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O Voo da Garça

Sonhos, desejos, opiniões, instantes da vida diária...

O Voo da Garça

Sonhos, desejos, opiniões, instantes da vida diária...

25
Jun22

Pobre criança

Charneca em flor

Durante alguns dias consegui ir escapando às notícias sobre o caso da menina, Jessica de seu nome, que foi brutalmente assassinada em Setúbal. Mas não foi fácil. Mesmo quando não vejo espaços noticiosos na televisão, as notícias vão aparecendo no telemóvel. Eu até costumo ser resistente a este tipo de situações, houve uma altura em que via as crónicas criminais dos programas da manhã enquanto almoçava. No entanto, esta história ultrapassa todos os limites do horror. É demasiado escabrosa até para mim. 

É inacreditável como acontecem estes casos no séc. XXI. Como é que há quem acredite em bruxaria? Como é que as crianças continuam a ser tratadas como objectos que podem ser transacionados? Que sociedade estamos a construir se permitimos que os seus elementos mais frágeis e indefesos sejam sujeitos a este tipo de sevícias?! É preciso reflectir sobre o trabalho desenvolvido pelas Comissões de Protecção de Crianças e Jovens. Quando surgem estes casos, parece que as acções da CPCJ são, claramente, insuficientes. Mas é preciso perceber se os meios de que dispõem são os adequados.

Uma sociedade que não é capaz de defender as suas crianças é uma sociedade falhada.

10-coisas-que-deixam-as-criancas-felizes.jpg

 

19
Mar22

Pró menino e prá menina

Charneca em flor

Ontem, na farmácia, assisti a uma conversa familiar. Os pais tinham ido comprar antipiréticos porque o menino, de 2 ou 3 anos, estava adoentado. Enquanto esperavam pela vez, foram vendo os acessórios  de puericultura que estavam num expositor. O menino estava mesmo muito prostado mas ia dizendo: "quero um copo com palhinha, quero um copo com palhinha." O único copo disponível era cor-de-rosa e o pai pergunta se era o único que tínhamos. Efectivamente, não havia outro e não quiseram comprar aquele.

No fim do atendimento, enquanto se dirigiam à saída, o menino continuava a repetir: "quero um copo com palhinha, quero um copo com palhinha." Qual não é a minha surpresa quando oiço a mãe responder: "aquele não é para ti, é cor-de-rosa, é para menina e tu és um menino".

A minha pergunta é só uma, porque é que se continua a propagar estas ideias e comportamentos? Qual é o problema em o menino beber água num copo cor-de-rosa? Não era já tempo de destruir estas ideias ultrapassadas.

Afinal aquele menino apenas queria um copo com palhinha.

13
Ago21

Emancipação feminina

Realidade ou mito

Charneca em flor

A emancipação feminina e os direitos das mulheres são temas que sempre me interessaram. Já se percorreu um grande caminho mas a estrada é longa. Para mim há algo que considero de extrema importância, a independência económica. Mesmo quando a dependência emocional é muito grande e as mulheres ficam demasiado tempo em relações infelizes ou mesmo abusivas, a independência económica permite pensar que, mais tarde ou mais cedo, as mulheres se poderão libertar da opressão de uma relação que já não faz sentido. Obviamente que em relações saudáveis e felizes também é bom que, para além daquilo que são enquanto casal, que ambos funcionem bem como seres individuais, que se realizem profissionalmente e que ambos contribuam para a manutenção da vida quotidiana.

Nos últimos tempos, em famílias que me são próximas, tenho assistido à perversão do conceito de emancipação de que falava no início. Faz-me uma tremenda impressão ver jovens mulheres, na casa dos 30 anos, que aceitam viver, mais do que às custas do companheiro, às custas dos pais do companheiro.

Tantas mulheres nos antecederam e lutaram pelos direitos das mulheres para, em pleno XXI, ver jovens que estão dependentes dos sogros para comprar a coisa mais corriqueira que possam imaginar. Eu considero uma enorme falta de respeito por si própria ou então uma enorme preguiça e acomodação à situação confortável de não ter que lutar pela vida e pelo sustento. Para mim, não dava. Quando estava quase a terminar o meu curso, o meu maior anseio era começar a trabalhar rapidamente para deixar de depender da minha mãe. Felizmente, consegui o meu lugar no mundo laboral

26
Nov20

Dúvidas existenciais

Charneca em flor

Há uma série de dúvidas que me tem assaltado o espírito, ultimamente. Passo a elencar:

  • Os negacionistas da pandemia são as mesmas pessoas que acreditam que a Terra é plana e que a chegada do Homem à Lua foi uma encenação filmada algures nos Estados Unidos da América?
  • Também serão do clube anti-vacinas?
  • Surgiram agora ou sempre existiram?
  • Estariam escondidos debaixo de que pedra? Ou em que gruta?
  • Serão assim tantos que justifiquem a atenção da comunicação social, dos humoristas e a minha própria atenção?
  • Os "médicos pela verdade" tiraram o curso aonde? Na escola da vida ou na Farinha Amparo?
  • A existência dos "jornalistas pela verdade" implica que todos os outros são pela mentira? Acredito que até um adolescente que escreva para o jornal de parede da escola tem mais ética profissional do que estes pseudojornalistas.

Eu já desconfiava que havia muita gente descompensada à solta mas a pandemia, e tudo o que a rodeia, intensificou a loucura que anda por aí.

 

05
Jun20

O outro lado da Covid19

Os novos pobres

Charneca em flor

A minha profissão dá-me muito prazer mas há sempre momentos bons, inspiradores mas também há situações que nos deixam de coração apertado. 

Ontem atendi um senhor relativamente novo, na casa dos 30/40 anos. A receita tinha medicamentos relacionados com colesterol elevado, hipertensão e anticoagulantes (para prevenção de AVC e enfartes).

Processei a receita com os medicamentos genéricos que tinha disponíveis os quais apresentavam um preço médio. Quando lhe disse o valor, o utente disse-me que não tinha dinheiro suficiente porque tinha ido pedir ajuda à Segurança Social e eles tinham-lhe dado o valor correspondente ao preço que aparecia na receita.

Muitas vezes o valor que aparece na receita como sendo o valor máximo a pagar diz respeito a  genéricos que estão esgotados ou muito difíceis de arranjar.

Fiz várias tentativas dentro do stock que tinha disponível mas não conseguia arranjar uma solução. Acabei por ter que pesquisar nos armazenistas e lá consegui uma solução.

Mas não foi o trabalho e o tempo dispendido que me incomodou. Foi o olhar daquele homem por cima da máscara. Tão triste, tão humilde. Fiquei tão incomodada por ele se ter humilhado ao ponto de me ter dado a informação quanto à proveniência do dinheiro. Que historia de vida estará por trás daquele olhar? 

É tão aflitivo perceber que as pessoas não têm dinheiro para o que é essencial. E isto ainda é só o princípio do período de crise económica que nos espera. Quantos de nós, portugueses, estarão já no limiar da pobreza?

 

 

20
Fev20

Eutanásia, sim ou não?

Charneca em flor

 

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Hoje a Assembleia da República discute os projectos de lei sobre a legalização da Eutanásia em Portugal. Este tema causa-me algum desconforto e sinto-me dividida em relação a ele. Não consigo ter uma opinião taxativa. Não posso dizer que concordo a 100% mas também sinto que não tenho o direito de julgar as pessoas que, em situação de sofrimento extremo, prefiram acelerar o processo da natureza. No entanto, a nossa legislação já prevê a recusa de tratamento e o testamento vital*. Já são instrumentos para que a vida não seja prolongada em casos de algumas patologias muito graves.

Não queria estar na pele dos deputados por isso até prefiro que não se avance para referendo como algumas vozes da sociedade propõe. Não saberia como votar.

Neste artigo do Público consegue-se perceber as diferenças e/ou semelhanças entre as 5 propostas que serão discutidas hoje.

 

*O testamento vital ou diretiva antecipada da vontade é o documento onde o cidadão pode inscrever os cuidados de saúde que pretende ou não receber. Permite também a nomeação de um procurador de cuidados de saúde. Para saber mais sobre este tema pode-se passar pela página do SNS 

05
Fev20

Empatia, sentimento em vias de extinção

Charneca em flor

Tenho-me apercebido que há um sentimento que tem desaparecido da nossa sociedade e já não é de agora. Refiro-me à empatia.

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Seja a propósito dos refugiados, do repatriamento dos portugueses que estavam em Wuhan, dos negros, dos brasileiros enfim a propósito de todos aqueles que são diferentes ou que vêm de fora, nota-se que as pessoas têm uma grande dificuldade em se colocarem "nos sapatos dos outros". Isto acontece entre aqueles com quem interajo todos os dias ou nos infâmes comentários que se lêem no Facebook ou no Twitter.

Muitas vezes a falta de empatia chega a tocar outro sentimento, o ódio. Esses comentários partem não de pessoas com pouca instrução mas de indivíduos que têm obrigação de ter algum conhecimento. Fico especialmente incomodada quando essas atitudes, sejam ao vivo ou virtuais, são tomadas por pessoas que conheço há muitos anos. Não sei se sempre pensaram assim ou se as pessoas foram (des)evoluindo com o tempo.

Há dias que passo pelo Facebook e até fico indisposta. Dá-me vontade de deixar de lá ir ou então de fazer uma limpeza sumária aos "amigos" xenófobos ou racistas.

Quando a conversa ocorre ao vivo é mais complicado. Às vezes não consigo evitar de argumentar em sentido contrário mas depois penso que não vale a pena o esforço.

Será que me estou a dar com as pessoas erradas?

30
Nov19

Para preta já basto eu

disse ela

Charneca em flor

Como é habitual, o meu dia-a-dia profissional é um manancial de situações caricatas. Esta semana houve uma utente que me pôs a rir à gargalhada embora isso não seja difícil. Neste tempo em que se fala de extremismo, em que o adormecido racismo português acordou, em que se tem que ter cuidado com o nosso discurso para que seja politicamente correcto é sempre refrescante quando alguém se ri das suas próprias características. 

A senhora procurava uma escova de cabelo desembaraçadora específica. Tinha visto a divulgação dessa escova numa página de Instagram e diz-me assim:

- Se desembaraça o cabelo dela (a instagrammer), também desembaraça o meu. Ela também tem cabelo de preta como eu. Parece palha de aço.

Já não estou habituada a que as pessoas usem as palavras com este desassombro "preta como eu".

Só havia 2 cores de escova, cor de rosa/roxa e preta. Obviamente que ela escolheu a escova colorida:

- Levo esta, para preta já basto eu.

Tive que me rir, não estava nada à espera que ela se saísse com esta tirada.

Tantos eufemismos que nós arranjamos para falar destas características físicas das pessoas e esta senhora diz de si própria "para preta já basto eu".

29
Out19

A arte de decifrar os outros

Charneca em flor

No passado sábado fui a uma formação. Entre vários temas expostos, houve um que me chamou mais a atenção. O último palestrante foi Alexandre Monteiro e a sua prelecção teve como tema "Decifrar pessoas". A palestra foi muito interessante. Penso que a maioria de nós consegue intuir que a linguagem não verbal é tão importante como a linguagem verbal. Aliás há estudos que concluem que a linguagem corporal comunica mais do que aquilo que dizemos. É importante perceber o que os outros dizem através da sua postura quer em contexto profissional quer em contexto pessoal. Gestos tão simples como franzir a testa ou o nariz podem indicar, a uma pessoa atenta, de que não gostamos de algo. Os truques do Alexandre Monteiro vão poder ajudar-me a decifrar os meus utentes mas também poderão ser úteis para poder controlar melhor os meus gestos de modo a que a minha linguagem corporal facilite a compreensão da mensagem que pretendo transmitir. O Instagram de Alexandre Monteiro é muito esclarecedor e tem imensos exemplos de como podemos interpretar os gestos dos outros.

Eu digo muitas que o problema não é o que se diz mas o tom com que se diz. No entanto, tudo tem a sua importância seja a mensagem, o tom ou os gestos com que se comunica.

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O que acham desta imagem? Acham que o nível de interesse dos 2 intervenientes é o mesmo? O que será que esta imagem nos poderá dizer?

 

 

09
Mar19

Ajudar ou não?!

Charneca em flor

estrada.jpg

 

Ontem uma das minhas colegas contou-nos uma história insólita que lhe acontecera na noite anterior. Regressava a casa de carro com o marido numa estrada pouco movimentada através do campo. Reparam numa mulher que caminha pela berma, lanterna acesa e ar assustado. A minha colega convence o marido a voltar para trás para perceberem se a mulher precisava de ajuda. Acabaram por lhe dar boleia até ao local onde a pessoa tinha o carro, a muitos quilómetros de distância. Ao que parece, a mulher tinha ido a uma quinta naquela zona com o namorado e como se zangaram saiu porta fora e pensava ir caminhando até chegar ao carro que estava muito longe. 

O que fariam numa situação destas? Paravam para ajudar como a minha colega ou seguiam em frente? Quando fiz formação com o INEM, a médica formadora alertou-nos que, primeiro que tudo, está a nossa segurança. Numa situação similar podia-se, por exemplo, parar mais em frente, em local seguro, para alertar o INEM para a existência de uma pessoa, potencialmente em perigo, naquela estrada para que as autoridades prestassem auxílio. 

Desse lado, o que fariam?

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