Com lentes cor de rosa
Aqui há dias um antigo colega da escola publicou 2 fotografias da nossa turma do 9º ano. Foi muito giro e emocionante descobrir aquelas imagens com quase 28 anos. Nem me lembrava que existiam nem tão pouco me recordava daquela ocasião ter acontecido. Alguns colegas já nem sei como se chamam e da professora também não me lembro do nome. Lembro-me bem dela já que foi minha professora em 2 anos seguidos, lembro-me da interacção com ela, lembro de que tipo de pessoa era, lembro de ir jantar à casa dela com outros colegas, lembro-me de tudo mas o nome está escondido nos recantos da minha memória. No entanto, a alcunha dela é inesquecível "A sargento". Impressionantes as partidas que a memória nos prega. O nono foi um ano lectivo muito particular. Foi o pior ano da minha vida porque perdi o meu pai logo na primeira semana (dia 9 completam-se 28 anos sobre esse acontecimento marcante e preponderante). A revolta que senti, a pergunta "porquê a mim?" repetida tantas vezes, somada à adolescência tornaram esse ano muito negro. Ainda por cima a turma era nova, tinha deixado as minhas melhores amigas dos anos anteriores. Valeu-me, apesar de tudo, o poder das novas amizades, principalmente a de uma outra rapariga que perdera a mãe uns anos antes. Essa pessoa faz parte da minha vida até hoje mesmo que, agora, nos encontremos muito pouco. Também foi no nono que eu aprendi a ser mais humilde. Até essa altura estava convencida que era muito boa aluna, a melhor. E fui nas turmas anteriores mas esta turma era muito mais equilibrada e havia outro aluno melhor do que eu. Foi o meu maior rival. Enquanto encarei os testes com esse sentimento de rivalidade, os resultados nem sempre foram os que eu queria. A dada altura aceitei a realidade e comecei a estudar para dar o meu melhor. Assim correu tudo de maneira diferente. Umas vezes o melhor era ele, outras vezes era eu.
Aquela publicação trouxe-me inúmeras recordações. Fui ler o meu antigo diário, lembrei-me das paixões "assolapadas" e platónicas dessa altura, lembrei-me dos sonhos e da ingenuidade com que eu olhava a vida... com lentes cor de rosa. Porque, apesar da morte do meu pai, eu continuei a ter uma visão cor de rosa do mundo. A publicação do PF fez-me olhar para dentro e perguntar-me onde está essa miúda sonhadora e ingénua. Ainda faz parte de mim? Ainda a guardo cá dentro ou perdi-a pelo caminho?