A União Europeia de Radiodifusão (UER), instituição constituída por organizações públicas e privadas de radiodifusão (rádio, televisão e multimédia), organiza, desde 1956, o maior evento musical do mundo, o Festival Eurovisão da Canção.
A UER pretende que este seja um evento onde se exalta a música e, supostamente, sem qualquer conotação política. Todos se devem lembrar do incidente criado, em 2017, pelo nosso único vencedor, Salvador Sobral, ao envergar uma tshirt onde se lia a mensagem "S.O.S Refugees" numa das conferências de imprensa. Ora se há coisa que o Festival Eurovisão da Canção não deixa de ser é um evento onde a geopolítica adquire um peso substancial ao contrário do que a organização alega. E este ano isso ficou provado mais uma vez. Primeiro que tudo pela posição titubeante em relação à participação da Rússia no Festival que acabou por não acontecer mas que, num primeiro momento, chegou a ser afirmado que não havia razões para que a Rússia não participasse. Por outro lado, na votação dos júris dos países, há nitidamente uma votação por proximidade geográfica (menos no que diz respeito à Espanha em relação a Portugal). Já ninguém se surpreende com os 12 pontos da Croácia à Sérvia ou de Malta à Grécia.
O vencedor, já anunciado há semanas nas casas de apostas, foi a Ucrânia. Pelo voto dos júris dos países, os Kalush Orchestra ocupavam o 4o lugar mas o público votou de forma esmagadora na Ucrânia. Por mais que a música possa ser interessante, haveria canções melhores com toda a certeza. Para esta votação contribuiu, obviamente, a situação de guerra que se vive no país. Esta vitória criou um enorme problema à UER. O país vencedor tem a tarefa de organizar o Festival no ano seguinte. Ninguém garante que, daqui a um ano, estejam reunidas as condições de segurança para realizar um evento desta dimensão.
Quanto a mim, e tendo em conta que este nem foi o ano que segui o Festival com mais atenção, não gostei muito da música quando a ouvi pela primeira vez mas, agora, até já começo a gostar dela. Para quem ainda não ouviu, aqui está
Este vídeo foi filmado nas cidades ucranianas destruídas na sequência da invasão russa.
Ontem os chefes do governo da Polónia, da República Checa e da Eslovénia deslocaram-se, de comboio, até Kiev para se reunirem com o Presidente Zelensky.
Apesar de estes 3 países pertencerem ao Conselho Europeu, o que os torna representantes da União Europeia em todas as ocasiões, não havia um mandato oficial do Conselho.
Eu considero que a União Europeia deve manter o apoio, principalmente humanitário, à Ucrânia e também não me choca que forneçam material que permita ao país defender-se desta invasão ilegal. No entanto, acho discutível que se esteja a analisar a possível adesão à União Europeia perante a situação actual da Ucrânia. Não é o momento porque é impossível que o país cumpra todos os requisitos necessários à adesão.
Por outro lado, o Presidente Zelensky já admitiu que a Ucrânia não poderá aderir à NATO. O facto de essa possibilidade estar inscrita na Constituição da Ucrânia constituiu uma das razões para Vladimir Putin "justificar" a invasão ao país.
Como ocidentais devíamos reflectir se a NATO não terá iludido o governo ucraniano acenando-lhe com essa hipótese. Provavelmente, a NATO nunca considerou, seriamente, aceitar a Ucrânia no seu seio. Afinal, se a Ucrânia já estivesse na NATO, já estaríamos num cenário de 3a Guerra Mundial, não é verdade?
Haverá quem diga que, se agora Zelensky já desistiu da NATO, porque é que não o fez antes de modo a evitar a invasão pela Rússia? Presumo que, agora, ele se sinta desiludido com a falta de apoio da NATO que se tem verificado. E, para mim, isso prova que, durante muito tempo, a Ucrânia foi iludida.
Como é que esta situação de guerra se pode resolver? Não faço ideia mas espero que alguém, dentro das equipas negociadoras e nos mediadores, tenha uma ideia brilhante. Ou que o Putin, que tem tanta vontade de ser czar, sofra um golpe palaciano*.
*não estou a desejar a morte do senhor, pode só cair da cadeira, bater com a cabeça e ficar impossibilitado de dirigir a ofensiva. O problema é se, cortando a cabeça da cobra, o corpo se continue a mexer.
Entre as mais variadíssimas questões que me causam preocupação, há uma que me estar a deixar genuinamente chocada.
Já é uma frase feita que diz que, na guerra, a primeira vítima é a verdade. Mesmo em Portugal, a mais de 4000 km de Kyiv, a Comunicação Social não está a desempenhar o seu papel da melhor maneira. Para além de se notar que as notícias da guerra nem sempre são confirmadas antes de serem divulgadas, as notícias sobre a escalada dos preços do combustível e dos alimentos estão a tornar-se sensacionalistas. E se certas manchestes são expectáveis de alguns órgãos noticiosos, há outros nos quais eu não esperava ler este alarmismo.
Temo que este tipo de notícias provoque uma corrida desenfreada aos supermercados, acontecimento já visto anteriormente, o que conduzirá, efectivamente, a falta de alimentos não perecíveis nas prateleiras das lojas. Até poderei concordar com o racionamento o quanto antes se isso significar que, quem tenha meios económicos, não possa comprar toneladas de farinha, massas e conservas que depois farão falta a outras pessoas menos abonadas. Com este tipo de primeiras páginas, não demorará muito até vermos a repetição de imagens de pessoas a correrem aos supermercados. E já sabemos que esse fenómeno é uma bola de neve porque tem o efeito de levar mais pessoas a fazerem o mesmo que vêem na televisão.
Por fim, quero só reiterar que tinha o Expresso na conta de jornal sério mas, de quando em vez, sofro uma dolorosa desilusão.
Nas redes sociais, nomeadamente no Instagram, têm sido inúmeras as publicações sobre as várias campanhas de solidariedade para com a Ucrânia e para com os refugiados. Muitos influenciadores têm-se desdobrado participando nestas campanhas. A recolha de bens, muitas vezes organizadas pelas comunidades ucranianas que residem em Portugal, têm-se espalhado por todo o país.
Nos primeiros dias, também eu senti vontade de participar doando alguns artigos de primeira necessidade mas acabei por não o fazer. A minha ideia inicial modificou-se depois de ler alguns posts de quem já está ligado a ONG's há muitos anos. Pensem comigo, já imaginaram quanto custa enviar tantas toneladas de bens recolhidos para as fronteiras com a Ucrânia? São quase 4000 km. E será que a chegada destes artigos não irá atrapalhar em vez de ajudar? Não será mais equilibrado fazer um donativo em dinheiro para as instituições que já estão no terreno? O dinheiro permite que se adquira os bens mais próximos dos locais onde são necessários. Para quem tem receio de fazer donativos em dinheiro por tantas histórias de fraudes, a melhor opção é escolher uma instituição fidedigna e acima de qualquer suspeita como a UNICEF, por exemplo. Foi o que eu fiz.
Um dos pormenores que tenho visto discutido nas redes sociais é o facto de as pessoas se estarem a mobilizar para ajudar a população ucraniana mas não se preocuparem em ajudar as vítimas de todos os outros conflitos que continuam activos como o Afeganistão, a Síria ou a Palestina. Porque será que isso acontece? Provavelmente porque esta guerra está mais próxima de nós e porque já estamos a ser prejudicados a nível económico. Ou será que estes refugiados são mais "bonitos" do que aqueles que, nis últimos, têm arriscado a vida na travessia do Mediterrâneo e por isso somos mais empáticos? A conclusão que eu tiro é que somos, apenas, humanos. Se as imagens nos entram pela casa dentro, só se tivermos um coração de pedra é que não nos comovemos. Afinal, eu própria só me comecei a preocupar com os atentados quando começaram a acontecer na Europa. Temos que admitir que a Comunicação Social muito contribuí para estas reacções.
O ideal é começarmos a olhar para tudo isto com sentido crítico e percebermos que, em todo o Mundo, e também em Portugal, há pessoas de todas as idades em risco e a precisar de ajuda. Se calhar, teremos que pensar se está nas nossas possibilidades ajudar, seja no estrangeiro seja mesmo cá em Portugal, e escolher uma instituição para contribuirmos pontual ou regularmente. E percebermos que a solidariedade não é sobre nós mas sobre os outros, os que precisam.
Os últimos dias não têm sido fáceis emocionalmente. É impossível ficar indiferente ao que se passa a Leste. Não conheço a Ucrânia mas conheço alguns países daquela zona da Europa e fico de coração partido com aquilo que as pessoas estão a passar. Os países que fazem fronteira com a Ucrânia, e que estão a receber refugiados, não são países ricos, antes pelo contrário. Como é que vão fazer frente a esta situação? Como é que vão lidar com aquela enchente de pessoas desesperadas e que saíram quase sem nada das suas casas? É de partir o coração ver a confusão das pessoas que tentam entrar nos comboios ou que chegam a pé às fronteiras, fragilizadas pela dor ou pelos anos de vida porque se vêem muitos idosos a chegar às fronteiras.
Não consigo deixar de ver notícias ou de fazer refresh no Twitter. Eu sei que é doentio. Já me aconteceu o mesmo no início da pandemia (hoje faz 2 anos que foi identificado o primeiro caso de Covid-19 em Portugal). Nos primeiros meses consumia notícias a um ritmo alucinante. Eu sei que é doentio mas não consigo evitar. Tenho que fazer um esforço suplementar para me concentrar noutra coisa. 2019 parece cada vez mais distante.
*Fear of missing out, medo de ficar fora dos assuntos mais actuais
Afinal, a guerra avançou mesmo. Nunca imaginei que o séc. XXI fosse palco de uma guerra na Europa. Em toda esta situação, ninguém é inocente. O primeiro culpado é Vladimir Putin mas o Ocidente também não fica bem na fotografia. Os Estados Unidos da América, por exemplo, alimentaram este conflito mas, agora, deixaram a Ucrânia completamente sozinha contra o seu vizinho beligerante.
A Ucrânia estava em fase de aproximação ao Ocidente e isso, para a Rússia, tornou-se imperdoável. Para mim, a Ucrânia tinha todo o direito de fazer as alianças que entendesse uma vez que é um país independente mas, infelizmente, a reacção russa era expectável.
É impressionante assistir à fuga dos ucranianos para os países vizinhos*, ver a destruição das cidades ucranianas (há alvos civis atingidos) e ver aqueles que não conseguiram fugir abrigados em estações de metro e garagens.
Ainda há pouco vi o desespero de um ucraniano que vive fora do país e que foi tentar resgatar o irmão e a família para os levar para outro país mas que viu o jovem irmão impedido de sair do país. Ao abrigo da lei marcial imposta no país, o presidente impôs a mobilização militar geral impedindo a saída de todos os homens, entre os 18 e os 60 anos, de sair da Ucrânia. Se os homens se voluntariassem ainda em todo o caso, mas esta obrigação não me parece correcta.
O presidente Volodymyr Zelensky mantém-se em Kiev, junto das tropas, apesar de os EUA lhe terem oferecido ajuda para sair do país ao que ele respondeu que precisa de munições mas não de boleia. Temo que vá acabar por ser capturado e morto.
Os outros países viram esta situação prestes a acontecer e tiveram mais que tempo para prepararem a ajuda à Ucrânia. Será que vamos assistir, em directo, ao desaparecimento de um país? E quem garante que Putin ficará por aqui?!
*mais de 50 mil pessoas saíram da Ucrânia em 48 horas.
Esta situação de quase invasão da Ucrânia pela Rússia, acompanhada pelos órgãos de comunicação social, fez-me lembrar este sketch do saudoso Raul Solnado
Então Vladimir Putin ia invadir a Ucrânia quando está tanta gente a olhar? Faz algum sentido? Será que Putin não estará a fazer bluff com os países ocidentais? Ou a querer ridicularizar os serviço secretos americanos?
Não sei o que pensar deste acontecimento. Algo me diz que nada de bom virá daqui. O mundo está a ficar um lugar estranho. Um louco à frente dos EUA, na Coreia do Norte a loucura vai na terceira geração, na Síria há outro louco cujas acções ainda acicatam mais os ânimos. E na Rússia, nem se fala.
Violência gera violência e, longe de terminarem, os conflitos parecem cada vez mais intensos.