Confesso que só este ano me apercebi de que se assinalava a Igualdade Feminina no dia 26 de Agosto.
E o que significa esta efeméride:
"O dia foi criado para celebrar a igualdade de géneros, além de promover reflexões sobre as relações de poder na sociedade, em que os homens são privilegiados. Dessa forma, tem como intuito de agir no combate à desigualdade, para se obter a plena equivalência entre homens e mulheres.
Graças ao movimento feminista, as mulheres alcançaram muitas vitórias ao longo das últimas décadas. São exemplos, o direito ao voto, a entrada no mercado de trabalho, no ensino, e na vida política.
Entretanto, ainda existem muitas situações a melhorar, como a paridade salarial e o fim da violência perpetrada contra a mulher. Violência tal que, muitas vezes, leva ao que chamamos de feminicídio (assassinato de mulheres por sua condição feminina)." Fonte utilizada
Felizmente já muito tem sido feito pela igualdade feminina, pelo menos no Ocidente, mas ainda há muito para fazer. Por exemplo, as mulheres presentes na vida política são muito mais escrutinadas do que os homens na mesma posição. As atitudes e acções de homens e mulheres não são avaliados da forma diferente como se viu pelos acontecimentos recentes com a Primeira-Ministra Finlandesa, Sanna Marin. Ou quando as mulheres governantes são entrevistadas lhes ser, invariavelmente, perguntado como conseguem conciliar a vida pública com a vida familiar. Nunca vi nenhuma entrevista em que perguntasse isso a um homem. Mas não é só isso, a igualdade salarial ainda está longe de ser alcançado, as mulheres continuam a ser as principais responsáveis pelos trabalhos domésticos e a serem as principais vítimas de violência doméstica.
É com muita pena que afirmo que este tipo de efemérides terão que ser assinaladas durante muito tempo.
Cada uma de nós tem que ir fazendo o seu papel na construção de um amanhã mais igualitário.
Muito se tem falado da masculinidade tóxica mas será que também há feminilidade tóxica? Passo a explicar a razão da minha pergunta. Na minha prática profissional, enquanto farmacêutica, já há muito que reparo que há pais que não têm independência de tomar decisões sobre os seus filhos sem consultar as mães das crianças. Felizmente não são todos. Ou seja, quando vêm adquirir medicamentos ou outros produtos para os filhos, e é preciso fazer uma escolha, há sempre um telefonema para as mães.
O último exemplo é o seguinte:
O médico tinha prescrito um soro de hidratação do qual existem 2 sabores, limão e groselha. O pai estava na farmácia mas foi a mãe que escolheu o sabor, à distância de uma chamada telefónica. Porque é que o pai não conhece o filho suficientemente para fazer uma opção tão simples?
Será que é o pai que é desligado da função ou será que é a mãe que não deixa o pai partilhar os cuidados do filho porque se acha mais capaz do que o companheiro? Até quando é que se considerará os cuidados dos filhos como principal responsabilidade da mãe e o pai como mero ajudante? De que lado virá a perpetuação destes papéis tradicionais? Dos homens ou das próprias mulheres que chamam a si estas funções sem os deixar assumir o seu papel de pai?
Ontem à noite fiquei muito impressionada com uma reportagem sobre as meninas afegãs que voltaram a estar impedidas de frequentar a escola. O actual regime talibã só autoriza o ensino feminino até ao 6° ano. Os talibãs vão manter a interdição do acesso de raparigas ao ensino secundário, apesar da promessa do regime afegão de que as escolas voltariam a permitir, na 4a feira passada, o regresso das adolescentes às aulas. As meninas chegaram a dirigir-se aos estabelecimentos de ensino mas foram impedidas de lá permanecer.
O compromisso de proporcionar educação a todos e em todos os níveis fez parte do acordo para que o regime talibã recebesse ajuda humanitária. A actual situação foi justificada com a falta de professores, que fugiram do país aquando do regresso dos talibãs ao poder, bem como com tempo insuficiente para adequar as escolas à separação entre rapazes e raparigas e aos princípios islâmicos.
Esta questão da educação faz parte de uma ampla restrição dos direitos das mulheres no Afeganistão.
Quantos jovens, de ambos os sexos, haverá no nosso país que, tendo fácil acesso à educação, não o sabem aproveitar não usufruindo do ensino em toda a sua plenitude? As meninas afegãs choram porque as impedem de estudar e por aqui há tantos miúdos e miúdas que não dão devida importância à escola. Dá que pensar.
Ontem, na farmácia, assisti a uma conversa familiar. Os pais tinham ido comprar antipiréticos porque o menino, de 2 ou 3 anos, estava adoentado. Enquanto esperavam pela vez, foram vendo os acessórios de puericultura que estavam num expositor. O menino estava mesmo muito prostado mas ia dizendo: "quero um copo com palhinha, quero um copo com palhinha." O único copo disponível era cor-de-rosa e o pai pergunta se era o único que tínhamos. Efectivamente, não havia outro e não quiseram comprar aquele.
No fim do atendimento, enquanto se dirigiam à saída, o menino continuava a repetir: "quero um copo com palhinha, quero um copo com palhinha." Qual não é a minha surpresa quando oiço a mãe responder: "aquele não é para ti, é cor-de-rosa, é para menina e tu és um menino".
A minha pergunta é só uma, porque é que se continua a propagar estas ideias e comportamentos? Qual é o problema em o menino beber água num copo cor-de-rosa? Não era já tempo de destruir estas ideias ultrapassadas.
Afinal aquele menino apenas queria um copo com palhinha.
Cada vez que vejo as reportagens sobre a situação que se vive no Afeganistão, ainda me faz mais confusão as pessoas, homens ou mulheres, que não dão valor ao facto de viverem num país democrático onde se pode ouvir a música que nos apetecer, onde se pode ir aonde nos apetecer, trabalha ou estudar o que quisermos.
Ninguém pode acreditar que os talibãs vão respeitar os direitos das mulheres ou que até vão ter mulheres no governo. Se isso acontecer será, apenas, como figuras decorativas para "mostrar" à comunidade internacional como evoluíram nos últimos 20 anos.
Quando penso no que é ser mulher em Portugal ou mulher no Afeganistão dos talibãs, fico ainda mais irritada com as mulheres que, vivendo em Portugal, não aproveitam as oportunidades que o nosso país, não sendo perfeito, nos proporciona.
Por aquilo que percebi, os afegãos que tiverem trabalhado com os portugueses poderão vir para Portugal e trazer, apenas, uma das suas mulheres no caso de terem mais do que uma. Obviamente, que a poligamia não é permitida em Portugal e muito bem porque é uma prática atentatória da dignidade da mulher. Mas e o que acontecerá com as outras "esposas" que não puderem sair do Afeganistão? Quem as defenderá?
A emancipação feminina e os direitos das mulheres são temas que sempre me interessaram. Já se percorreu um grande caminho mas a estrada é longa. Para mim há algo que considero de extrema importância, a independência económica. Mesmo quando a dependência emocional é muito grande e as mulheres ficam demasiado tempo em relações infelizes ou mesmo abusivas, a independência económica permite pensar que, mais tarde ou mais cedo, as mulheres se poderão libertar da opressão de uma relação que já não faz sentido. Obviamente que em relações saudáveis e felizes também é bom que, para além daquilo que são enquanto casal, que ambos funcionem bem como seres individuais, que se realizem profissionalmente e que ambos contribuam para a manutenção da vida quotidiana.
Nos últimos tempos, em famílias que me são próximas, tenho assistido à perversão do conceito de emancipação de que falava no início. Faz-me uma tremenda impressão ver jovens mulheres, na casa dos 30 anos, que aceitam viver, mais do que às custas do companheiro, às custas dos pais do companheiro.
Tantas mulheres nos antecederam e lutaram pelos direitos das mulheres para, em pleno XXI, ver jovens que estão dependentes dos sogros para comprar a coisa mais corriqueira que possam imaginar. Eu considero uma enorme falta de respeito por si própria ou então uma enorme preguiça e acomodação à situação confortável de não ter que lutar pela vida e pelo sustento. Para mim, não dava. Quando estava quase a terminar o meu curso, o meu maior anseio era começar a trabalhar rapidamente para deixar de depender da minha mãe. Felizmente, consegui o meu lugar no mundo laboral
Christina Koch voltou, esta semana, à terra depois de ter sido a mulher que passou mais tempo no espaço. Esta astronauta esteve 328 dias na Estação Espacial Internacional onde fez imensas pesquisas científicas nomeadamente a nível dos efeitos das longas viagens espaciais no corpo humano e participou, com a sua colega Jessica Meir, numa caminhada espacial exclusivamente feminina.
É sempre inspirador ver uma mulher triunfar num ambiente nem sempre propício à participação feminina como é a exploração espacial.
Muitos parabéns à Christina Koch e que a ciência lhe continue a dar muitos motivos para sorrir. E que continue a bater mais recordes.
A Capicua escreve uma crónica na Visão de 15 em 15 dias. Quando recebo a revista, as primeiras coisas que leio são precisamente as várias crónicas. Costumo apreciar muito aquilo que a Capicua escreve. Às vezes, pensava: "simpatizo com a Capicua, gosto do que escreve mas é uma pena não apreciar a música que ela faz". Este single, aperitivo para o seu novo trabalho, fez-me mudar de ideias. Esta música está fantástica. Este "Madrepérola" é uma verdadeira preciosidade. Admiro muito a Capicua por não deixar de lutar para se afirmar num género musical dominado por homens.
"Ostra feliz não faz pérola" é uma grande verdade.
Um dia destes fui à cabeleireira ao fim da tarde. O dono do salão comentava sobre a preparação do casamento da filha. E foi-se falando de casamentos. Como as conversas são como as cerejas, a pessoa que me estava a arranjar o cabelo contou-me que se tinha separado recentemente. Não sei porque é que ela começou a fazer confidências porque até nem nos conhecemos assim tão bem. Começou a falar de um "amigo" muito íntimo que é casado. Nunca fui a outra e tenho muita dificuldade em aceitar estas situações. A Raquel* está convencida que o tal amigo, casado há 20 anos, não se dá bem com a mulher há muito tempo mas que não se separa por causa da estabilidade do filho... que tem 19 anos. Raquel, Raquel como é que caiste nessa história? Isso é uma desculpa clássica de um fulano que quer dar umas voltinhas contigo e que não tem a mínima intenção da mulher. Como é que uma mulher ainda cai nesta cantiga do bandido?! Como é que podes acreditar que o homem não se separa por causa de um filho de 19 anos?!
Nunca conseguirei entender como é que há mulheres que se sujeitam a estas situações. A ser a outra, a amante, o vértice de um triângulo amoroso Qual é o interesse? Há alguém que me explique?
Ontem decorreu uma conferência da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) na Aula Magna. Essa ocasião serviu para apresentar o estudo "As mulheres em Portugal, hoje". Este estudo esteve a cargo da espanhola Laura Sagnier que já tinha feito um estudo similar em Espanha. A investigação pretendeu saber " quem são, o que pensam e como se sentem as mulheres em Portugal". Participaram no estudo 2428 mulheres com idades entre os 18 e os 64 anos utilizadoras regulares da internet. Os inquéritos foram feitos pela internet e as perguntas foram relacionadas com as relações interpessoais com os companheiro/as, filhos, família de origem e amigos, a etapa da vida em que se encontram, o trabalho pago e não pago bem como o grau de felicidade com as várias facetas da vida. A FFMS disponibilizou o estudo bem como um resumo, de forma gratuita, aqui.
Vários meios de comunicação citaram o estudo e foi isso que me levou a procurá-lo. Não consegui ler tudo mas é possível tirar conclusões interessantes. Por exemplo, 33% das mulheres sentem-se infelizes. Daquelas que se dizem felizes destacam as relações interpessoais como fonte de felicidade. No entanto, o companheiro aparece em 5o lugar de importância depois dos filhos, dos netos, dos amigos e das amigas. 71% das mulheres dizem sempre ou quase sempre cansadas. 56% tomam, ou já tomaram, ansiolíticos.
Voltando às relações com os companheiros/ as, os aspectos que fazem as mulheres sentirem-se felizes na relação são: "que ele «participe de forma activa nas tarefas domésticas», que ele «a oiça», que ele «lhe dedique o máximo de tempo possível» e que ele seja «carinhoso e atencioso»".
Das mulheres que têm companheiro 7% sentem-se profundamente infelizes e 20% sentem-se enganadas com a relação.
Apenas 31% das mulheres estão felizes com o seu trabalho pago.
Na leitura rápida que fiz surgiu-me uma pergunta: "E eu como me sinto em relação às várias facetas da vida? Estou feliz ou nem por isso?"
A resposta é sim. No geral, sinto-me feliz. É impossível sermos 100% felizes. A vida ensinou a aceitar que há sonhos que nunca se irão realizar e a não ficar infeliz com isso. Também aprendi que devemos dar valor ao que temos e aproveitar todos os momentos felizes por mais insignificantes que possam parecer.