Uma das notícias que marcou o dia de ontem foi esta. A corrupção choca-me sempre mas, na área da saúde, incomoda-me mais. A operação "O negativo" (há uma pessoa na PJ só a inventar estes nomes?!) investiga suspeitas de corrupção no fornecimento dos derivados do sangue. A empresa Octapharma (pois, essa mesmo) tem uma posição de monopólio nesta área há uma série de anos. Os envolvidos são suspeitos de favorecer esta empresa no concurso a troco de benefícios para si próprios.
O simples facto de ter que recorrer a uma empresa para fornecer plasma já é duvidoso. Neste país o plasma que resulta das doações benévolas, repito benévolas, é desperdiçado e depois paga-se milhões aquela empresa para vir plasma do estrangeiro. Nenhum ministro da saúde se resolver se há uma possibilidade economicamente viável de aproveitar o nosso plasma português, parte desse sangue que os portugueses dão sem nenhum proveito para si próprios? Ganham um lanche e a sensação de dever cumprido.
Infelizmente nunca consegui dar sangue. Gostava muito de o poder fazer mas quando vejo estas maquinações perco logo a vontade.
No pouco tempo que já trabalhei neste novo ano, já fiquei farta de pedir números de contribuintes aos utentes da farmácia. Tudo por causa desta novidade de as despesas dedutíveis em IRS aparecerem pré-preenchidas na declaração de IRS de 2015. Ora este ano, para além das despesas de saúde, vai ser possível deduzir outras despesas, as chamadas despesas gerais familiares. Isto pode significar que as pessoas comecem a pedir facturas em tudo o que é sítio, incluíndo no supermercado aumentando o tempo que se espera para pagar. Mas já alguém tentou perceber esta história das despesas gerais familiares? Eu dou uma ajuda:
" • 35% das despesas gerais familiares (por exemplo, despesas com supermercado, vestuário, combustíveis, água, luz, gás ou outras), até ao máximo dedutível de 250 euros por sujeito passivo (corresponde à realização de despesas até 715 euros por sujeito passivo);"
Tendo em conta que as despesas com a água, gás e luz já são facturadas com o número de contribuinte, façam as contas de quanto gastam nestas despesas durante o ano. Vão verificar que facilmente se atinge 715 euros anuais só com estas despesas.
Ainda ontem, na fila do supermercado, ouvi um senhor responder o seguinte, à menina da caixa que perguntava se queria factura com o NIF:
- Claro, agora tem que ser.
Não, meu senhor, não tem que ser. Vá lá fazer as contas das suas despesas e deixe-me pagar as minhas compras em paz e sossego e com rapidez. Era isto que eu tinha vontade de lhe dizer mas contive-me.
Conselho para este domingo frio: façam contas às despesas e descubram se vale mesmo a pena guardar mais papéis na carteira.