Às vezes penso que o meu cérebro apagou tudo o que aconteceu antes do acontecimento dramático que marcou toda a minha existência. Só que depois encontro um objecto, um aroma ou uma palavra, como aconteceu na semana passada com o desafio #passa-palavra da Mula e da Mel, que reabre a minha memória. A minha infância está envolta numa névoa mas, de vez em quando, lá aparece um raio de sol que ilumina os acontecimentos passados e os traz para a frente dos meus olhos. Obrigada, Mula e Mel, por me terem ajudado a recordar.
O meu ramo de túlipas foi a imagem mais apreciada do Instagram do blogue. Comprei este ramo num supermercado e eram bem bonitas. Quando procurei uma jarra para as pôr, bati com os olhos neste jarro.
Segundo a minha mãe, este tipo de vidro chama-se vidro amarelo. Veio da casa do meu avô paterno há muitos anos. O meu avô, o tal que me chamava ciganita, faleceu quando eu tinha 9/10 anos. Deixei de ir à casa onde ele morava nessa altura. Era uma casa muito engraçada para uma criança com um quintal bem simpático. Guardo gratas recordações da casa e das brincadeiras com os meus primos.
Só voltei a essa casa já adulta, poucos dias antes da escritura de venda. Eu, a minha mãe (o meu pai já tinha falecido por isso a minha mãe e eu éramos herdeiras da parte dele)e os meus tios fomos esvaziar a casa. Fiquei muito surpreendida quando lá entrei. Na minha memória de criança tinha ficado a imagem de uma casa bem maior. Na realidade, a casa tinha umas divisões bem pequeninas .
Fiquei com alguns objectos do recheio da casa como, por exemplo, este jarro e uma garrafa de mesa de cabeceira feita do mesmo tipo de vidro. Nunca o tinha retirado do armário. Um desperdício. Se calhar, já não volta para lá.
Ontem, enquanto fazia o jantar, ouvi num dos canais de notícias que faleceu o cantor de jazz norte-americano, Al Jarreau.
Assim só pelo nome não percebi mas quando disseram que Al Jarreau foi o autor desta música já me despertou mais a atenção
O que eu sonhei ao som desta música. Moonlighting, ou Modelo e Detective como se chamava em Portugal, foi uma série dos anos 80. Eu não perdia um episódio. Assim que ouvia o genérico já não faziz mais nada. Tinha os ingredientes certos de uma série policial mas era divertida e, até romântica. Na minha opinião havia uma química muito especial entre a Cybill Shepard e o Bruce Willis. Estava sempre à espera de que houvesse romance entre eles. Era um tempo em que eu olhava para o mundo com lentes cor-de-rosa. Não conheço mais músicas do senhor mas só por esta merece a minha homenagem. R.I.P
Ontem, no Jornal da Noite da SIC, foi, como todos os sábados, transmitido mais um programa "Perdidos e Achados". Desta vez o tema tocou-me directamente e fez-me regressar quase 30 anos. "Recordar a Telescola" assim era o título da reportagem. A Telescola foi um projecto educativo que pretendia fazer chegar o ensino do ciclo preparatório aos locais distantes onde não havia esse nível de ensino. As aulas eram transmitidas, em directo, pela televisão e os alunos assistiam numa sala de aula acompanhados de um monitor/professor. Só havia 2 monitores/professores por cada turma, um para as letras e outro para as ciências. Os conteúdos eram difundidos pela televisão mas na aula eram esclarecidas as dúvidas e, também, se faziam exercícios. A Telescola foi criada em 1964 porque o Estado Novo aumentou a escolaridade obrigatória para 6 anos e não havia as condições logísticas necessárias para fazer face a esta alteração. As emissões começaram em 1965. A Telescola teve o seu apogeu nos anos 70 e início dos anos 80. A meados dos anos 80 as emissões começaram a deixar de ser em directo e passaram a ser em cassetes VHS. A Telescola, que foi sofrendo muitas alterações nomeadamente a nível da designação, só foi extinta no ano lectivo de 2003/2004 tendo durado quase 40 anos.
Eu, apesar de ter crescido a cerca 50 kms de Lisboa, também estudei no 5º e 6º ano através da Telescola. Só havia Ciclo Preparatório na sede do concelho o que implicava a deslocação de crianças de 10/11 anos. Muitos poderão considerar que o ensino da Telescola era um ensino menor e pode-se pensar que quem lá andou ficou menos bem preparado do que os miúdos do Ciclo. Não posso concordar de maneira nenhuma. Quando acabei o 6º ano prossegui os meus estudos normalmente, desta vez já na sede do concelho, e tive sempre excelentes notas. Nunca me achei menos preparada por ter estudado de maneira diferente no 5º e 6º ano. Hoje em dia sou licenciada e trabalho há 15 anos na área que escolhi. A influência da Telescola na minha vida só pode ser considerada benéfica. Uma das recordações mais divertidas que tenho é o primeiro teste de francês em que uma das perguntas, sobre os ditongos em francês, era respondida depois de ouvir os sons transmitidos pela professora que estava na televisão.
A Telescola foi precursora das plataformas de ensino à distância (elearning) que são tão utilizadas agora. Vale a pena recordar uma boa ideia educativa que teve o seu tempo, foi benéfica para as populações do interior ou das localidades mais pequenas mas que, felizmente, hoje em dia já não fazia sentido existir. A Educação apresenta muitas falhas mas, pelo menos, chega a todos embora nem todos saibam aproveitar essa oportunidade.
Nas últimas horas, os destaques dos Blogs do têm sido dominados por posts dos novos caloiros deste ano. Para além disso, os blocos informativos também têm falado do assunto. Tudo isto me fez recuar alguns anos, 22 para ser mais exacta. Naturalmente que nessa altura, a maneira como se concorria era muito arcaica quando comparada com o processo actual. Nesses tempos antigos, foi preciso deslocar-me à capital do meu distrito, Santarém, para formalizar a candidatura por escrito preenchendo um confuso formulário. Depois era preciso esperar até Setembro tal como agora. O Verão de 1992 foi, sem dúvida, o mais longo da minha vida. No dia estipulado era preciso voltar a Santarém (de autocarro, obviamente, e não havia assim muitos) de manhã cedo até porque a ansiedade era muita. Lá chegadas, eu e outras miúdas minhas amigas, era preciso enfrentar uma grande subida até ao Politécnico. Quando lá cheguei, todo o cansaço desapareceu quando vi a palavra "colocada", na minha primeira opção, em frente ao meu nome. Vivi poucos momentos tão emocionantes como aquele. Depois foi preciso controlar a alegria até chegar a casa e partilhar essa alegria com a minha mãe. Nem todas as minhas amigas ficaram colocadas o que teve que moderar os festejos, como é natural. Um dia emocionante, inesquecível e que parece tão presente.
Muitos parabéns a todos os jovens que conseguiram entrar para a Universidade, esperam-nos anos de muito trabalho mas também anos de muito divertimento. Desejo-lhes muito sucesso. Aos que não entraram, tenham esperança num amanhã melhor.