Ontem o Sapo teve a simpatia de destacar o meu post sobre o falecido Daniel Serrão entre os posts alusivos a Mário Soares.
Para além de agradecer à equipa do Sapo, gostaria de reflectir sobre os comentários que desencadeou. O destaque de blogs da página principal do Sapo faz com que o que escrevemos chegue a pessoas que, nornalmente, não seguem blogs. Quando começo a receber comentários de desconhecidos, vejo logo que "O voo da garça" aterrou por ali. Por coincidências da vida, calhou Daniel Serrão e Mário Soares morrerem no mesmo fim-de-semana. Então não é que os comentadores desataram a comparar a importância destas duas personalidades?! Para mim as pessoas não se podem comparar seja de que maneira for. No caso destas duas figuras portuguesas, cada um teve um papel muito importante na construção da nossa sociedade. Cada um à sua maneira, cada um no seu espaço e nas suas circunstâncias. Nenhum é maior que outro, são pessoas diferentes. Admirar um não é impedimento para admirar o outro. Paz às suas almas.
Para mim, morreu o Bochechas. Era por este nome carinhoso que Mário Soares era conhecido durante a minha infância. Uma figura incontornável da nossa História Contemporânea que marcou Portugal de modo indelével. Mário Soares lutou contra o regime salazarista, esteve preso, viveu no exílio. Lutou pela democracia nos conturbados tempos do PREC, foi Ministro, foi Primeiro-Ministro por 3 vezes, fez 2 mandatos como Presidente de República (com muita popularidade). Mesmo com idade já avançada foi deputado europeu e candidatou-se, pela terceira vez, à Presidência da República em 2006 com 81 anos. Um homem que nunca deixou de ter um papel activo na política nacional. Foi ele que negociou a adesão à CEE (hoje União Europeia).
Apesar de tudo, nunca deixou de ser uma figura controversa, amado por uns ou odiados por outros. O processo de descolonização não foi consensual. Esses sentimentos são visíveis mesmo hoje, no dia da sua morte, nas caixas de comentários das notícias da sua morte ou das redes sociais.
Recordo a inesquecível campanha presidencial de 1986, e o célebre slogan ”Soares é fixe", em que Mário Soares esteve em campanha na minha terra. Nessa campanha, Mário Soares partiu em desvantagem mas, contra todas as expectativas, conseguiu passar à 2a volta assim como o candidato de direita, Freitas do Amaral. Na 2a volta, o PCP, partido que na altura tinha relações muito tensas com o PS, apelou ao voto em Mário Soares para derrotar a direita. Segundo se conta, Álvaro Cunhal aconselhou os comunistas a tapar a fotografia de Mário Soares para conseguirem votar nele.