requintadas, como eu, são capazes de fazer.
Eu precisava de um amaciador para o cabelo. Estava na farmácia onde trabalho ao fim do dia e aproveitei para ir olhar para as prateleiras dos produtos capilares para escolher o produto com a melhor relação qualidade/preço. E escolhi rapidamente o produto que está na imagem
Como podem ver, diz champô no rótulo bem como " shampooing" em toda a embalagem o que quer dizer que, provavelmente, é um champô . Acontece que as embalagens de champô desta marca costumam ter outro formato e os amaciadores é que vêm em bisnagas. Eu peguei no produto, cheia de confiança, e nem olhei para ele.
E quando é que eu percebi o erro?!
Ora estava eu a lavar o cabelo com o meu champô, passo por água e pego no suposto amaciador e ponho no cabelo. Só que, estranhamente, começa a fazer espuma . É nesse momento que eu olho bem para a bisnaga e percebo a burrada que tinha feito.
Agora tenho 2 champôs e nenhum amaciador mas continuo a doida de sempre .
A pressão das pessoas por causa da vacina da gripe é tremenda. Não consigo lidar com o facto de que não há vacinas da gripe suficientes mas que isso não depende da nossa vontade nem do trabalho da farmácia. Não há nada que possamos fazer mas não deixa de ser frustante. Há pessoas que compreendem e outras nem tanto. Houve dias em que tive vontade de largar tudo e deixar de trabalhar com o público. Afinal, já lá vão mais de 20 anos
A covid19 atingiu pessoas próximas, familiares de uma colega, bem como outras pessoas relacionadas e que eu conheço bem. Nunca tinha "sentido" o vírus tão perto. Pela notícia do jornal Expresso, o concelho onde trabalho está acima dos 200 casos por 100 mil habitantes. É assustador sentirmos medo nos olhos dos outros bem como no nosso próprio olhar quando sentimos necessidade de nos desviarmos dos outros.
Estou a ficar cada vez mais assustada. Se, no princípio, pensava: "as autoridades de saúde estão a exagerar, nem conheço ninguém que esteja doente.", agora tal não se verifica. Até me custa a acreditar que cheguei a dizer que isto seria como a Gripe A, uns meses turbulentos e depois o vírus acalmava e voltava ao normal. Agora já percebi que o Sars-CoV 2 veio para ficar. Mais dia menos dia o "novo normal" será só "normal".
Esta primeira semana de trabalho depois das férias foi muito esgotante em termos psicológicos.
Logo no primeiro dia fui surpreendida por alterações do funcionamento que vão implicar uma mudança nos horários. Não fiquei assim muito satisfeita, até me senti magoada porque achei que fui injustiçada. Mas como não sou de guardar rancores, acabei por me apaziguar.
Por outro lado, estou preocupada pela diminuição do fluxo de utentes na farmácia. De dia para dia vai-se notando a contenção das pessoas que se vão abstendo de adquirir aquilo que não é essencial mas também se nota que se avizinha uma crise muito superior ao que vivemos no tempo da troika. Embora eu não seja proprietária da farmácia, não sei até que ponto esta situação me possa atingir pessoalmente.
Mas a machadada final foi ter percebido, mais uma vez, como as pessoas nos podem desiludir. Alguém com quem tivemos uma parceria durante muitos anos, que era tratada como mais uma da equipa e até considerada como uma amiga, cometeu uma deslealdade vil connosco. As pessoas são livres de escolher um caminho diferente se já não se revêem no percurso que trilharam até ali. No entanto, há necessidade de prejudicar os outros para ter sucesso? Como é que as pessoas se podem sentir satisfeitas por construirem a sua felicidade pisando os outros? Não consigo compreender.
As minhas férias têm sido mais caseiras mas tive oportunidade de ir passar um fim-de-semana alargado ao Algarve como já referi ontem. O Algarve nunca foi o meu destino de férias preferencial. Devo confessar que até tenho algum preconceito em relação às pessoas que, ano após ano, não passam sem ir para o Algarve de férias. Afinal, temos uma costa tão grande e praias tão bonitas no Oeste ou no Sudoeste Alentejano. Sempre achei uma grande falta de imaginação daqueles que escolhem sempre o mesmo destino. É claro que há quem refira a água quente e a meteorologia mas não me convencem. Não achei a água assim tão quente. No entanto, há que aproveitar aquilo que a vida nos dá e foi por isso que rumei até sul.
Partimos no dia 20, quinta-feira. A viagem é longa por isso fizemos 2 paragens, Castro Verde, onde almoçamos, e Mértola.
Igreja de Nossa Senhora da Assunção ou Nossa Senhora de Entrevinhas - Matriz de Mértola
A casa onde fiquei alojada fica numa pequena aldeia do concelho de Castro Marim. Pequena mas muito acolhedora ainda tem, de bónus, uma pequena piscina bem agradável com o calor que tem estado.
A vista
O local era tão calmo que só se ouviam as cigarras, para além das galinhas e das ovelhas dos vizinhos.
A aldeia fica muito perto de Espanha a ponto de os telemóveis terem ficado baralhados e "pensarem" que estavam em Espanha actualizando o fuso horário. Até eu fiquei baralhada mas também não é preciso muito .
Na 6a feira aproveitámos para ir à Andaluzia. A situação Covid-19 está complicada em Espanha mas achei as pessoas muito cuidadosas. Viam-se poucas pessoas sem máscara (cá em Portugal vêem-se muito menos pessoas com máscara na rua). Mesmo a caminhar na praia, havia pessoas com máscara.
Playa de Matalascañas
Situada em pleno Parque Natural de Doñana, Matalascañas é também conhecida pelo nome Torre de Higuera. Este nome vem da torre de defesa que ali existia e cuja ruína se tornou símbolo da praia e da cidade. Conta-se que a Torre de Higuera caiu devido ao maremoto gerado pelo Terramoto de Lisboa em 1755. No entanto, há historiadores que desmentem essa hipótese.
No dia seguinte ficamos dentro de portas, ou seja, na costa algarvia. Fomos à Praia Verde. O enquadramento da praia é muito bonito com imensos pinheiros e algumas casas sem exagero de construções. Pelo que li, o pinhal era ainda maior mas foram derrubadas algumas árvores precisamente para arranjar espaço para a construção.
Praia Verde
Quando chegámos, a meio da manhã, não havia uma grande multidão na praia permitindo estender a toalha respeitando as regras de distanciamento já conhecidas. Assim que se aproxima o meio-dia, a situação começa a ser diferente o que nos causa algum desconforto. Acho que eu e o A. estamos a desenvolver demofobia porque quando aumentam o número de pessoas na praia é a nossa deixa para irmos embora.
Antes ainda tivemos oportunidade de apanhar um petisco para o jantar
Conquilhas algarvias
No domingo tomámos o pequeno-almoço bem cedo para aproveitar o dia. Desta feita fomos até à aldeia de Cacela Velha onde se pode usufruir de uma das paisagens mais fotografadas do Algarve.
Cacela Velha
A aldeia também é muito pitoresca.
Aldeia de Cacela Velha
De seguida, fomos à praia da Manta Rota, uma praia muito grande e muito procurada por famílias em férias. Mais uma vez, foi muito fácil estacionar e estender as toalhas cumprindo as regras de distanciamento social. Tínhamos lido que era habitual fazer grandes caminhadas entre a Manta Rota e a Cacela Velha. Realmente, há um movimento perpétuo de pessoas para lá e para cá. Nunca percebi a necessidade que as pessoas têm de se cansarem na praia. Um dia de praia ideal para mim é ficar estendida na toalha a ler ou a dormitar. Muito de vez em quando lá me digno a ir molhar os pés ou mais qualquer coisa. Mas, já que lá estava, acabei por entrar na "onda" e caminhar até à Cacela Velha.
Manta Rota
Tal como nos outros dias, a tarde foi passada a relaxar à beira da piscina e a preparar a bagagem para a viagem de regresso.
Infelizmente, foram poucos dias mas gostei muito da minha estadia no Algarve. Não encontrei as enchentes que imaginava. Realmente, estive em filas para entrar nos supermercados mas isso deve-se mais à pandemia do que ao número de pessoas. Nem se demorou muito tempo nas compras. Não fui a estabelecimentos de restauração na região por isso não sei como é que está a situação nesses locais.
Naturalmente que 2020 é um ano atípico mas eu também não tenho termo de comparação porque nunca tinha ido ao Algarve em Agosto.
Em suma, gostei muito destes meus dias no Algarve em que conheci locais que não conhecia mas em que também descansei bastante. Presumo que o facto de ter passado grande parte do tempo numa aldeia perdida na serra contribuíu para tornar a experiência mais agradável. Ficou ainda muito por explorar como as praias fluviais que existem naquela zona. Assim já tenho desculpas para voltar.
Continuo a achar falta de imaginação só conhecer o caminho para o Algarve quando temos um país tão bonito e tão diverso com recantos maravilhosos para descobrir mas começo a compreender o encanto da nossa região mais a sul.
Agosto rimou, quase sempre, com férias. Em miúda era nesse mês que rumava ao Alentejo para passar as férias na casa da minha avó. Que saudades do tempo em que podia dormir a sesta e não queria! Enquanto estive na faculdade, as férias mantiveram-se em Agosto porque era o único mês em que não havia qualquer actividade. Quando comecei a trabalhar, tirei férias noutras alturas do ano porque Agosto era reservado à patroa. Com o avançar dos anos, ela deixou de se ausentar nessa altura e, por coincidência, eu conheci o A. e voltei à interrupção do trabalho neste mês. E isso acontece há 11 anos, sensivelmente porque no ano em que conheci o A. já não consegui alterar as férias. Desde 2009 que, nesta altura, ou estou em viagem ou estou excitadíssima com os preparativos para mais uma aventura.
Neste estranho ano de 2020 não acontece uma coisa nem outra e isso faz-me duvidar quando olho para o calendário. Na próxima quinzena não vou trabalhar efectivamente mas os dias devem ser passados por casa. Embora já se possa viajar, não me arrisco a tal. E como há alguns problemas de saúde para resolver, os dias de descanso servirão para se equilibrar esses problemas. Espero conseguir pôr as leituras em dia e talvez escrever mais.
Este mês de Agosto será tão invulgar que sinto que estou a viver uma realidade alternativa e ainda vou acordar para perceber que isto tudo foi só imaginação da minha cabeça. Ou talvez não.
Há pouco fui beber um café a uma esplanada. Parece uma actividade sem grande história, não é verdade? Acontece que deve ter sido a segunda vez que tomei café fora de casa desde meados de Março (quando começou o estado de emergência). Cumpri todas as recomendações das autoridades de saúde mas mesmo assim, em vez de ter prazer em estar ali, fiquei em stress. Numa mesa próxima vi cerca de 7 pessoas a tomar o pequeno-almoço numa mesa com capacidade para 4 pessoas, numa situação normal. Não me pareceu que fizessem parte do mesmo agregado familiar. Afastei-me o mais possível de tal grupo.
Levei comigo uma revista e escolhi para ler um artigo sobre as sequelas, para a saúde futura, da covid-19. Isso também não ajudou à descontracção. Obviamente, que fiquei lá o mínimo tempo indispensável para beber o café.
O bairro onde cresci desenvolveu-se em redor do posto de abastecimento de combustível que é o estabelecimento mais antigo daquela zona. Há uns anos, este posto sofreu uma grande remodelação para se transformar numa loja muito conhecida desta área dos combustíveis, sabem qual é? O nome começa por "T" e acaba em "angerina".
Ontem, enquanto pagava, recuei cerca de 40 anos até aos anos 70/80 e encontrei a criança que fui naquele mesmo lugar. Na minha memória surgiram as mesas de fórmica, o balcão frigorífico onde se perfilhavam garrafas de sumol e leite ucal, a vitrine dos bolos, o colorido dos rebuçados avulso e dos chupa-chupas.
Era ali, no café da bomba, que o meu pai me comprava rebuçados "bola de neve" e a minha avó me comprava aqueles pequeninos pacotes com 4/5 bolachas maria no dia em que regressava a casa depois de nos fazer uma visita.
Nunca a menina que fui imaginaria que, um dia, iria estar ali a abastecer o carro, pagando com cartão multibanco* e utilizando uma aplicação no smartphone** para obter desconto.
Às vezes ainda me sinto aquela menina tímida e desajeitada e nem acredito que já passaram tantos anos. Algumas destas memórias ainda estão tão nítidas na minha cabeça. Só que o mundo evoluiu tanto desde a minha infância.
*O cartão multibanco foi introduzida em Portugal em 1985 mas os terminais de pagamento automático só existem desde 1987.
**Os telemóveis começaram a ser comercializados em 1983 e os primeiros smartphones apareceram no mercado em 2007.
Já estamos na 2a metade do ano e lembrei-me de ir à procura de alguma lista de desejos que pudesse ter feito no início do ano. E encontrei esta imagem
Tenho a dizer que o ano de 2020 está a ser muito diferente daquilo que eu imaginei quando escrevi esta lista. Não só por causa da maldita pandemia mas pelas rasteiras que a vida nos pregou nos últimos dias.