Portugueses de segunda
Acabei de ver esta reportagem na TVI. Já sabia que as pessoas que vivem no interior do país passam por muitas dificuldades no acesso aos serviços de saúde. Mas uma coisa é saber, outra bem diferente é "conhecer" os casos concretos e ver os rostos de algumas das pessoas que passam por esses problemas. Não sei se sabem mas os medicamentos para tratamento de doenças muito graves, como cancro, HIV, esclerose múltipla entre outras, são, apenas, dispensados a nível hospitalar. Os doentes têm que se deslocar, frequentemente, ao hospital para levantar a medicação. Nos últimos anos, devido às contingências financeiras, não costuma ser possível levantar os medicamentos para muito tempo. Se residirem nos arredores das grandes cidades, poderá não representar uma despesa assim tão grande mas para quem vive a mais de 200 km torna-se complicado e dispendioso ir levantar aquela medicação essencial.
Há 3 anos, foi feito um protocolo entre a ANF, enquanto representante das farmácias, e o governo no sentido de se realizar um ensaio-piloto para avaliar as vantagens de dispensar a medicação hospitalar nas farmácias comunitárias. A primeira terapêutica a ser distribuída desta maneira foi a terapêutica anti-retrovírica.
A farmácia onde trabalho tem feito parte deste ensaio-piloto. Quando eu e a directora técnica conversámos sobre isso, achámos que era importante entrar no ensaio porque acreditámos que os resultados obtidos poderiam ajudar a vida de todas as pessoas do país que precisam da medicação hospitalar. Por isso, ainda me doeu mais ver a realidade destas pessoas que vivem a centenas de kms do hospital. Ao fim de 3 anos, este serviço ainda não foi alargado ao resto do país nem a outras patologias para além do HIV. Sinto-me defraudada. Não foi para que esta medida ficasse no papel que nós embarcámos neste projecto. Se não servir para melhorar a vida de mais pessoas, o nosso trabalho foi desperdiçado.