Adeus, Dona P.
Uma das piores consequências do passar dos anos é que vamos vendo partir pessoas que fazem parte das nossas memórias. Foi o que aconteceu ontem. Recebi a notícia da morte da mãe de uma das minhas amigas da faculdade. Uma mulher divertida e cheia de vida é a imagem que eu guardo dela. Muitas vezes me recebeu na sua casa já que ficava lá, algumas vezes, quando dormia em Lisboa. E recebia-me sempre, a mim e às outras colegas do grupo, com muita alegria. A sua gargalhada é inesquecível. Fazia um casal giríssimo com o pai da minha amiga, ela muito faladora e animada e ele sempre muito calmo e tranquilo. Como havia outra colega com o mesmo nome que eu, ela chamava-me "a S. das belas pernas" (há 20 anos era verdade!) porque eu usava muitas saias curtas.
Depois de terminarmos a faculdade, ainda nos fomos cruzando, nos casamentos, baptizados e aniversários. Era possível ficar séria ao pé dela, era a alma da festa e da brincadeira. A bebida preferida da Dona P. era um bom e fresco vinho branco que ela bebia sempre. Nessas alturas, quando o vinho branco passava um bocadinho da conta, dizia outra frase muito típica: "Nunca viste uma preta bêbeda, pois não?" só para provocar as nossas gargalhadas.
A Dona P. partiu mas eu ergo um copo de vinho branco bem gelado em honra dela. A melhor maneira de a homenagear é com alegria e não com lágrimas. Um dia, ainda vou conhecer a sua terra, São Tomé e Princípe.
Espero que Deus a tenha recebido de braços abertos e que, neste momento, a Dona P. tenha posto o paraíso a rir à gargalhada.