Não se pense que são só os meus utentes que dizem disparates como ficou patente neste post recente. Também a mim, e às minhas colegas, me saem disparates pela boca fora. Umas vezes são armadilhas de linguagem, outras vezes são sintomas de falta de filtro em aquilo que pensamos e aquilo que dizemos.
Senão vejamos este exemplo:
Aqui há dias entrou um delegado comercial de um laboratório que produz e comercializa contraceptivos hormonais nas apresentações orais e na forma de anel vaginal. Quando se dirigiu a mim, comentou que já não nos visitava há algum tempo porque tinha sido pai e tinha estado a usufruir da licença de paternidade. E qual foi a primeira coisa que eu disse? Não, não foi dar-lhe os parabéns. Saiu-me este disparate"
- Olha, afinal os contraceptivos não resultaram.
Claro que o resultado foi uma grande risota. Onde é que tinha a cabeça?
As noites de serviço são sempre inspiradoras. Senão atentem nas peripécias do último "plantão":
Situação 1 - Estaciona um reboque à porta com 2 ocupantes. Um deles toca para ser atendido.
- Olhe, era a pílula do dia seguinte. - e continua, rindo-se muito - veja lá que tive que vir de reboque comprar isso.
Devia estar à espera que eu também achasse graça à suposta piada. Porque é que comprar a pílula do dia seguinte é uma coisa engraçada?! Ou uma caixa de preservativos, por exemplo?! São coisas tão normais como uma caixa de aspirinas. Haja paciência.
Situação 2- Uma receita de um antibiótico para criança cujo frasco apresenta uma capacidade de 70 ml vem com uma posologia de 5 ml de 8 em 8 horas durante 7 dias. Ora fazendo uma conta simples chego à conclusão de que um frasco não é suficiente para o tratamento prescrito uma vez que só chegava para 4 dias completos. Explico à mãe da criança que resolve voltar ao hospital. Quando volta sai-se com esta tirada:
- A Sra tinha razão. A médica passou outra receita com mais um frasco.
Mas havia dúvidas de que eu tinha razão?!
E, como se isto não fosse já suficiente, às 2h da manhã faltou a luz devido a uma avaria que só ficou resolvida depois das 5h da manhã.
Quando visito a página de estatísticas do blogue, surge-me sempre uma interrogação. Porque é que o post "Comprimidos para piolhos?!" é o post mais pesquisado?
Acontece quase todos os dias e o post já tem 4 anos. E ainda continua a ter comentários. Há assim tantas pessoas/crianças com pediculose?!
Já se sabe que o meu trabalho é fértil em histórias levadas da breca. Num dia desta semana, a farmácia parecia um clube de striptease. Juro. Aconteceu com 2 senhoras já idosas.
A primeira não era nossa utente habitual. Quando a senhora chegou, e durante o atendimento, achei-a um bocadinho estranha. A dita utente era de estatura baixa e gordinha. Qual não é o meu espanto, quando vejo a saia da utente cair-lhe aos pés . A sorte é que parte de cima era uma túnica senão tinha sido cá um espetáculo . Ofereci ajuda mas, se calhar, já devia ser habitual acontecer aquilo à saia porque ela apanhou a saia com toda a desenvoltura. A situação foi caricata mas eu consegui não me desatar a rir no atendimento. É uma capacidade que tenho desenvolvido ao longo dos anos, manter-me impávida e serena e só desatar a rir na rectaguarda.
Nem 1 hora depois, atendi um casal. São utentes de há muitos anos. A senhora já apresenta alguma demência e o marido não tem muita paciência. Queriam mostrar as costas da senhora porque ela tinha umas manchas. Levei-os para o gabinete, como é óbvio. Depois de chegarmos à conclusão de qual seria o problema, eu voltei para o balcão e eles vieram atrás. Então não é que a senhora, já no espaço do atendimento, baixou as calças para entalar a camisa?
A conclusão que se tira é que as minhas utentes estão muito á-vontade com os seus corpos.
Ultimamente tenho andado mais atenta aos meus utentes. Ou então, tenho tido mais situações engraçadas.
Temos uma utente bastante idosa. Vamos chamá-la de D. Maria. Acho que já passa dos 90 anos. Não sabe ler mas é inteligentíssima. É impossível tentar iludi-la seja de que forma fôr. Ontem foi à farmácia regularizar um medicamento que tínhamos enviado através de uma vizinha. A D. Maria é de boas contas. Então a esse propósito diz-me o seguinte:
- Sabe, eu não sou como o maltez de bronze. Ganha cinco e gasta onze.
É caso para dizer, rima e devia ser verdade para toda a gente.