Eu tento, a cada dia, ser uma melhor pessoa em vários aspectos. No que diz respeito ao racismo, por exemplo, sei que ainda falta muito para ser perfeita mas vou fazendo um esforço para que as atitudes racistas não façam do meu dia-a-dia ou do mundo que me rodeia. No entanto, acho que, às vezes, o politicamente correcto chega ao exagero.
Esta manhã participei num desafio no Instagram de uma conhecida marca de gelados. Consistia em escolher um gelado mais antigo para voltar a ser comercializado. Das várias hipóteses, eu escolhi um gelado de chocolate e a ideia era comentar com um emoji, este 🍫. Qual não é a minha surpresa quando o Instagram me questiona, 2x, se eu tinha a certeza de que queria publicar aquele comentário porque aquele emoji podia ter uma conotação racista. Como?! Racista?! Srs. do Instagram, Facebook ou Meta, é, apenas, um chocolate!!!
A emancipação feminina e os direitos das mulheres são temas que sempre me interessaram. Já se percorreu um grande caminho mas a estrada é longa. Para mim há algo que considero de extrema importância, a independência económica. Mesmo quando a dependência emocional é muito grande e as mulheres ficam demasiado tempo em relações infelizes ou mesmo abusivas, a independência económica permite pensar que, mais tarde ou mais cedo, as mulheres se poderão libertar da opressão de uma relação que já não faz sentido. Obviamente que em relações saudáveis e felizes também é bom que, para além daquilo que são enquanto casal, que ambos funcionem bem como seres individuais, que se realizem profissionalmente e que ambos contribuam para a manutenção da vida quotidiana.
Nos últimos tempos, em famílias que me são próximas, tenho assistido à perversão do conceito de emancipação de que falava no início. Faz-me uma tremenda impressão ver jovens mulheres, na casa dos 30 anos, que aceitam viver, mais do que às custas do companheiro, às custas dos pais do companheiro.
Tantas mulheres nos antecederam e lutaram pelos direitos das mulheres para, em pleno XXI, ver jovens que estão dependentes dos sogros para comprar a coisa mais corriqueira que possam imaginar. Eu considero uma enorme falta de respeito por si própria ou então uma enorme preguiça e acomodação à situação confortável de não ter que lutar pela vida e pelo sustento. Para mim, não dava. Quando estava quase a terminar o meu curso, o meu maior anseio era começar a trabalhar rapidamente para deixar de depender da minha mãe. Felizmente, consegui o meu lugar no mundo laboral
A maioria dos leitores habituais já devem saber que eu sou uma orgulhosa farmacêutica. Grande parte dos dias são muito intensos mas há sempre momentos que nos divertem ou que nos deixem boquiabertas. Eu tento utilizar palavras mais simples para que as pessoas entendam facilmente aquilo que estamos a dizer. Uma das mais importantes funções de uma farmacêutica é garantir a adesão à terapêutica dos utentes. O que eu nunca esperei é que alguém não compreendesse uma palavra que eu considero muito corriqueira.
Ontem, enquanto tentava ajudar uma utente em relação a meias de contenção, perguntei-lhe qual era a medida do tornozelo. Acreditam que ela não sabia o que era o tornozelo? Apontando para o próprio tornozelo e perguntou: "O tornozelo? Aqui em baixo?". Estou a questionar-me, até agora, se tornozelo é uma palavra "cara".
Tenho-me apercebido que há um sentimento que tem desaparecido da nossa sociedade e já não é de agora. Refiro-me à empatia.
Seja a propósito dos refugiados, do repatriamento dos portugueses que estavam em Wuhan, dos negros, dos brasileiros enfim a propósito de todos aqueles que são diferentes ou que vêm de fora, nota-se que as pessoas têm uma grande dificuldade em se colocarem "nos sapatos dos outros". Isto acontece entre aqueles com quem interajo todos os dias ou nos infâmes comentários que se lêem no Facebook ou no Twitter.
Muitas vezes a falta de empatia chega a tocar outro sentimento, o ódio. Esses comentários partem não de pessoas com pouca instrução mas de indivíduos que têm obrigação de ter algum conhecimento. Fico especialmente incomodada quando essas atitudes, sejam ao vivo ou virtuais, são tomadas por pessoas que conheço há muitos anos. Não sei se sempre pensaram assim ou se as pessoas foram (des)evoluindo com o tempo.
Há dias que passo pelo Facebook e até fico indisposta. Dá-me vontade de deixar de lá ir ou então de fazer uma limpeza sumária aos "amigos" xenófobos ou racistas.
Quando a conversa ocorre ao vivo é mais complicado. Às vezes não consigo evitar de argumentar em sentido contrário mas depois penso que não vale a pena o esforço.
Quando era miúda, ali pelos anos 80, era habitual irmos para a praia de geleira, grande e bem recheada. E também havia quem levasse 1 garrafão de 5l de vinho tinto. Da geleira podia sair um arroz de frango, uns filetes de pescada, um frango frito, salada de tomate, batatas fritas e ainda 1 melão ou 1 melancia para sobremesa. Obviamente, que depois era preciso esperar 3 horas para fazer a digestão o que era uma grande chatice para as crianças.
As crianças dos anos 80 cresceram e começamos a arranjar outra ementa para a praia. O importante era levar comida leve para ir comendo ao longo do dia e não ter que esperar as tais 3 horas da digestão. Falamos de sanduíches, frutas, sumos e talvez uns iogurtes líquidos. Ia-se comendo 1 sanduíche agora, uns bagos de uva depois e podia-se ir à água frequentemente.
Também surgiram os bares de praia com refeições leves como saladas, sandes ou hambúrgueres para os mais esfomeados.
Ontem vi uma cena que me fez sentir mesmo, mesmo ultrapassada qual Velho do Restelo. Foi na Costa de Caparica, nas praias da zona da Praia da Rainha a caminho da Fonte da Telha. Os parques de estacionamento ficam longe da praia e é preciso percorrer um passadiço de madeira para chegar à praia. Qual não é a minha surpresa quando vejo chegar uma mota destas ao início do passadiço
Do lado da praia vinha um jovem a correr para vir buscar o almocinho.
Já não é preciso "matar" a cabeça a pensar no que pôr na lancheira da praia. É que arriscámo-nos a ter uma sanduíche de mortandela e apetecer-nos umas peças de sushi e de sashimi. Agora já é possível. Basta ter um telemóvel com dados suficientes para escolher o almoço que nos apetece comer na toalha da praia. Qualquer dia até dá par mandar vir bolas de berlim.
Esta manhã tomei o pequeno-almoço em silêncio. Sem televisão nem rádio. Sem notícias ou música. Por momentos, não passaram carros na estrada. Ao longe, ouvi um som que nunca tinha ouvido nesta casa onde vivo há quase 17 anos. Ouvi o sino da igreja lembrando que já eram 7h da manhã.
Aproveitámos a tarde de sábado para vir tomar café a um bar à beira-mar. Eu queria tentar ler o meu "Guerra e Paz" que não é um livro fácil embora seja apaixonante. Até estava a correr bem mas, neste momento, está a ser difícil concentrar-me. De repente, sinto-me numa novela da Globo. Com imensas mesas vazias, aterraram aqui ao lado 4 dondocas loiras, uma delas portuguesa. Já falaram com os filhos pelo Skype. Já chatearam a funcionária por causa dos cafés.
1 delas pediu cappucino sem espuma (?!). Minha senhora, não vá à Itália. Lá não se bebe cappucino a meio da tarde.
Agora falam todas ao mesmo tempo. Em suma, fofocam até mais não. Já falaram da vida amorosa de várias pessoas. E juntaram-se todas para criticar uma delas que está a beber 1 uísque. Senhoras animadas. Não há sossego.