Acidente com medicamento português
Nos últimos dias tem sido notícia um acidente que aconteceu num ensaio clínico que decorria em França envolvendo um medicamento desenvolvido pelo mais importante laboratório português, BIAL. Ontem soube-se que o doente em morte cerebral tinha acabado por falecer. Este infeliz acontecimento chamou a atenção para os ensaios clínicos. Ninguém se lembra, quando toma um simples analgésico ou um medicamento para uma patologia grave, que, para ele chegar a ser comercializado, teve que ser testado exaustivamente. Desses testes fizeram parte inúmeros voluntários sãos. Sem eles nunca seria possível chegar às fases em que se testa os medicamentos em indíviduos doentes.É nos voluntários sãos que se testam os efeitos adversos. Para chegar a esta fase, a chamada fase I, as moléculas foram testadas em modelos laboratoriais e depois em animais. Só depois é que se testa em humanos. Desde que se desenvolve uma molécula até chegar à experimentação em humanos vão muitos anos. E muitos mais até que essa molécula seja transformada num medicamento comercializado. Há moléculas que são investigadas mas que ficam pelo caminho por uma ou outra razão. Não é suposto que um ensaio clínico de fase I tenha um resultado destes. É preciso apurar responsabilidades, se o problema está no medicamento em si, se está na dose (ao que se sabe estes voluntários receberam uma dose superior aos anteriores), se está na concepção do ensaio ou na selecção dos voluntários. Espero, sinceramente, que se venha a perceber o que se passou para podermos continuar a confiar nos medicamentos que tomamos.
Uma palavra de agradecimento a todos os voluntários sãos ou doentes que colaboraram em inúmeros ensaios ao longo dos anos e que contribuíram para que todos nós tenhamos acesso a medicamento eficazes e seguros.
Nota: A BIAL é um dos mais conceituados laboratórios portugueses; já não há muitos; tendo intervenção pública e social já que patrocina o Museu da Presidência da República Portuguesa, por exemplo. Os laboratórios BIAL fundaram a Fundação BIAL, em conjunto com o Conselho de Reitores das Universidade Portuguesas, com o objectivo de incentivar o estudo científico do ser humano. A Fundação atribuí o Prémio BIAL que premeia a investigação básica e clínica e atribuí bolsas de investigação científica no âmbito do estudo neurofisiológico e mental do ser humano.