Ontem à noite fiquei muito impressionada com uma reportagem sobre as meninas afegãs que voltaram a estar impedidas de frequentar a escola. O actual regime talibã só autoriza o ensino feminino até ao 6° ano. Os talibãs vão manter a interdição do acesso de raparigas ao ensino secundário, apesar da promessa do regime afegão de que as escolas voltariam a permitir, na 4a feira passada, o regresso das adolescentes às aulas. As meninas chegaram a dirigir-se aos estabelecimentos de ensino mas foram impedidas de lá permanecer.
O compromisso de proporcionar educação a todos e em todos os níveis fez parte do acordo para que o regime talibã recebesse ajuda humanitária. A actual situação foi justificada com a falta de professores, que fugiram do país aquando do regresso dos talibãs ao poder, bem como com tempo insuficiente para adequar as escolas à separação entre rapazes e raparigas e aos princípios islâmicos.
Esta questão da educação faz parte de uma ampla restrição dos direitos das mulheres no Afeganistão.
Quantos jovens, de ambos os sexos, haverá no nosso país que, tendo fácil acesso à educação, não o sabem aproveitar não usufruindo do ensino em toda a sua plenitude? As meninas afegãs choram porque as impedem de estudar e por aqui há tantos miúdos e miúdas que não dão devida importância à escola. Dá que pensar.
Desde há 2 dias que as redes sociais e os órgãos de comunicação social divulgam um video onde se percebe uma situação de bullying.
Um grupo de adolescentes regressa a casa a pé junto a uma estrada com algum movimento. A cena começa com uma adolescente a dar um murro no ombro de um rapaz. No início até parece uma brincadeira só que o jovem agredido começa a tentar afastar-se do grupo. A miúda, instigada pelo grupo começa a andar mais depressa para o apanhar. Os miúdos atravessam a estrada, uma primeira vez, sem incidentes e a cena continua. Ouve-se alguém dizer: "ele está a chorar". Uma única pessoa diz: "parem com isso". O miúdo, quando está a ser alcançado, foge para a estrada e é atropelado.
Pelo que se sabe, o adolescente está a recuperar. Aos pais só disse que a culpa tinha sido dele porque tinha atravessado sem olhar. Só quando o vídeo surgiu é que se percebeu o que se tinha passado já que, pelo que percebi, os outros miúdos desapareceram do local rapidamente.
O caso está a ser investigado e os pais já apresentaram queixa em tribunal. Como é habitual, as redes sociais incendiaram-se com comentários de ódio e violência contra a agressora e respectivos pais.
Bullying sempre existiu embora não se classificasse assim. Eu própria o sofri na pele. O que não havia era a partilha, quase imediata, destas cenas. Por um lado, ainda bem que estas situações vêm a público. É uma forma de acordar as consciências. Toda a sociedade, pais, professores, autoridades, governo e pessoas em geral, deveriam reflectir sobre que mundo estamos a construir. O que é que leva a que os jovens tenham necessidade de utilizar a violência como forma de afirmação? Já não estamos nos anos 80 quando eu, a "nerd" da turma, era agredida, gozada e humilhada por uma colega mais velha. Nesse tempo, éramos instigados a aprender a defendermo-nos. Comigo isso não resultou muito porque foram poucas as vezes em que consegui reagir à estupidez da minha colega.
Todos os jovens intervenientes deveriam ser analisados a nível psicológico e deveriam ter apoio para se chegar à raiz do problema. Serão os videojogos, os filmes, as séries, os youtubers? Será falta de acompanhamento familiar ou no ambiente escolar? E porque há jovens que são tão inseguros que não conseguem enfrentar os outros seja de que fôr?
Para além dos comentários de ódio que já li, também há quem desvalorize e diga que foi uma brincadeira entre miúdos que podia ter acabado muito mal. Para mim, nem a miúda é um monstro nem se trata, apenas, de uma brincadeira. Este caso, bem como outros idênticos, tem que ser valorizado e analisado pelo que é, violência gratuita. Alguma coisa tem que ser feita. Os pais e as escolas terão que trabalhar em conjunto para prevenir a escalada de violência que as interacções entre os adolescentes podem atingir.
Uma das notícias de hoje foi a divulgação de um estudo da Fundação Belmiro de Azevedo (quantas fundações existem neste país?) que indica que os cursos superioriores reproduz as desigualdades sociais. Ou seja, os alunos de estratos sociais mais elevados frequentam cursos de maior prestígio e para os quais são necessárias notas mais elevadas. Os alunos com maiores dificuldades económicas não conseguem entrar nesses cursos e acabam por frequentar politécnicos. Não sei qual foi o método utilizado para chegar a esta conclusão nem se os resultados podem ser generalizados para todos os portugueses.
Este tipo de estudos irritam-me profundamente. Parece que estamos a dizet aos alunos mais carenciados que não vale a pena sonharem com um curso de Medicina ou de Engenharia porque nunca lá vão conseguir chegar. É destruir os sonhos das pessoas e convencê-las de que "quem nasceu lagartixa, nunca chegará a jacaré". Eu acredito que é possível lutar contra as circunstâncias se isso for a nossa vontade. Afinal, eu nasci numa família humilde, passei por dificuldades e fui bolseira mas consegui entrar num curso superior, numa faculdade da Universidade de Lisboa, e para o qual era preciso ter uma média alta (pelo menos na altura). Consegui subir alguns degraus na escada social porque a minha família sempre ensinou que estudar é muito importante mesmo que para isso seja preciso fazer sacrifícios. Foi assim que eu consegui e, na minha opinião, qualquer um pode conseguir realizar os seus sonhos. Basta esforçarem-se e superarem as dificuldades que vão surgindo.
Fiquei espantada com as notícias que davam conta de que o Governo pretende que as crianças aprendam a andar de bicicleta nas escolas. Esta medida faz parte da "Estratégia Nacional para a Mobilidade Ativa". Procurei várias notícias sobre este tema e encontrei várias como, por exemplo, no Público, Observador, ou no DN. Nesta última notícia, o secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade, José Mendes, vem esclarecer este tema dizendo: 《"não tem que entrar no currículo das escolas", nem faz "sentido criar uma disciplina para a bicicleta". O objetivo, explica, "é levar as bicicletas às escolas, com algo em torno das atividades circunsculares ou outras - há uma série de formatos possíveis".》.
Não fiquei muito convencida porque, do documento em questão, faz parte este ponto:
7.1.2. Incluir o ciclismo como matéria nuclear do currículo de educação física Sendo uma competência básica com múltiplas vantagens para o indivíduo e para a sociedade, todos os alunos terão a oportunidade de aprender a pedalar, num processo de formação faseado ao longo dos vários níveis de escolaridade, em perímetro delimitado e seguro (escola – 1º ciclo), mas também em espaço público (rodovia – 2º ciclo, 3º ciclo e secundário).
A mim parece-me que a intenção é mesmo ensinar, nas escolas, as crianças e os jovens a andar de bicicleta. Mas desde quando é que essa tarefa deixou de ser desempenhada pelos pais? Que modelo de família é que estamos a construir? Um modelo em que as famílias delegam na escola todas as suas funções?
Eu guardo com carinho, a memória das horas que o meu pai passou a ensinar a andar de bicicleta. Não foi uma tarefa fácil já que eu sempre fui desajeitada e tenha uma grande pontaria para o lancil do passeio. Mas, mesmo com alguma impaciência, não acredito que o meu pai tivesse preferido delegar essa tarefa noutra pessoa.
Se houver por ai professores do 1o ciclo, respondam-me a uma pergunta, por favor: Há quanto tempo se deixou de ensinar numeração romana? Eu explico a pergunta.
Esta manhã estava numa papelaria/livraria que pertence à empresa S**ae, não sei se estão a ver qual é, e dirigi-me ao balcão para pagar e fazer uma questão. Tinha na mão 2 volumes do romance "Guerra e Paz" de editoras diferentes e queria saber se tinham, em stock, os 2 volumes da mesma editora. Assim mostrei um dos volumes onde estava escrito (I de II) e a funcionária, aí pelos 20/30 anos, diz:
Acabei de sair da minha noite de serviço. Não é um trabalho fácil mas é imprescindível. Se a população precisa, as farmácias devem estar disponíveis. Agora é preciso ver que atrás do vidro está uma pessoa que podia estar em casa a dormir confortavelmente mas está ali, disponível para ajudar. Não é uma máquina. Esta introdução serve para relatar o que me irritou esta noite (também acontece nos atendimentos diurnos mas à noite devo estar mais susceptível):
Passava das 5 da manhã e tocam à campainha. Estou acordada a ler e não levo muito tempo a atender. Mesmo durante a noite de serviço, esforço-me para saudar e cumprimentar as pessoas com a mesma simpatia com que o faço durante o dia. Entra uma senhora na casa dos 40/50. Digo "Boa noite", do outro lado silêncio absoluto. Estende-me a receita continuando a não dizer palavra. Pergunto se quer NIF na factura, estende-me o cartão do cidadão sempre em silêncio. Começo-me a interrogar: "Se calhar é muda". Digo o valor e a personagem dá-me o dinheiro. Finalmente antes de sair digna-se a falar (não era muda). "Boa noite e obrigada". Vá lá, redimiu-se no fim.
É verdade que é o meu trabalho e que sou paga para o desempenhar da melhor maneira possível mas é assim tão difícil ser simpática para quem a atende?!
Que tipo de sociedade estamos a construir?!
P.S. - Felizmente atendi uma senhora mais velha que até me pediu desculpa por incomodar.
Ontem, no Jornal da Noite da SIC, foi, como todos os sábados, transmitido mais um programa "Perdidos e Achados". Desta vez o tema tocou-me directamente e fez-me regressar quase 30 anos. "Recordar a Telescola" assim era o título da reportagem. A Telescola foi um projecto educativo que pretendia fazer chegar o ensino do ciclo preparatório aos locais distantes onde não havia esse nível de ensino. As aulas eram transmitidas, em directo, pela televisão e os alunos assistiam numa sala de aula acompanhados de um monitor/professor. Só havia 2 monitores/professores por cada turma, um para as letras e outro para as ciências. Os conteúdos eram difundidos pela televisão mas na aula eram esclarecidas as dúvidas e, também, se faziam exercícios. A Telescola foi criada em 1964 porque o Estado Novo aumentou a escolaridade obrigatória para 6 anos e não havia as condições logísticas necessárias para fazer face a esta alteração. As emissões começaram em 1965. A Telescola teve o seu apogeu nos anos 70 e início dos anos 80. A meados dos anos 80 as emissões começaram a deixar de ser em directo e passaram a ser em cassetes VHS. A Telescola, que foi sofrendo muitas alterações nomeadamente a nível da designação, só foi extinta no ano lectivo de 2003/2004 tendo durado quase 40 anos.
Eu, apesar de ter crescido a cerca 50 kms de Lisboa, também estudei no 5º e 6º ano através da Telescola. Só havia Ciclo Preparatório na sede do concelho o que implicava a deslocação de crianças de 10/11 anos. Muitos poderão considerar que o ensino da Telescola era um ensino menor e pode-se pensar que quem lá andou ficou menos bem preparado do que os miúdos do Ciclo. Não posso concordar de maneira nenhuma. Quando acabei o 6º ano prossegui os meus estudos normalmente, desta vez já na sede do concelho, e tive sempre excelentes notas. Nunca me achei menos preparada por ter estudado de maneira diferente no 5º e 6º ano. Hoje em dia sou licenciada e trabalho há 15 anos na área que escolhi. A influência da Telescola na minha vida só pode ser considerada benéfica. Uma das recordações mais divertidas que tenho é o primeiro teste de francês em que uma das perguntas, sobre os ditongos em francês, era respondida depois de ouvir os sons transmitidos pela professora que estava na televisão.
A Telescola foi precursora das plataformas de ensino à distância (elearning) que são tão utilizadas agora. Vale a pena recordar uma boa ideia educativa que teve o seu tempo, foi benéfica para as populações do interior ou das localidades mais pequenas mas que, felizmente, hoje em dia já não fazia sentido existir. A Educação apresenta muitas falhas mas, pelo menos, chega a todos embora nem todos saibam aproveitar essa oportunidade.