Imperdoável
Ontem foi divulgado o relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa. Confesso que ainda não o li nem sei se o farei. Passei os olhos por aquilo que foi partilhado pelos meios de comunicação social.
Qualquer abuso sexual é chocante mas o abuso sexual de crianças e jovens no seio de uma instituição como a Igreja Católica incomoda-me particularmente. Em tempos tive inúmeras funções na minha paróquia e, embora me tenha afastado, continuo a acreditar em Deus bem como continue a simpatizar com a Igreja Católica. Que padres, ou outros membros da instituição, sejam capazes de cometer os actos hediondos descritos é humanamente imperdoável. Nem sei se estes monstros terão direito ao perdão de Deus. E o que dizer de outros padres ou superiores hierárquicos que tiveram conhecimento dos abusos e que incobriram? Como é que conseguem viver com a sua consciência?
Estas pessoas, como se os abusos físicos não fossem suficientes, ainda incutiram a culpa e a vergonha no coração das suas vítimas. Não só os manipularam fisicamente mas também psicologicamente a ponto de muitos terem escondido estas situações até aqui. Quantos terão chegado à vida adulta completamente destruídos? Quantos se terão suicidado? Quantos foram impedidos de viver uma vida plena, de amarem e serem amados?
Os casos validados constituem uma pequena amostra. A Comissão tem uma estimativa muito superior do número real de casos. Quero acreditar que a percentagem de membros da Igreja que são abusadores sejam diminuta (há muitos abusos perpetrados pela mesma pessoa) mas esta crença está a tornar-se cada vez mais difícil.
Por fim, quero salientar a coragem daqueles que foram capazes de contar a sua história. Que conflitos interiores e quantos fantasmas do passado tiveram que enfrentar para chegar aqui?!
A Igreja Católica tem a obrigação de fazer uma profunda reflexão sobre este assunto. Afinal, estas crianças, jovens e as suas famílias acreditavam que as instituições católicas eram lugares seguros mas o mal também vivia ali.