Já estamos na 2a metade do ano e lembrei-me de ir à procura de alguma lista de desejos que pudesse ter feito no início do ano. E encontrei esta imagem
Tenho a dizer que o ano de 2020 está a ser muito diferente daquilo que eu imaginei quando escrevi esta lista. Não só por causa da maldita pandemia mas pelas rasteiras que a vida nos pregou nos últimos dias.
Actualmente, a farmácia onde trabalho funciona com 2 turnos. A ideia é salvaguardar o funcionamento da farmácia no caso de algum dos elementos ser contagiado pelo coronavírus. Também tem a grande vantagem de permitir que tenhamos mais algumas horas de descanso. E que falta que faz o descanso. Acontece que eu estou fartinha das pessoas que entram na farmácia. Mas mesmo farta.
Com tanta informação, é impressionante como as pessoas continuam a não se saber comportar perante a situação que vivemos. Senão vejamos:
Continuam a tossir para as mãos
Não respeitam as distâncias, apesar das marcações no chão
Apesar de os expositores estarem "bloqueados" com fitas vermelhas e brancas, continuam a mexer nos produtos expostos
Encostam-se aos balcões obrigando-me a gastar álcool e mais álcool para higienizar a superfície
Pousam telemóveis e carteiras nos balcões o que me leva a gastar mais álcool
Os idosos vão quase todos os dias à farmácia para comprar 1 qualquer caixinha quando deveriam ir só uma vez por semana (ou pedir a alguém) e comprar tudo de uma vez
Querem por querem comprar máscaras - especialmente depois da conferência de imprensa de ontem - mas depois não as sabem usar e passam o tempo a mexer na dita
Não há paciência que aguente.
Há dias em que é muito difícil acreditar que "vai ficar tudo bem".
Mas depois descansa-se, lê-se, cozinha-se, faz-se bolos, ouve-se música e acumula-se energia - e paciência - para voltar ao trabalho.
Ontem meti o pé na argola, forte e feio. Fiquei mesmo incomodada com o sucedido. Espero que ninguém se ofenda com o que eu vou contar porque foi mesmo, mesmo sem intenção. Vou tentar explicar. Eu gabo-me de ser uma pessoa tolerante e respeitadora do direito que as pessoas têm de ser diferentes seja no que diz respeito a convicções políticas, religiosas, clubistícas ou orientação sexual. No entanto, uso, frequentemente, uma palavra que pode ser considerada ofensiva que é "mariquices" em frases como "deixa-te de mariquices" ou "não precisa de ter essas mariquices todas". Estão a ver o que quero dizer?
Então ontem estava a comprar algum material para enfeitar o meu travel book. Quem me estava a atender era um rapaz que eu sei (com uma certeza de 99%) que é homossexual. Então não é que eu digo para o rapaz "não precisa de ter essas mariquices". Ele ficou calado durante uns segundos e eu, quando caí em mim, fiquei para morrer. Fiz-me de parva e continuei a falar. Mas fiquei tão aflita. Daqui para a frente vou fazer o propósito de não usar essa expressão. Nem que tenha que morder a língua.
Agora venha de lá a pancada virtual porque eu mereço.
Há um programa na SIC Radical que se chama Irritações. É um programa em que os participantes falam do que os irritou na última semana. Hoje também me deu vontade de falar do que me tem irritado.Assim como hoje é domingo, de um fim-de-semana prolongado, se disser algo que possa escandalizar alguém, ninguém dá por isso e eu posso desabafar à vontade.
Primeira situação: A empresa onde trabalho foi vítima de um espécie de "cyberbulling" no Facebook. Um grupo de pessoas com mobilidade reduzida considerou que a empresa não cumpria a legislação no que diz respeito à acessibilidade. Então o que é que fizeram? Dirigiram-se ao responsável e chamaram a atenção para o problema? Não, nem pensar. Publicaram no Facebook, com fotografias e com comentários extremamente desagradáveis gerando, como seria de esperar, comentários ainda mais desagradáveis. Talvez até tivessem razão mas publicar no Facebook e apelar ao vandalismo não me parece a melhor solução. O que parece é que estas pessoas, que tem todo o direito de defender os seus direitos, já não sabem resolver os problemas de outro modo, sem armarem escarcéu nas redes sociais.
Segunda situação: Aconteceu-me no supermercado. Estava na fila para pagar e nem tinha reparado que estava na caixa de prioridade. Chega uma jovem acompanhada com uma criança de uns 2 anos e uma bebé no "ovo" de transporte. E com o marido. Eu desvio-me e digo-lhe para avançar. Até aqui tudo normal. O que eu não acho normal é que a pessoa nem se tenha dignado a agradecer. Por mais que seja um direito dela em passar à frente e um dever meu facilitar, não custa nada ser cordial e agradecer. Para além disso, também acho discutível que se ceda a prioridade quando há 1 criança e 2 ou 3 adultos com a criança. Obviamente que se uma mãe ou um pai vai ao supermercado sozinho com os filhos pequenos é mais do que legítimo que use a prioridade. Agora a utilização destas caixas quando não estão sozinhos... não poderia ficar 1 deles com as crianças no carro enquanto o outro pagava?! É que já não é a primeira vez que me acontece ceder a prioridade por causa das crianças e depois aparecer a família toda para passar à frente. Parece-me um claro aproveitamento daquilo que é um direito. Mães, pais e avós deste país organizem-se melhor nas idas ao supermercado e não prejudiquem a vida dos outros quando tal não seja estritamente necessário, Por favor.
E agora, que já incomodei as pessoas de mobilidade reduzida e os pais de crianças de colo, vou-me deitar. Bom fim-de-semana.
Eu digo, muitas vezes, que sou muito feliz no meu trabalho. E é verdade na maior parte dos dias. Hoje não me senti assim muito feliz. Trabalhar com pessoas e para as pessoa é exigente e esgotante. Trabalhar numa equipa pequena constituída apenas por mulheres é um grande desafio. Tão depressa somos as melhores amigas do mundo e no minuto seguinte andamos às turras. Há dias em que parece que há uma bomba de hormonas prestes a rebentar. Nós, mulheres, somos muito pouco lineares. A nossa cabeça é mesmo um emaranhado novelo de razão e emoção. E até se podia achar que só uma mulher poderia compreender outra mulher mas, afinal, isso quase nunca acontece. E quando os valores não são os mesmos e quando o sentido de responsabilidade não é o mesmo, o choque é mesmo inevitável. Hoje foi um dia terrível e eu constatei que nem todas as pessoas estão na minha profissão com a mesma entrega e a mesma dedicação que eu. As pessoas não podem ser todas iguais, é verdade, mas o egocentrismo é um grande defeito especialmente quando vem de onde menos se espera. É válido que alguém realize os seus sonhos às custas do trabalho dos outros?!