Ontem só me consegui deitar quando já faltavam poucos concelhos para apurar. Estive à espera para ter a certeza que Ana Gomes ultrapassava André Ventura o que, de facto, aconteceu. No entanto, o 3o lugar daquele candidato não me deixa nada sossegada. Não consigo acreditar que quase 500 mil portugueses votaram em André Ventura. Dói-me verificar que, quer no concelho onde trabalho quer no concelho em que vivo, o candidato de extrema-direita ficou em 2o lugar. Como é que é possível que as pessoas não consigam ver o risco que se está a correr?! Eu percebo que as pessoas se sintam insatisfeitas com o estado do país, da Europa e do Mundo. Foi em épocas assim que estas teorias avançaram, no passado. Mas têm mesmo a certeza que querem viver num país comandado pelos princípios do Chega?
Larguem as redes sociais e leiam livros de história, procurem informação em fontes fidedignas, percebam o mundo onde vivem e como é que chegámos a este ponto. E percebam quais são os meios de comunicação social verdadeiramente independentes porque a Comunicação Social também deve assumir a sua quota-parte de responsabilidade no surgimento deste tipo de forças. Ponham a mão na consciência e descubram qual é o caminho que querem trilhar.
Ontem as televisões mostraram imagens de uma manifestação violenta, com arremesso de objectos, junto a uma iniciativa de campanha do candidato André Ventura.
Assim não vamos lá. Para "derrotar" as ideias xenófobas, racistas e retrógradas deste indivíduo é preciso mais inteligência do que actos violentos. Uma vez que a sua candidatura foi considerada válida, o candidato tem todo o direito de fazer campanha até porque o estado de emergência não impede actos políticos. A democracia não está suspensa.
Podemos questionar como é que o regime democrático permitiu o surgimento destes fenómenos de extrema-direita. Aonde errámos como sociedade para que estas pessoas aparecessem no panorama político? É importante confrontar os adeptos deste senhor com ideias e não com pedras.
Há mesmo quem acredite que André Ventura é anti-sistema?! Ainda há poucos anos ele foi candidato autárquico pelo PSD. Não, André Ventura não é anti-sistema. Ele, apenas, deu mediatismo à "conversa de café". Aliás, nos debates percebeu-se que ele não é capaz de discutir uma ideia que seja. Limitou-se a falar mais alto do que os outros candidatos.
Estes actos violentos, bem como as piadas dos humoristas, só vão servir os objectivos deste indivíduo. Ele, e os seus seguidores, vão-se vitimizar. E isso até pode funcionar a seu favor.
Os leitores mais novos não se devem recordar da famosa paulada da Marinha Grande a Mário Soares. Decorria a campanha para a primeira volta das eleições presidenciais de 1986. A Marinha Grande era hostil a Mário Soares mas o candidato insistiu em lá ir. Era esperado por um grupo de oponentes e gerou-se uma situação de violência tendo o candidato levado bofetadas e pauladas. Antes deste incidente as sondagens não eram favoráveis a Mário Soares mas, depois do sucedido, o candidato usou esta situação a seu favor levando-o a conseguir levar as eleições para uma 2a volta que acabou por vencer.
Por fim, só quero dizer que se querem votar como forma de protesto, votem antes no Vitorino Silva, mais conhecido como Tino de Rans. Votar em André Ventura como protesto é muito arriscado. Depois não se venham lamentar.
Não estou a comparar estes dois políticos que isso até é ofensivo para Mário Soares. Só quero dizer que estes actos violentos podem ser contraproducentes e levar a resultados contrários ao que se pretende.