Dia-a-dia num país em alerta.
Eu bem queria falar de outra coisa mas é incontornável. Ontem tive o dia de trabalho mais estranho destes 20 anos que já levo de experiência. A minha postura sempre foi de proximidade com os utentes por isso a distância necessária é-me especialmente dolorosa. Comecei o dia com máscara mas felizmente, pela hora do almoço, foram instaladas protecções de acrílico nos balcões da farmácia. É melhor do que usar a máscara mas ainda assim é uma situação muito estranha. Entre cada atendimento, desinfectamos as mãos, os multibancos e as superfícies. A pele das minhas mãos está mais que seca.
Mesmo com tanta informação, ainda tive que chamar a atenção porque as pessoas não respeitava o distanciamento social, porque se encostavam ao balcão da farmácia, estavam de luvas e mexiam na cara ou na máscara. Ou porque são idosos e continuam a vir à farmácia, todos os dias, em vez de ficarem em casa.
Alguns dos estabelecimentos da minha rua estão fechados. Há muito menos trânsito e menos pessoas na rua. Quase que não se ouve outro assunto nas conversas com que nos cruzamos. O cenário é quase apocalíptico. E isto ainda é só o início. Sinto que tenho que fazer um maior esforço para não me ir abaixo. Toda esta situação dá-me uma sensação de tristeza que nunca tinha sentido. Nem quero pensar como se sentem os profissionais de saúde que estão nos hospitais na linha da frente. Que Deus, ou a Ciência, nos ajude a todos; tudo depende daquilo em que acreditam.