Desespero, morte, vidas interrompidas
No início desta semana, aconteceu mais uma tragédia envolvendo crianças. Ao que tudo indica, uma mulher ter-se-á atirado ao rio com as 2 filhas. A mulher acabou por sair da água em desespero gritando que as filhas estavam na água. A mais nova foi retirada da água e foi sujeita a manobras de reanimação mas sem sucesso. No momento em que escrevo este post, ainda não tinha sido encontrado o corpo da mais velhinha.
Ao longo da semana foram-se percebendo mais pormenores. A família já estava sinalizada na CPCJ (Comissão de Protecção de Crianças e Jovens) e havia um processo de investigação, desde Novembro, por suspeita de violência doméstica e abuso sexual por parte do pai das crianças.
Estas situações de crianças sinalizadas pela CPCJ e que acabam em desgraça já são recorrentes. Os processos são demorados e, muitas vezes, não se resolvem em tempo útil. A comunicação social, e consequentemente, a opinião pública culpa a inoperância do Estado por estes acontecimentos. E, na verdade, fica sempre a suspeita de que as autoridades não fizeram tudo o que podiam ter feito por estas crianças. E um Estado que não consegue defender os mais indefesos é um Estado com problemas de funcionamento. No entanto, toda a sociedade pode ser responsabilizada. Será que os restantes familiares, os amigos, as pessoas que rodeavam esta família fizeram tudo o que podiam?! Quantas vezes é que nós viramos a cara para o lado para fazer de conta que não vemos situações de violência doméstica?! Passamos os dias a olhar para o nosso umbigo e não vemos o que se passa à nossa volta. Não olhamos os outros nos olhos. Será que ninguém percebeu que esta mulher estava desesperada e perturbada? Esta mulher não encontrou ajuda quando a procurou ao fazer queixa do ex-companheiro e isso levou ao desespero. Só uma mãe muito perturbada e sem soluções é que comete um acto destes, caminhar para a morte e levar as pobres crianças com ela. Ela sobreviveu mas, imagino, que nestes últimos dias ela desejou, mais do que nunca, morrer.