Mais eleições em pandemia
Como sabem, os portugueses serão chamados às urnas no fim do mês. A esta distância consigo prever que a eterna vencedora abstenção irá bater todos os recordes.
Por um lado, o desencanto com a política abrange uma parte significativa da população.
Por outro lado, os debates em modelo "speed dating", como já li em qualquer lado, são tudo menos esclarecedores. Para os comentadores, o vencedor é, sempre, o que grita mais como num reality show.
E, por último, prevê-se um elevado número de pessoas isoladas devido à Covid-19 que poderão estar impedidas de exercer o seu direito de voto. O voto no domicílio só pode ser solicitado até dia 23, 1 semana antes das eleições, o que não faz sentido porque o isolamento foi reduzido para 7 dias, na maioria das situações. Os constitucionalistas defendem que as pessoas em quarentena se deveriam poder dirigir às mesas de voto mediante certas condições. Se forem reunidas as condições de segurança, isso não me choca. Veremos que condições serão criadas. O que eu temo é que esta possibilidade leve a que as outras pessoas, que não estejam em isolamento, tenham receio de ir votar por se sentirem em risco de contágio. A minha mãe seria uma dessas pessoas. Parece que já a estou a ouvir, "Nem penses que eu vou votar."
Por tudo isto, temo que a constituição da próxima Assembleia da República, e consequentemente o próximo governo, seja escolhida por meia dúzia de pessoas.
Aguardam-se as cenas dos próximos capítulos.