Os últimos dias não têm sido fáceis emocionalmente. É impossível ficar indiferente ao que se passa a Leste. Não conheço a Ucrânia mas conheço alguns países daquela zona da Europa e fico de coração partido com aquilo que as pessoas estão a passar. Os países que fazem fronteira com a Ucrânia, e que estão a receber refugiados, não são países ricos, antes pelo contrário. Como é que vão fazer frente a esta situação? Como é que vão lidar com aquela enchente de pessoas desesperadas e que saíram quase sem nada das suas casas? É de partir o coração ver a confusão das pessoas que tentam entrar nos comboios ou que chegam a pé às fronteiras, fragilizadas pela dor ou pelos anos de vida porque se vêem muitos idosos a chegar às fronteiras.
Não consigo deixar de ver notícias ou de fazer refresh no Twitter. Eu sei que é doentio. Já me aconteceu o mesmo no início da pandemia (hoje faz 2 anos que foi identificado o primeiro caso de Covid-19 em Portugal). Nos primeiros meses consumia notícias a um ritmo alucinante. Eu sei que é doentio mas não consigo evitar. Tenho que fazer um esforço suplementar para me concentrar noutra coisa. 2019 parece cada vez mais distante.
*Fear of missing out, medo de ficar fora dos assuntos mais actuais
Hoje acordei na aldeia. O dia amanheceu soalheiro. Apesar de já estarmos no Outono, ainda se ouve o piar dos passarinhos. E um cão a ladrar de vez em quando. Também passam alguns carros. Já fui ao pão. Pelo caminho dei os bons-dias a todas as pessoas com as quais me cruzo e observo os jardins e os vasos à porta das casas. Na aldeia é possível pedir um pacote de leite emprestado aos vizinhos e há sempre quem ofereça uns legumes ou ovos caseiros. Sempre gostei destes ambientes.
A julgar pelas inúmeras reportagens dos últimos meses, há quem tenha descoberto os benefícios de viver no campo devido à pandemia. Eu não vivo cá permanentemente mas aprecio vir cá recarregar baterias. Numa aldeia há uma sensação de liberdade que não se sente nas vilas ou nas cidades. Aqui respira-se com mais vontade.
Há pouco fui beber um café a uma esplanada. Parece uma actividade sem grande história, não é verdade? Acontece que deve ter sido a segunda vez que tomei café fora de casa desde meados de Março (quando começou o estado de emergência). Cumpri todas as recomendações das autoridades de saúde mas mesmo assim, em vez de ter prazer em estar ali, fiquei em stress. Numa mesa próxima vi cerca de 7 pessoas a tomar o pequeno-almoço numa mesa com capacidade para 4 pessoas, numa situação normal. Não me pareceu que fizessem parte do mesmo agregado familiar. Afastei-me o mais possível de tal grupo.
Levei comigo uma revista e escolhi para ler um artigo sobre as sequelas, para a saúde futura, da covid-19. Isso também não ajudou à descontracção. Obviamente, que fiquei lá o mínimo tempo indispensável para beber o café.
Eu até nem costumo ser uma pessoa muito pessimista. Aliás, nesta situação do coronavírus, acreditei durante muito tempo que nunca chegaríamos a ponto em que estamos. Pensei que isto era uma doença que não chegaria à Europa ou ao resto do mundo da maneira que chegou.
No entanto, estou muito preocupada com o fim do Estado de Emergência e com o início do desconfinamento. Obviamente que a economia não pode estar parada mais tempo mas sinto, pelo que ouço das pessoas, que os portugueses estão convencidos que, a partir de 2a feira, a vida volta ao normal. Não volta. Interiorizem que os cuidados são para manter senão podemos viver uma situação verdadeiramente dramática.
Outra coisa que me tem irritado é esta ideia de que a humanidade vai ficar melhor depois desta experiência surreal. Lamento. Também não vai acontecer. Já se nota o egoísmo vir ao de cima. Reparem bem naquilo que se vai passando à vossa volta.
É uma pena. Eu queria muito que todos nós saíssemos disto melhores pessoas .
O mundo está mesmo virado do avesso. Há bem pouco tempo, reclamava-se que as pessoas, principalmente as crianças e os jovens, tinham uma vida sedentária e passavam o tempo na internet nas mais variadíssimas redes sociais. Em certos países, as relações humanas já eram predominantemente à distância de um clique em vez de serem à distância de um abraço. Agora até se estimula que se sirvam das mesmas redes sociais diabolizadas para manterem o contacto com os outros, uma vez que o contacto físico de proximidade está contra indicado. Não dá para compreender.
Tenho-me apercebido que há um sentimento que tem desaparecido da nossa sociedade e já não é de agora. Refiro-me à empatia.
Seja a propósito dos refugiados, do repatriamento dos portugueses que estavam em Wuhan, dos negros, dos brasileiros enfim a propósito de todos aqueles que são diferentes ou que vêm de fora, nota-se que as pessoas têm uma grande dificuldade em se colocarem "nos sapatos dos outros". Isto acontece entre aqueles com quem interajo todos os dias ou nos infâmes comentários que se lêem no Facebook ou no Twitter.
Muitas vezes a falta de empatia chega a tocar outro sentimento, o ódio. Esses comentários partem não de pessoas com pouca instrução mas de indivíduos que têm obrigação de ter algum conhecimento. Fico especialmente incomodada quando essas atitudes, sejam ao vivo ou virtuais, são tomadas por pessoas que conheço há muitos anos. Não sei se sempre pensaram assim ou se as pessoas foram (des)evoluindo com o tempo.
Há dias que passo pelo Facebook e até fico indisposta. Dá-me vontade de deixar de lá ir ou então de fazer uma limpeza sumária aos "amigos" xenófobos ou racistas.
Quando a conversa ocorre ao vivo é mais complicado. Às vezes não consigo evitar de argumentar em sentido contrário mas depois penso que não vale a pena o esforço.
Concedei-nos Senhor, a Serenidade necessária Para aceitar as coisas que não podemos modificar Coragem para modificar aquelas que podemos E Sabedoria para reconhecer as diferenças.
Habitualmente é associada a grupos de inter-ajuda como, por exemplo, os Alcoólicos Anónimos ou os Narcóticos Anónimos. Na verdade, pode ser aplicada à vida do dia-a-dia de todos nós. Lembrei-me dela quando se falava de alguns problemas que 2 colegas têm enfrentado nos últimos tempos. Esta oração parece-me um bom lema de vida, não concordam?
Ontem fui a uma formação sobre cuidados capilares. O cabelo é muito importante para a nossa auto-estima. O estado do nosso cabelo, assim como da nossa pele, dizem muito sobre a nossa saúde, o nosso estado emocional e o nosso estado nutricional. Para além, de cuidarmos da nossa saúde e das nossas emoções, podemos e devemos cuidar e alimentar o nosso cabelo. Em vez disso fazemos-lhe imensas maldades que não compensamos com cuidados adequados. Ontem aprendi imenso sobre uma das marcas de cuidados capilares que temos disponível na farmácia, a René Furterer. Imagino que o que acontece comigo, também acontece convosco. O tratamento capilar que faço é lavar, colocar um condicionador ou uma máscara, e em dias bons, um produto de acabamento para as pontas secas. Mas aplico estes produtos sempre a correr. Com a velocidade que os aplico, não sei se fazem grande efeito. Na verdade, para cuidar bem do cabelo, assim como da pele, é preciso tempo e atenção. Hoje em dia, queremos efeitos imediatos em todos os aspectos da nossa vida. Cuidar do cabelo é como cuidar de plantas, exige tempo, dedicação e amor.
E, se extrapolarmos para a vida, tempo, dedicação e amor fazem falta para cuidarmos de nós mas também para cuidarmos dos outros. O tempo é um dos bens mais preciosos e cada vez mais raros.
Às vezes parece que as séries, os filmes, os livros trazem-nos histórias tão inverossímeis que pensamos: "Isto nunca podia acontecer na vida real". Mas depois descobrimos situações, acompanhamos amigos com problemas complexos mas reais que pensamos: "Isto é tão inverossímil que se pode ser ficção". Ficamos sem saber se é a ficção que imita a realidade ou se é a realidade que imita a ficção.
Neste mundo que corre a uma velocidade voraz já chego um pouco atrasada com esta notícia
Obviamente, que já não vale a pena descrever o que aconteceu até porque já toda a gente deve conhecer a história deste herói, deste homem-aranha da vida real e de como este acto mudou a sua vida. Este jovem do Mali passou de emigrante ilegal em França para convidado para o Eliseu, condecorado, legalizado e até já tem emprego garantido. O que eu gostava de reflectir é sobre o quanto é refrescante ver uma notícia destas na nossa comunicação social. Contrasta com o registo habitual das desgraças, da corrupção na política e no futebol ou da violência. Ou do aumento dos combustíveis e dos disparates do Trump. Quantas histórias destas nos passarão ao lado porque não têm espaço noticioso? Afinal, nesta sociedade egoísta em que vivemos, ainda há pessoas generosas e corajosas. Será coincidência virem de outra zona do mundo que não do chamado mundo mundo ocidental?!