Uma das piores consequências do passar dos anos é que vamos vendo partir pessoas que fazem parte das nossas memórias. Foi o que aconteceu ontem. Recebi a notícia da morte da mãe de uma das minhas amigas da faculdade. Uma mulher divertida e cheia de vida é a imagem que eu guardo dela. Muitas vezes me recebeu na sua casa já que ficava lá, algumas vezes, quando dormia em Lisboa. E recebia-me sempre, a mim e às outras colegas do grupo, com muita alegria. A sua gargalhada é inesquecível. Fazia um casal giríssimo com o pai da minha amiga, ela muito faladora e animada e ele sempre muito calmo e tranquilo. Como havia outra colega com o mesmo nome que eu, ela chamava-me "a S. das belas pernas" (há 20 anos era verdade!) porque eu usava muitas saias curtas.
Depois de terminarmos a faculdade, ainda nos fomos cruzando, nos casamentos, baptizados e aniversários. Era possível ficar séria ao pé dela, era a alma da festa e da brincadeira. A bebida preferida da Dona P. era um bom e fresco vinho branco que ela bebia sempre. Nessas alturas, quando o vinho branco passava um bocadinho da conta, dizia outra frase muito típica: "Nunca viste uma preta bêbeda, pois não?" só para provocar as nossas gargalhadas.
A Dona P. partiu mas eu ergo um copo de vinho branco bem gelado em honra dela. A melhor maneira de a homenagear é com alegria e não com lágrimas. Um dia, ainda vou conhecer a sua terra, São Tomé e Princípe.
Espero que Deus a tenha recebido de braços abertos e que, neste momento, a Dona P. tenha posto o paraíso a rir à gargalhada.
Nas últimas horas, os destaques dos Blogs do têm sido dominados por posts dos novos caloiros deste ano. Para além disso, os blocos informativos também têm falado do assunto. Tudo isto me fez recuar alguns anos, 22 para ser mais exacta. Naturalmente que nessa altura, a maneira como se concorria era muito arcaica quando comparada com o processo actual. Nesses tempos antigos, foi preciso deslocar-me à capital do meu distrito, Santarém, para formalizar a candidatura por escrito preenchendo um confuso formulário. Depois era preciso esperar até Setembro tal como agora. O Verão de 1992 foi, sem dúvida, o mais longo da minha vida. No dia estipulado era preciso voltar a Santarém (de autocarro, obviamente, e não havia assim muitos) de manhã cedo até porque a ansiedade era muita. Lá chegadas, eu e outras miúdas minhas amigas, era preciso enfrentar uma grande subida até ao Politécnico. Quando lá cheguei, todo o cansaço desapareceu quando vi a palavra "colocada", na minha primeira opção, em frente ao meu nome. Vivi poucos momentos tão emocionantes como aquele. Depois foi preciso controlar a alegria até chegar a casa e partilhar essa alegria com a minha mãe. Nem todas as minhas amigas ficaram colocadas o que teve que moderar os festejos, como é natural. Um dia emocionante, inesquecível e que parece tão presente.
Muitos parabéns a todos os jovens que conseguiram entrar para a Universidade, esperam-nos anos de muito trabalho mas também anos de muito divertimento. Desejo-lhes muito sucesso. Aos que não entraram, tenham esperança num amanhã melhor.