Ontem foi divulgado o relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa. Confesso que ainda não o li nem sei se o farei. Passei os olhos por aquilo que foi partilhado pelos meios de comunicação social.
Qualquer abuso sexual é chocante mas o abuso sexual de crianças e jovens no seio de uma instituição como a Igreja Católica incomoda-me particularmente. Em tempos tive inúmeras funções na minha paróquia e, embora me tenha afastado, continuo a acreditar em Deus bem como continue a simpatizar com a Igreja Católica. Que padres, ou outros membros da instituição, sejam capazes de cometer os actos hediondos descritos é humanamente imperdoável. Nem sei se estes monstros terão direito ao perdão de Deus. E o que dizer de outros padres ou superiores hierárquicos que tiveram conhecimento dos abusos e que incobriram? Como é que conseguem viver com a sua consciência?
Estas pessoas, como se os abusos físicos não fossem suficientes, ainda incutiram a culpa e a vergonha no coração das suas vítimas. Não só os manipularam fisicamente mas também psicologicamente a ponto de muitos terem escondido estas situações até aqui. Quantos terão chegado à vida adulta completamente destruídos? Quantos se terão suicidado? Quantos foram impedidos de viver uma vida plena, de amarem e serem amados?
Os casos validados constituem uma pequena amostra. A Comissão tem uma estimativa muito superior do número real de casos. Quero acreditar que a percentagem de membros da Igreja que são abusadores sejam diminuta (há muitos abusos perpetrados pela mesma pessoa) mas esta crença está a tornar-se cada vez mais difícil.
Por fim, quero salientar a coragem daqueles que foram capazes de contar a sua história. Que conflitos interiores e quantos fantasmas do passado tiveram que enfrentar para chegar aqui?!
A Igreja Católica tem a obrigação de fazer uma profunda reflexão sobre este assunto. Afinal, estas crianças, jovens e as suas famílias acreditavam que as instituições católicas eram lugares seguros mas o mal também vivia ali.
Na semana que passou soube-se de um caso de abuso sexual por parte de um sacerdote da Diocese de Lisboa nos anos 90. Pelo que já se consegui apurar o caso chegou ao conhecimento do responsável pela diocese à época, D. José Policarpo. O actual Cardeal Patriarca, D. Manuel Clemente, também tinha conhecimento da situação tendo, inclusivé, reunido com o menor envolvido, hoje já adulto. A conversa ocorreu numa altura anterior às actuais normas da Igreja sobre a forma de actuação nestes casos. D. Manuel Clemente afirma que foi, por decisão da vítima, que o caso não foi denunciado.
Entre os meus 19 anos e os meus 34 anos, tive uma frequente prática religiosa na paróquia onde cresci que pertence à Diocese de Évora. De início fazia parte do Grupo de Jovens mas cheguei a ser catequista e responsável litúrgica bem como animadora de grupos bíblicos. Por circunstâncias da vida, abandonei estas funções há 14 anos. Também na minha paróquia ocorreram, pelo menos, 2 casos de abuso sexual de crianças, desta feita por parte de um leigo, mas encobertas pelo pároco actual. Tanto o abusador como o pároco enfrentam acusações pelo Ministério Público.
O abuso sexual é um crime chocante, principalmente quando afecta crianças, mas quando é cometido por quem deveria estar acima da maldade humana é ainda mais revoltante. E tão culpado é o agressor como quem ocultou porque, ao não denunciar, pode ter potenciado a probabilidade da situação se repetir. Foi o que aconteceu na minha paróquia.
Eu tenho que admitir que a situação que ocorreu na minha terra me perturbou mais do que as outras. Acho que é uma reacção normal que nos sintamos mais tocados por aquilo que acontece mais perto de nós ou envolvendo pessoas que nós conhecemos. Vi isso acontecer também em relação ao caso da Diocese de Lisboa uma vez que trabalho com várias pessoas que conhecem o padre que, alegadamente, cometeu o abuso sexual em causa, um sacerdote muito respeitado e apreciado na zona onde a situação terá ocorrido.
Não sei qual será a solução e espero que o recente esforço da Igreja para investigar estas situações seja frutífero. Infelizmente, receio que haverá sempre abusos e complacência dos outros sacerdotes e da hierarquia da instituição mas espero estar enganada. O tema foi debatido em vários blocos noticiosos e programas de debate. Alguém, já não sei quem, dizia que uma das raízes do problema é o celibato dos padres e que os abusos diminuiriam se fosse permitido aos padres viverem a sexualidade de forma normal. Talvez, não sei o que pensar. Só sei que as crianças deviam ser protegidas e não se sentirem em perigo num local que devia ser acolhedor e seguro como é o caso da Igreja.
Hoje é feriado nacional de caracter religioso. A maior das pessoas não faz ideia porque é que usufruí deste dia de descanso ou então dá-lhe um significado erróneo.
Conceição é outra maneira de dizer Concepção. Há quem pense que Imaculada Conceição se refira à concepção de Jesus Cristo porque os cristãos acreditam que esta concepção se deveu a intervenção divina e não humana. Segundo a Bíblia, Maria ficou grávida por intervenção divina sem nunca ter "conhecido homem".
No entanto, Imaculada Conceição diz respeito a outro dogma. Devido à infidelidade de Eva, no livro do Genésis, Deus sentenciou que toda a descendência de Eva seria marcada pelo pecado original. No entanto, a Igreja Católica, bem como algumas igrejas anglicanas e ortodoxas, acredita que Deus escolheu Maria para mãe do Seu Filho desde o início da sua existência e assim ela foi o único ser preservado do pecado original. Imaculada, ou seja, sem mancha.
A imagem de Nossa Senhora da Conceição, ou da Imaculada Conceição, é representada pisando uma cobra o que reverte, novamente, para aquilo que vem escrito no Livro do Genésis.
A Igreja celebra esta solenidade no dia 8 de Dezembro desde o Séc. VII e, nove meses depois, a 8 de Setembro celebra a Natividade de Maria.
Achei que fazia sentido falar da Imaculada Conceição no âmbito do Blogmas porque sem Maria não havia Jesus logo não haveria Natal.
A nossa comunicação social, e todos os notáveis do país deliraram quando foi anunciado, pelo Papa Francisco, que José Tolentino de Mendonça seria tornado Cardeal. Hoje, 5 de Outubro, é o dia em que isso irá acontecer. O Arcebispo Tolentino de Mendonça é apreciado e respeitado por católicos e não católicos por lhe ser reconhecido muito valor intelectual como teólogo e poeta. Foi professor e vice-reitor da Universidade Católica bem como director da Faculdade de Teologia da Universidade Católica. José Tolentino de Mendonça publicou inúmeros livros de poesia e de teologia. Recebeu até prémios pelo seu trabalho literário
Desde o ano passado, que o Arcebispo José Tolentino de Mendonça é arquivista do Arquivo Secreto do Vaticano e bibliotecário da Biblioteca Apostólico Romana.
Como eu dizia, houve um grande entusiasmo com a declaração do Papa Francisco sobre a criação dos novos cardeais que incluia este novo cardeal português uma vez que ele fará parte do Conclave para escolher o novo Papa, quando for caso disso, podendo ser um dos escolhidos. Os jornalistas do Diário de Notícias da Madeira, de onde é natural, insistiram em fazer-lhe perguntas sobre esta possibilidade e ele respondeu com uma frase brilhante: “Vida longa ao Papa Francisco e a todos os papas que virão”.
As notícias sobre a realização das Jornadas Mundiais da Juventude em Portugal fizeram-me recuar uns anos, ao tempo em que eu também pertenci a um grupo de jovens católicos. Nunca cheguei a ir às Jornadas Mundiais da Juventude mas não fico indiferente à sua realização por terras lusas. E, hoje, senti-me muito grata pelas experiências que vivi naquele tempo em que deixei que a fé em Deus entrasse no meu coração. Esses momentos foram determinantes para ultrapassar a dor da morte do meu pai e deram-me ferramentas para lidar com todas as perdas, com todas as dores que a vida ainda tinha (e tem) guardadas para mim. Ter pertencido a uma comunidade, ter feito parte de algo maior do que eu fez de mim a pessoa que sou hoje. Mesmo agora que me afastei da Igreja, o que cresci e aprendi nesse tempo permanecerá para sempre.
Nos últimos dias é impossível fugir do tema "Centenário das Aparições de Fátima". Nunca estive em Fátima em dias de grandes peregrinações nem nunca fui até lá a pé. No entanto, o Santuário de Fátima teve um papel fundamental na minha vida. No início dos anos 90, fui convidada a participar num encontro nacional de jovens em Fátima. A dor pela perda do meu pai estava ainda muito fresca e eu era uma jovem revoltada. Nesses dias, em Fátima e rodeada de jovens da minha idade, descobri a existência de Deus e essa descoberta transformou a minha vida. Muitos dos momentos felizes (e também alguns momentos tristes) que vivi durante cerca de 17 anos derivaram das emoções que senti nesses instantes. A partir daí aderi à fé católica juntando-me ao Grupo de Jovens da minha paróquia e começando a participar na Eucaristia. Foi assim que comecei a aceitar a morte do meu pai e foram essas vivências que me tornaram na pessoa que sou hoje.
Depois desse encontro nacional, voltei várias vezes a Fátima quer no âmbito dos encontros de jovens quer, mais velha, em encontros de grupos bíblicos. Depois do deslumbramento inicial com o Santuário, comecei a sentir-me incomodada com alguns pormenores. O comércio, o exagero das velas que se lançam para o tocheiro, as multidões que se juntam por vezes, tudo isso faz demasiado ruído e interfere no ambiente de recolhimento que se deveria viver naquele lugar. A memória mais grata que tenho é de uma vez em que, com algumas amigas, fui à noite à Capelinha. Penso que foi na Primavera e tenho a certeza que estava frio mas foi quando me senti mais próxima de Deus e de Maria.
Nunca poderei ter a certeza científica de que Deus existe, de que Maria existe e que apareceu a três crianças na Cova da Iria. Só posso dizer que, para mim, aquele lugar é especial e que já senti a presença de Deus na minha vida. E ainda sinto mesmo depois de me ter afastado da Igreja.