Pensar a solidariedade
Nas redes sociais, nomeadamente no Instagram, têm sido inúmeras as publicações sobre as várias campanhas de solidariedade para com a Ucrânia e para com os refugiados. Muitos influenciadores têm-se desdobrado participando nestas campanhas. A recolha de bens, muitas vezes organizadas pelas comunidades ucranianas que residem em Portugal, têm-se espalhado por todo o país.
Nos primeiros dias, também eu senti vontade de participar doando alguns artigos de primeira necessidade mas acabei por não o fazer. A minha ideia inicial modificou-se depois de ler alguns posts de quem já está ligado a ONG's há muitos anos. Pensem comigo, já imaginaram quanto custa enviar tantas toneladas de bens recolhidos para as fronteiras com a Ucrânia? São quase 4000 km. E será que a chegada destes artigos não irá atrapalhar em vez de ajudar? Não será mais equilibrado fazer um donativo em dinheiro para as instituições que já estão no terreno? O dinheiro permite que se adquira os bens mais próximos dos locais onde são necessários. Para quem tem receio de fazer donativos em dinheiro por tantas histórias de fraudes, a melhor opção é escolher uma instituição fidedigna e acima de qualquer suspeita como a UNICEF, por exemplo. Foi o que eu fiz.
Um dos pormenores que tenho visto discutido nas redes sociais é o facto de as pessoas se estarem a mobilizar para ajudar a população ucraniana mas não se preocuparem em ajudar as vítimas de todos os outros conflitos que continuam activos como o Afeganistão, a Síria ou a Palestina. Porque será que isso acontece? Provavelmente porque esta guerra está mais próxima de nós e porque já estamos a ser prejudicados a nível económico. Ou será que estes refugiados são mais "bonitos" do que aqueles que, nis últimos, têm arriscado a vida na travessia do Mediterrâneo e por isso somos mais empáticos? A conclusão que eu tiro é que somos, apenas, humanos. Se as imagens nos entram pela casa dentro, só se tivermos um coração de pedra é que não nos comovemos. Afinal, eu própria só me comecei a preocupar com os atentados quando começaram a acontecer na Europa. Temos que admitir que a Comunicação Social muito contribuí para estas reacções.
O ideal é começarmos a olhar para tudo isto com sentido crítico e percebermos que, em todo o Mundo, e também em Portugal, há pessoas de todas as idades em risco e a precisar de ajuda. Se calhar, teremos que pensar se está nas nossas possibilidades ajudar, seja no estrangeiro seja mesmo cá em Portugal, e escolher uma instituição para contribuirmos pontual ou regularmente. E percebermos que a solidariedade não é sobre nós mas sobre os outros, os que precisam.