Os meus utentes não deixam de me surpreender
As noites de serviço são sempre fonte de inspiração. As pessoas que vão à farmácia a altas horas são, quase sempre, muito sui generis. Esta semana voltou a acontecer uma situação que já é recorrente. Já deviam ser quase 2 h da manhã. Tocam à campainha. Era um casal jovem. O rapaz entra decididamente e a miúda fica timidamente junto à porta entreaberta.
O diálogo foi mais ou menos este:
- Era um medicamento para a tosse seca.
- E há quantos dias tem tosse?
Ar atrapalhado e:
- Uns 2 dias.
Eu continuo a indagar se há outros sintomas para perceber se a tosse está no início ou não. Explico porque é que estou a fazer tantas perguntas mas o rapaz não sabe responder até que diz:
- O medicamento é para ela - e aponta para a jovem tímida.
- Ah, sim? Então diga-me lá há quanto tempo tem tosse?
- Há 1 semana.
Perante esta resposta lá decido que medicamento dispensar.
Vou buscar o medicamento e explico como se toma. Diz o rapaz:
- Olhe já agora, é uma caixa de preservativos.
Basicamente, a razão inicial para vir à farmácia de serviço são os preservativos mas, muitas vezes, as pessoas pedem outras coisas para que fique a ideia de que se lembraram dos preservativos por acaso.
É muito frequente, principalmente entre os jovens, não pedirem logo os preservativos. Umas vezes são pastilhas para a garganta e preservativos. Ou uma caixa de Ben-u-ron e preservativos.
Jovens, não precisam de ter vergonha. Para um/a farmacêutico/a não tem nada de anormal vender uma caixa de preservativos. Não tem mal nenhum precisarem desse artigo. Até é bom sinal. É sinal de sabem prevenir uma gravidez indesejada ou a transmissão de doenças sexxualmente transmissíveis. É sinal de que são cidadãos responsáveis e não se deve ter vergonha disso.