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O Voo da Garça

Sonhos, desejos, opiniões, instantes da vida diária...

O Voo da Garça

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10
Jan22

Do Natal à Páscoa

Charneca em flor

Este fim de semana desmanchei a árvore de Natal da casa da aldeia. Este presentinho, enviado pela Fátima Bento com o seu postal de Natal, estava lá pendurado:

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Quando recebi uma sombrinha de chocolate, lembrei-me de uma história de família que me contaram em criança. Eu sempre fui muito gulosa e chocolate é uma das minhas perdições. Se há coisa a que eu nunca resisti foi a chocolates de natal. A minha mãe incomodava-se muito com esta minha característica e aproveitava para me contar uma história da sua infância. 

A minha mãe nasceu numa família humilde, nos anos 50, no Alentejo. A aldeia onde nasceu já não existe porque desapareceu para se construir uma barragem por isso os seus pais foram viver para outra zona do Alentejo. O meu avô passou grande parte da sua vida como guarda florestal num monte alentejano, propriedade de um latifundiário. Nessa época, as guloseimas não abundavam nem tão pouco os brinquedos. Num certo Natal, a minha mãe, ainda criança, recebeu uma sombrinha de chocolate o que, para ela, era um tesouro. Tão feliz ficou que guardou a guloseima desde o Natal até à Páscoa ao invés, como eu faria, de a comer assim que a teve nas mãos.  

A minha sorridente sombrinha de Natal também é uma preciosidade uma vez que veio de uma querida amiga virtual por isso decidi desafiar-me a mim própria. Vou seguir o poupado exemplo da minha mãe e guardar este chocolatinho até Páscoa. Veremos se sou capaz.

 

21
Mai20

Jorrará leite e mel

Charneca em flor

Ontem assinalou-se o Dia Mundial da Abelha. Lembrei-me de fazer uma publicação no Instagram alusiva ao tema. E escolhi um frasco de mel para o efeito. Sempre tive fácil e abundante acesso a mel caseiro. Quando era miúda quase todos os homens da família eram apicultores nas horas vagas; o meu avô paterno, o meu avô materno, o meu pai e o meu tio. Nessa altura não ligava muito a mel. Até chegava a dizer que não gostava. Acontecia mais ou menos como as nêsperas de que falei há dias embora a aversão a estas frutas fosse maior do que ao mel.

Depois, um a um, fui perdendo o meu avô paterno, o meu pai e por fim o meu avô materno. Só sobrou o meu tio J., verdadeiro apaixonado da apicultura. O mel deixou de ser tão abundante com antes. E foi nessa altura que eu comecei a apreciar este laborioso trabalho das abelhas.

O meu tio está a ficar mais idoso e tem inúmeros problemas de saúde. Não sei durante quanto tempo ainda vou ter a possibilidade de me deliciar com um chá adoçado com mel ou um bolo de mel tipicamente alentejano. E já lhe estou a sentir a falta. 

Mais uma prova de que não damos o real valor aquilo que temos em abundância. Só quando se torna mais escasso é que o apreciamos verdadeiramente.

08
Jun19

Parabéns, F.

Charneca em flor

Tenho um primo mais velho com o qual cresci. Não tenho irmãos por isso ele foi o mais próximo de um irmão que eu tive. Durante a adolescência não fomos assim tão próximos. Afinal 4 anos faz alguma diferente. Ele namorou muito tempo com uma pessoa detestável (pelo menos para mim). Quando essa relação acabou, estive ao seu lado pelo menos desde o momento em que ele decidiu sair de casa e voltar a viver. Começou a sair comigo e com os meus amigos. Foi uma época divertida. Felizmente ele encontrou a pessoa certa e acabou por casar. Nesse dia estive ao seu lado, ansiosa para que tudo corresse bem. A vida foi-nos afastando e falamos de tempos a tempos. Hoje faz 18 anos que foi pai. Muitos parabéns ao F. e aos seus pais. Ainda me lembro da 1a vez que tive o F. nos braços. Estava calor e ele era um bebé magro e comprido. Hoje já entra na vida adulta. Estou velha.

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03
Abr19

Ilusões desfeitas

Charneca em flor

Ontem à noite vi esta reportagem da TVI, no programa da Alexandra Borges, e posterior discussão na TVI24. Fiz uma pequena investigação e percebi que este esquema já existe há alguns anos uma vez que encontrei notícias idênticas já com algum tempo. O esquema consiste em angariar crianças e adolescentes para falsos castings com promessas de participações em telenovelas, publicidade ou anúncios. As famílias são levadas a pagar "cursos de formação" e books fotográficos sempre na ilusão de que os filhos tenham um papel numa qualquer série ou telenovela. Ora as pessoas gastam dinheiro nesses cursos e nos books e as oportunidades prometidas nunca surgem.

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Embora os grandes culpados sejam os burlões que se alimentam dos sonhos destes miúdos e das suas famílias, a verdade é que estes pais não foram muito atentos nem muito previdentes. Foram crédulos e deixaram que pessoas sem escrúpulos espezinhassem as ilusões dos filhos. E os pais devem ser os primeiros a defender e a proteger os filhos. Os pais devem mostrar aos filhos que se deve lutar pelos sonhos, sim, mas com estudo, com esforço, com trabalho. Não são cursos de meia dúzia de horas nuns fins de semana que preparam actores. Se o caminho parece muito fácil, se calhar é porque não é o caminho certo.

Na discussão que se seguiu à reportagem, estavam presentes 2 jovens actores da TVI, Lourenço Ortigão e Sofia Ribeiro, um advogado, um dono de uma agência de modelos e uma representante de uma agência que representa vários pequenos actores para além de 2 das mães burladas. Os profissionais sérios desta área deram excelentes conselhos sobre como as pessoas se podem defender destas burlas. 

Tal como não compreendo o que leva as pessoas adultas a participarem em reality shows, ainda compreendo menos os pais que permitem que os filhos se vejam envolvidos nestes esquemas. É pelos 5 minutos de fama? É para realizarem os sonhos dos filhos ou realizarem os seus próprios sonhos através dos filhos?

03
Fev19

Fim de semana em família

Charneca em flor

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A minha mãe tem 2 irmãos mais novos. Um tinha 20 anos e outro tinha 19 anos quando eu nasci. Quer um quer outro casaram tarde e viveram com a minha avó durante quase toda a vida. Foram uma presença constante na minha infância e na minha adolescência. Sou mais próxima do meu padrinho mas gosto muito de ambos. Tenho as mais doces recordações com eles. O meu tio J. chamava-me pirolito porque eu era a mais pequena da casa. Em miúda ansiava pela chegada deles ao fim da tarde porque adorava que me levassem a dar uma volta de mota. Sempre sem capacete porque nos anos 80 isso era um problema menor. Do  meu padrinho herdei o gosto pela leitura. Este fim de semana estivemos todos juntos. Foi tão bom mas tive tantas saudades daqueles tempos. A vida trouxe-nos outras pessoas e novas memórias mas sinto tanto a falta dos que já não estão cá. Tenho saudades da minha infância e do vigor e da juventude que a minha mãe e os meus tios tinham nesse tempo. 

25
Jan19

O licor do meu tio J.

Charneca em flor

IMG_20190124_224524.jpgOntem foi um dia muito esgotante. Quando me consegui sentar no sofá aproveitei para saborear este licor, Nocino. Foi feito pelo meu tio, e padrinho, J., o meu tio favorito (os outros também não lêem blogues, felizmente). O meu tio J. é uma pessoa brilhante que, pelas circunstâncias da vida, não teve oportunidade de estudar mas sempre se soube desenvolver intelectualmente e sempre foi uma pessoa muito curiosa. 

Este licor é de origem italiana e foi em Itália que ele aprendeu a fazê-lo com um italiano. Ao que parece, a execução segue um determinado esquema. Segundo a informação que o meu tio põe ali na etiqueta o licor leva os seguintes ingredientes: Nozes verdes, açucar, aguardente e especiarias. O que eu sempre achei engraçado foi a teoria de execução do nocino. Diz então o meu tio que o licor tem que ser feito com nozes verdes apanhadas na noite de São João e as nozes têm que ser e  número ímpar. Depois põem-se os ingredientes num recipiente largo, coloca-se ao sol e mexe-se todos os dias. Só não me lembro por quanto tempo se mantém o licor ao sol. E todos anos , na véspera de São João, lá vai o meu tio apanhar as nozes, em número ímpar.

Sempre gostava de saber o que aconteceria se as nozes forem em número par e apanhadas  numa outra noite qualquer. Seja como for, o resultado final é bem agradável.

 

06
Jan19

Diário da Gratidão #6

Charneca em flor

Os meus avós paternos tiveram 5 filhos, 2 raparigas primeiro e 3 rapazes depois. O meu pai era o mais novo e foi o primeiro a falecer. Já só restam a rapariga mais velha e o rapaz mais velho, o meu tio J.. Ele e o meu pai sempre foram muito próximos. Foi o meu tio que arranjou trabalho para o meu pai sair do Alentejo. O meu pai chegou a viver em casa dos meus tios. Cada um fez o seu percurso mas vivemos sempre perto do meu tio J.. Ele tem tido muitos problemas de saúde mas lá se tem aguentado. Na 6a feira fez mais uma cirurgia. Correu tudo bem até agora. E eu estou grata por isso.

17
Dez17

Blogmas 2017 - O Natal da minha infância

Charneca em flor

Já em posts anteriores aflorei um pouco das minhas memórias sobre os Natais da minha infância. Hoje vou mergulhar mais profundamente nessas recordações. Não é fácil por vários motivos. Primeiro porque houve um momento negro na minha vida que tornou todas as memórias anteriores mais difusas, a perda do meu pai. Para além disso também já me faltam também a minha avó e o meu avô, protagonistas dessas memórias. 

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As raízes da minha família estão no Alentejo mas eu cresci no Ribatejo. No Natal "íamos sempre à terra" passar a Consoada com a família da minha mãe. O meu pai era muito ligado à família da minha mãe, talvez por ter perdido a mãe dele muito cedo. Os meus avós adoravam-no. Os meus pais não tinham carro por isso lá iamos na "camionete da carreira" na véspera de Natal. Chegávamos perto da hora do jantar, habitualmente o típico bacalhau. A minha avó vivia numa casa pequena e humilde mas é desse espaço que guardo alguns dos melhores momentos da minha vida. A grande lareira/chaminé alentejana dominava a cozinha que era o centro da casa. No Inverno o lume acendia-se logo de manhã e alimentava-se o lume durante todo o dia. Na noite de Natal, como era o serão mais longo do ano, punha-se o maior madeiro que se encontrava para aguentar toda a noite.

Depois do jantar é que era divertido. A minha avó amassava as filhós (ou coscorões como se chamam noutras regiões) ou então já as tinha amassado antes. Chegava a altura de estender a massa e eu também gostava muito de participar. A cozinha da minha avó parecia uma linha de montagem, eu e a minha avó estendiamos (as minhas, invariavelmente, mais grossas) e a minha mãe fritava.  

O meu pai e o meu avô bebiam um bocadinho acima do normal. O efeito que lhes fazia é que era diferente. O meu avô sentava-se num mocho (o nome que se dá a uns bancos baixinhos que existem no Alentejo) na chaminé, encostava-se ao braço e dormitava de boca aberta. O meu pai dava-lhe para o disparate e convencia-me a fazer uma caricatura do meu avô com a massa das filhós. E a minha mãe lá fritava "o meu avô", coitado. 

Lembro-me mal dos presentes. Muitas vezes, roupa para estrear no dia seguinte, um cobertor, o livro da Abelha Maia ou um relógio, presente do meu padrinho que também morava nessa pequena casa. Não me lembro de ficar ansiosa com os presentes nem se pedia alguma coisa que nunca recebi. As coisas materiais não perduraram na minha memória. O que perdurou foram os momentos, os sorrisos, as gargalhadas, o amor que nos unia e o sabor das filhós da minha avó. Nunca mais comi outras iguais.

16
Dez17

Blogmas 2017 - Família

Charneca em flor

O Natal deveria ser uma época de harmonia e felicidade. Muitas vezes é precisamente o contrário. Seja porque o facto de as famílias passarem mais tempo juntas intensifica os conflitos latentes durante o ano ou seja porque as famílias não se entendem sobre como ou onde passar a consoada.

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Por exemplo, quando os filhos são pequenos vão para onde os pais forem mas quando crescem e constituem as suas próprias famílias é preciso ceder para manter a harmonia. Há quase sempre famílias com tradições mais vincadas do que outras. Infelizmente, isso é tantas vezes motivo de zangas e amuos que se arrastam durante muitos anos. E não deveria ser assim de todo porque se celebra o nascimento de Jesus. Para quem acredita, Jesus Cristo pregou o amor incondicional portanto no Natal também se celebra o amor incondicional. Amar sem medida implica deixar ir e não prender com amarras. Seja no Natal ou em qualquer outro dia do ano.

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