Hoje faz 30 anos que partiste. Lembro-me com nitidez de todos os pormenores daquele momento em que recebi a notícia que mudou a minha adolescência e a minha vida. Tinhas partido para sempre e contigo levaste parte do meu coração. O vazio e a dor, esses ficaram para sempre. A tua morte foi a bitola pela qual medi todas as dores destes 30 anos. Nenhuma foi mais intensa que a dor de te ter perdido. Podem ter andado muito perto mas nenhum dos meus momentos negros foi mais intenso do que aquele em que percebi que tu nunca mais ias voltar. Durante muito tempo, deitada na minha cama, julguei ouvir-te a subir a escada e a abrir a porta da nossa casa. É sempre cedo para perder o pai ou a mãe mas perder-te com 14 anos... foi duro demais.
No entanto, tu estiveste sempre comigo, pai. Em todos os momentos, alegres ou tristes, senti a tua presença, festejando comigo as minhas conquistas e consolando-me nas minhas derrotas.
Às vezes penso: E se tu não tivesses morrido? Se estivesses só a dormir e acordasses agora passados todos estes anos? Será que terias orgulho em mim? No caminho que percorri? Na mulher em que me tornei? Sabes, Pai, sei que muitas das minhas escolhas não foram as que tu sonhaste para mim mas eu tinha que encontrar o meu lugar no mundo. E encontrei. Gosto muito do que faço e sou feliz na profissão que escolhi. Sei, que muitas vezes, faço a diferença na vida das pessoas e isso é que importa.
Olha, Pai, quero que saibas que nunca te esqueci mas, apesar das muitas saudades, tenho tentado ser feliz como sei que tu gostarias que fosse. Com altos e baixos, posso dizer que tenho conseguido. Quando te perdi, caí no fundo e, durante a maior parte da minha adolescência, fui uma jovem revoltada e pensei: "porque é que isto me aconteceu?". Felizmente encontrei pessoas no meu caminho que me ajudaram a ultrapassar essa revolta. Nessa fraqueza, encontrei as forças que precisava. Por mais que a vida se complique, é muito difícil derrubar-me porque eu aprendi a reerguer-me, aconteça o que acontecer.
Nesse longínquo dia 9 de Outubro de 1988 pensei que o meu sorriso se tinha apagado para sempre mas um dia voltei a sorrir. Hoje a dor transformou-se e já sou capaz de me sentir feliz pelos bons momentos que tive o privilégio de viver contigo. No entanto, a ausência continua a pesar toneladas.
Espero que aí no céu haja boa cobertura de wifi para tu poderes ler esta minha carta. Aguardo a resposta na volta do correio.
O SapoBlogs propõe, neste dia, posts sobre o 25 de Abril. Há 2 anos escrevi este post dedicado ao meu pai em que lembrava como este dia era celebrado enquanto ele foi vivo. Nos últimos anos já não participo em desfiles mas, sempre que possível, assisto aos concertos que algumas autarquias oferecem na véspera e que entram pela "madrugada que eu esperava". A data continua a não passar em branco.
Gosto de ouvir a minha mãe contar os pormenores daquela manhã em que Portugal acordou para a democracia. Como o meu pai saiu para trabalhar e não o deixaram porque tinha que passar por uma das estradas por onde passaram os tanques a caminho de Lisboa. Como a minha mãe ficou nervosa e sobressaltada e passou grande parte do dia à janela para ver se via alguma coisa. Ou como o meu pai não parou em casa já que andava pelas ruas da nossa terra a perceber o que se passava e depois a festejar, imagino.
Não vivi nada disso, estava na barriga da minha mãe e nasci 2 meses e meio depois, mas posso vivê-lo na minha imagem.
Não me lembro mas não me esqueço dos valores da liberdade que aprendi com o meu pai.
Para quem foi criança nos anos 80, este anúncio não é novidade. Sempre fui gulosa e gosto muito destes chocolates de Natal. Adoro aquele "crunsh" que se sente ao mordê-los. Ao crescer fui deixando de colocá-las na árvore de Natal até porque, por estranho que pareça, as memórias que tenho das fantasias de Natal estão relacionadas com o meu pai.
Nos anos 80 do século passado, esse tempo longínquo, não havia tanta fartura de chocolates durante o ano como há agora. Para além disso, também não havia muito dinheiro para esbanjar. Assim que começavam a aparecer estes no supermercado, o meu pai ia comprando a pouco e pouco. Todos os sábados comprava 2 ou 3 e ia guardando num armário até fazer a Árvore de Natal. Nessa altura lá se colocava os chocolates entre as fitas e as bolas. Os chocolates só se podiam comer depois de se desmanchar a Árvore no Dia de Reis. Obviamente que também não tinha ordem para comer os chocolates todos de uma vez. Aquelas figuras, embrulhadas em papel brilhante e colorido, eram uma tentação.
Durante anos eu fui cumprindo as regras do meu pai com muita dificuldade. Até um dia em que a gulodice falou mais alto. Não consigo precisar quando foi que me rebelei. Presumo que devia ter 9 ou 10 anos porque até aí a minha mãe não trabalhava fora de casa por isso não dava para fazer disparates. A partir dessa idade, ficava algumas horas sozinha em casa. O que é que eu me fui lembrar de fazer? O meu pai começara já a comprar as desejadas fantasias de Natal. Como dizia atrás, a gulodice falou mais alto. Achei que podia abrir um bocadinho da prata, tirar um bocadinho de chocolate e voltar a embrulhar direitinho. E foi correndo tão bem que fui ficando mais afoita e comendo bocadinhos maiores. Quando o meu pai foi fazer a árvore de Natal e pegou nas ditas fantasias é que foram elas. Já estão a imaginar as figuras estavam muito desfalcadas. A fúria do meu pai foi épica. Levei umas boas palmadas (estavamos no anos 80, relembro) e nesse ano não houve mais chocolates para a menina atrevida e gulosa. Coitado do meu pai que ficou mesmo zangado. Ainda me interrogo como é que achei que era possível passar incólume. Doce ingenuidade.
Agora, como todos os chocolates que apetecem e quando me apetece. O pior é o aumento da cintura.
Este ano voltei a pôr chocolates na árvore de Natal e só vou "atacá-los" depois do Dia de Reis. É para me penitenciar por ter magoado o meu Pai, 30 anos depois. Palavra de Charneca.
Apesar deste Pai Natal me ter estado a chamar durante todo o serão de ontem
Os jornais e telejornais estão cada vez mais cheios de casos graves de violência e abandono sobre crianças. Esta semana ouvi 2 notícias muito perturbadoras. A primeira foi sobre aquele pai que matou o filho bébé à facada. Esta notícia é tão horrível que nem consigo fazer qualquer tipo de comentário sobre ela. A outra história é sobre o pai que foi entregar as 2 filhas à GNR. Os motivos que levaram a este acto são duvidosos. A história das crianças é triste. Há 3 anos encontraram a mãe morta em casa em circunstâncias estranhas. O pai lutou com os avós maternos pela custódia das filhas tendo ficado com guarda partilhada. Agora tem atitude destas... inesperada. Inicialmente, dizia que ele tinha entregue as filhas por motivos económicos. Agora surge a suspeita, sustentada por uma alegada discussão ouvida pelos vizinhos, de que ele abandonou as filhas por pressão da namorada que o "obrigou" a escolher entre ela ou as filhas. Nem sei quem é mais anormal, se uma mulher que faz uma exigência destas, se o homem que cede. Se alguém se apaixona por uma pessoa com filhos, tem que os aceitar, logicamente. Se o obriga a escolher entre as filhas e ela, não só não o ama como mostra não ter coração ao privar 2 adolescentes, que já perderam a mãe, da companhia do pai. O homem também deixa muito a desejar. Nem sei se o posso chamar de homem porque esta atitude é tudo menos uma atitude de homem. Haverá alguma mulher que valha o sacrifício de abandonar as filhas? Também começo a duvidar que ele ame as filhas. Não tem a miníma explicação. A função de um pai é amar e proteger as filhas. Este pai fez tudo menos isso. As meninas foram entregues aos avós maternos. Espero que eles tenham forças para as protegerem.