Ai, Lisboa, Lisboa minha
Ontem à noite fui, mais uma vez, a Lisboa para assistir a uma conferência. O local é mesmo no centro de Lisboa, perto do Chiado. Era uma noite a meio da semana, relembro. E as ruad estavam cheias, cheias de pessoas. Imagino que a grande maioria seriam turistas. Já aqui falei deste assunto. Lisboa foi completa e exageradamente invadida. Acredito que este movimento será positivo para os operadores económicos da área do turismo mas tudo o que é demais...
Já não reconheço a cidade dos meus tempos da faculdade. É verdade que passaram 20 anos e que, em certos aspectos, Lisboa está francamente melhor. Infelizmente são cada vez menos os portugueses e os lisboetas que usufruem dela.
Nesse tempo longínquo em que eu ia todos os dias para Lisboa, haveria muitos comerciantes locais em dificuldades. Poderia-se pensar que agora estariam todos esses negócios antigos, alguns centenários, a prosperar. Mas, ao que parece, há cada vez mais lojas históricas a fechar. Uma das próximas a fechar é a icónica Pastelaria Suiça no Rossio. A Pastelaria Suiça é quase centenária já que foi fundada em 1922. Segundo parece, todo o quarteirão onde se situa a referida pastelaria foi comprado por um fundo imobiliário. Não acredito que este estabelecimento estivesse a ter prejuízo. Se estava sempre cheia antes, agora com tanta gente pelas ruas, deveria estar a abarrotar. Os preços não eram muito convidativos para a carteira de muitos portugueses, é uma verdade, mas já se sabe que há que pagar o enquadramento. Quando tomamos um café ou uma refeição com vista para o mar também se paga mais. Não será o único estabelecimento de Lisboa a fechar portas mesmo com a aprovação pela Câmara de mais 44 lojas classificadas como "Lojas com história" o que lhes confere uma maior defesa contra o encerramento. Mas há factores que não se conseguem ultrapassar. Se os proprietários já não quiserem continuar, por exemplo, pouco se pode fazer.
Na altura das Marchas Populares, também foi dito que a maioria dos participantes já não moram nos bairros típicos pelos quais concorrem. Também em Alfama fechará a última mercearia típica que ainda resiste. O prédio está degradado, é certo mas foi comprado, adivinhem lá, por um estrangeiro.
Dentro de pouco, Lisboa perderá tudo o que é típico, perderá a sua principal riqueza, os lisboetas, perderá os turistas porque se tornará numa cidade igual a todas as outras. Acontecerá a tal gentrificação, esse palavrão que entrou no nosso vocabulário.
Lisboa já começa a deixar de ser a minha cidade.