Guerra aberta
Ser Livre não é cada um fazer o que quer.
A recente polémica que envolve o partido Livre e a deputada Joacine Katar Moreira deixa-me muito desiludida. Para começo de conversa, devo dizer que não votei no Livre até porque o meu voto de nada adiantaria, voto num distrito onde não se elegem muitos deputados. No entanto, fiquei contente pela chegada do Livre ao Parlamento. Considero que é um partido que pode contribuir para a construção de um país mais justo, inclusivo e solidário. A deputada eleita também me despertou simpatia como ficou aqui explícito. Achei abjectos os ataques de que ela foi alvo no que diz respeito às suas origens e à sua gaguez. A sua história de vida mostra que ela foi uma mulher lutadora que venceu as circunstâncias da vida em que nasceu e cresceu.
No entanto, as suas atitudes recentes já não abonam muito a seu favor. Independentemente de ser negra, mulher e gaga, isso não lhe dá o direito à atitude de sobranceria que tem tido com o Parlamento, com os jornalistas, com o Partido Livre e com os eleitores que a elegeram. Na Assembleia da República ela representa o partido e não só a si própria. Tem que agir, minimamente, de acordo com os princípios defendidos pelo partido a que ela escolheu aderir. Julgava-a mais inteligente do que isto. Começo a achar que talvez gagueje um bocadinho quando pensa, afinal.
Por outro lado, o Livre também não fica bem na fotografia. Nunca deveriam ter começado com a "guerra de comunicados" do passado fim-de-semana. Srs, a roupa suja lava-se em casa. Não façam do espaço público uma qualquer lavandaria self-service. Resolvam os vossos problemas nos órgãos próprios do partido e talvez seja melhor reverem a vossa maneira de escolher candidatos. Se calhar, não é boa ideia serem assim tão Livres.
Não tenho dúvidas que a chegada do Livre ao Parlamento se deve muito à cabeça de lista que escolheram para Lisboa e à projecção que ela teve durante a campanha eleitoral. Por outro lado, ela não podia chegar ao Parlamento sem ser integrada nas listas de um partido. Ou seja, Joacine serviu-se do Livre e o Livre serviu-se da Joacine. É muito má ideia estarem, agora, a descartarem-se mutuamente.
E por último, uma palavra à comunicação social, menos é mais. Deixem de dar tanta cobertura aquilo que fazem estes pequenos partidos. Eles são importantes para que o nosso país seja verdadeiramente democrático mas não têm tanto poder no nosso futuro como os partidos com maior representação. Esse sim, decidem a nossa vida.