No último ano, tem sido notícia o facto de muitos portugueses terem optado por deixar de viver nas grandes cidades para se mudarem para cidades mais pequenas, vilas ou aldeias. Também eu tenho tido a oportunidade de passar algum tempo numa aldeia, aos fins de semana, principalmente. E nesta aldeia, que conheço há cerca de 13 anos, tenho notado que o número de "forasteiros" tem aumentado. Percebe-se este movimento em relação ao campo. Obviamente, se fôr necessário confinar é melhor fazê-lo num sítio onde seja possível usufruir de espaço livre onde se possa passear e respirar sem preocupações com passíveis multidões. É muito agradável viver numa aldeia, mesmo que sejam apenas alguns dias por semana. É tão bom aproveitar o sossego para descansar a cabeça e aliviar o stress pelo contacto com a natureza. Na Primavera é, especialmente, agradável porque os campos estão cheios de flores singelas e coloridas, ouve-se o silêncio, de vez em quando, interrompido pelo chilrear dos passarinhos... e a música em altos berros dos vizinhos.
Felizmente, estes a que me refiro não me incomodam muito. No entanto, interrogo-me. Porque é que estas pessoas vêm para a aldeia perturbar o sossego que outros procuram? Se gostam tanto de barulho, fiquem na cidade. Até devem estar a incomodar os pássaros.
Não tenho grande hábito de ver programas de talentos. Tenho algumas colegas que costumam acompanhar o The Voice e vêem o programa à hora de almoço. Assim acompanhei os últimos episódios da edição da penúltima temporada de adultos e toda a última temporada. Tenho também acompanhado o The Voice Kids. É preciso ter um coração muito emperdenido para não ficar comovida e encantada com aquelas crianças. Mas quando começo a pensar sobre o programa sinto-me incomodada. Será legítimo utilizar as crianças para um programa de entretenimento? Quando os mentores têm que eliminar um concorrente, a maioria das crianças acabam lavadas em lágrimas. Até nos dói a desilusão pela qual as crianças passam. Se isso acontece na versão dos adultos, normalmente, os participantes estão lá pela sua própria decisão. Será que os pais deveriam permitir que as crianças passassem por isto? Cantar será o sonho só das crianças ou será também um sonho dos pais? Ou as crianças estão a concretizar os sonhos que os pais nunca conseguiram concretizar?
Nunca tinha acompanhado o programa de talento vocal da RTP1, The Voice Portugal. Por vezes via alguns momentos durante a hora de almoço porque tenho colegas que costumavam assistir.
No passado domingo terminou a última edição e eu vi quase todos os programas. O vencedor, Luís Trigacheiro, chamou-me logo a atenção na Prova Cega quando cantou, com emoção, a música "As Mondadeiras". Ao longo das semanas, foi sempre um dos meus favoritos embora reconheça que ficaram pelo caminho excelentes vozes. Como é óbvio, fiquei muito contente pelo jovem alentejano ter vencido.
Luís Trigacheiro e Marisa Liz, a sua mentora
Logicamente, não se pode agradar a toda a gente e o sistema de escolher o vencedor por votação telefónica pode ser injusto. É possível que ganhe o concorrente mais popular, ou que consiga mobilizar mais pessoas, e que a melhor voz seja derrotada.
É compreensível que os fãs dos outros concorrentes reajam mal à derrota do seu ídolo. Vi comentários muito desagradáveis nas redes sociais. Mas o que me incomodou mais foi ter lido que Luís Trigacheiro é simpatizante do partido "Chega" e que era inadmissível que um fascista ganhasse a competição.
Não faço ideia de quais são as opiniões políticas deste rapaz mas também não tenho a certeza que isso importe. Não acompanho essa suposta simpatia por tal partido, antes pelo contrário, mas isso em nada influencia o meu gosto musical.
Aqui há tempos também houve um grande alarido porque Samuel Úria ter sido um dos signatários de uma carta aberta da Direita Portuguesa contra o mesmo partido. Nessa altura deu-se mais importância ao facto do músico ser de Direita do que ao conteúdo da carta.
Será que temos que elaborar as nossas preferências culturais consoante a postura política dos agentes culturais? Se um músico, um escritor ou um actor for de direita ou de esquerda, isso determina se tem mais ou menos talento? E isso influencia o nosso gosto pessoal?
Como é Natal, esta 2a feira vou partilhar 2 vídeos natalícios muito especiais.
O primeiro é do jovem Noble com a participação de Zé Manel, Syro, Meestre e Gabriela Couto. A música é muito doce, ao estilo dos mais conhecidos temas de Natal. As receitas obtidas destinam-se ao apoio da Fundação Ronald Mcdonald. Esta Fundação tem como propósito ajudar as famílias que têm crianças em tratamento ou internadas em serviços hospitalares.
E, de seguida, o vídeo de Natal mais louco de sempre. David Fonseca, sempre surpreendente
Não se deixem enganar pelo título. Hoje não vou apresentar nenhuma música. Até porque hoje é domingo e, por aqui, música é só à 2a feira .
Gostaria que reflectissem comigo sobre o seguinte?
Porque é que as músicas de Natal soam melhor em inglês? Pensem em quantas músicas de Natal em português.
Pouco mais que 1, não é?
E em inglês? Pois, têm razão. Imensas. Fazem parte do nosso imaginário comum. Será, mais uma vez, a hegemonia da cultura anglo-saxónica que absorve todas as outras culturas?
Numa altura em que se começam a abrir brechas entre o Governo de João Lourenço e o povo angolano, Aline Frazão lança esta belíssima canção em que fala do "reino de lata com brilho de prata" e que pergunta "quem foi que desfez tudo aquilo que nós combinámos?". E canta este poema de intervenção, penso que se pode identificar assim, com uma voz doce e quente. Lindo