Ontem recebi um telefone, na farmácia, absolutamente surreal. Comecei por falar com um pessoa e acabei a falar com outra. A jovem, pelo menos pareceu-me jovem, tinha vergonha de falar por isso tinha pedido à amiga para telefonar. A pessoa em questão queria engravidar e não estava a conseguir. Disse-me que tentava há 6 meses e telefonou para perguntar se havia algum "comprimido que pudesse ajudar". Para além de lhe dizer que existe um suplemento que pode ajudar a melhorar a fertilidade, aconselhei a ter calma e não estar muito ansiosa já que a ansiedade pode atrapalhar nestas alturas.
Pergunta da jovem: "Porque é que diz isso?"
O meu pensamento foi "Porque se nota na voz que é ansiosa e porque uma gravidez não surgir ao fim de 6 meses é perfeitamente normal"
Mas só lhe fui dizendo para ficar menos ansiosa que a gravidez iria surgir. O que eu não estava à espera é que ela me dissesse:
- Mas é que nós temos relações sexuais todos os dias e de todas as maneiras e feitios. A Sra não tem noção.
Imagino que até tenha feito o pino. Esta jovem tem muito que aprender. Nas relações sexuais, sejam recreativas ou para reprodução, deve-se privilegiar a qualidade em vez da quantidade. Até porque a mulher só é fértil alguns dias por mês e ejaculações diárias prejudicam a qualidade dos espermatozóides.
Os utentes dizem muitas coisas que eu escusava de ouvir
Aqui há meses fui convidada a colaborar com uma revista local. A ideia da revista é dar uma imagem alegre e positiva da cidade onde trabalho. Para além disso, também divulga o que de melhor se faz em termos empresariais, culturais ou desportivos. Dá a conhecer as pessoas que fazem esta cidade, os seus sonhos e as suas expectativas. Eu colaboro com pequenos artigos relacionados com a saúde já que é nessa área que exerço a minha actividade profissional. O convite foi dirigido à farmácia mas a patroazinha achou logo que eu é que tinha jeito para isso. Obviamente, que eu achei piada à ideia e aceitei logo a tarefa. O único problema é que o director da revista pede-me textos pequenos (até porque se forem muito longos ninguém lê). Aí reside o meu maior obstáculo. Nunca tive boa capacidade de síntese. Até quando fazia "resumos" da matéria, na faculdade, estes eram maiores que o texto inicial. Para me orientar pediram-me que o texto tivesse +/- 2000 caracteres. Já é uma ajuda porque um texto que é pequeno para mim pode ser enorme para outra pessoa. No entanto fica sempre tanto por dizer. Se calhar também é melhor aplicar o mesmo princípio aqui ao blogue.
Na vossa opinião, quantos caracteres deveria ter o post ideal?
P.S. - As saudades que eu tenho da minha velhinha máquina de escrever
Estas são as imagens do meu último dia de férias. São imagens típicas desta altura do ano. Hoje sinto-me nostálgica por voltar ao trabalho. Com o fim das minhas férias já me cheira a fim de Verão. Ainda não estou com saudades do trabalho mas se não fosse o fruto do meu trabalho não poderia ter tido as férias que tive. Por isso há que agradecer por ter um emprego que me satisfaz, me completa e me faz feliz. E, amanhã, é ir para a farmácia com cara alegre e coração leve para enfrentar os novos desafios.
A memória visual, às vezes, prega partidas. Há certas características que nos marcam de tal maneira que mesmo que essas caracterísricas se alterem, as pessoas não se esquecem. Eu explico. Sou muito, muito miope o que levou a que usasse, desde os 7 anos, óculos "fundo de garrafa". Há quase 17 anos, quando comecei a trabalhar na farmácia, ainda usava esses tais óculos, lindos como podem imaginar. Os utentes habituais e mais antigos conheceram-me assim, "caixa-de-óculos". Acontece que há uns anos, comecei a usar, regularmente, lentes de contacto o que faz toda a diferença na minha cara. Já devo usar lentes há 10 anos. Na minha opinião, fico muito diferente com ou sem óculos. Qual não é a minha surpresa quando alguém não se lembra do meu nome e tenta explicar quem eu sou dizendo: " Sabe, quem me atendeu foi a sua colega alta e com óculos". (!!!!!) Das duas, uma. Ou as pessoas andam muito distraídas ou os meus utentes é que precisam de usar óculos. Não se entende.
Na minha profissão, a formação académica só fica completa com o estágio em ambiente de trabalho. Já fui estagiária há cerca de 16 anos e correu tão bem que fiquei a trabalhar no local onde o estágio decorreu. E lá fiquei até hoje...
Uma das características que agradou à minha orientadora de estágio foi a minha humildade. Quando saimos da faculdade estamos cheios de conhecimento teórico mas muito pouco conhecimento prático. E sabemos tão pouco da vida. Naqueles 4 meses o meu lema diário foi aprender, aprender, aprender e a seguir aprender mais ainda.
Esta introdução serve para falar da estagiária que está lá no estaminé há 3 semanas. Vai lá ficar até Agosto e já está a correr tão mal. A miúda é inteligente, bem preparada, tem um grande conhecimento da área mas é tão pouco humilde. Tem tanta mania que não se pode aturar. Do meu ponto de vista, não se pode chegar a uma equipa já formada há alguns anos, com hábitos enraizados, insinuar que as tarefas não se executam da melhor maneira (o que até nem é mentira) e querer mudar a maneira de trabalhar.
Nem quero pensar que ainda falta tanto tempo para ela ir embora. O que vale é eu sou uma pessoa muito paciente. Não se pode dizer o mesmo da maioria das minhas colegas.
Eu não sou grande apreciadora de crochet mas não podia deixar de me sentir sensibilizada com esta simpática oferta de uma das minhas utentes. É preciso talento para fazer este cabaz. Eu tenho inveja de quem consegue fazer trabalhos manuais com esta perfeição. Eu faço ponto cruz e tricot mas sou um bocadinho trapalhona. Gostava muito de ter este talento mas cada qual é para o que nasce. Ainda por cima, o cabaz, para além de bonito, vinha recheado com umas deliciosas broas caseiras. Trabalhar com o público pode ser muito cansativo e desgastante mas também muito gratificante. Não digo isto por ter recebido as broas, naturalmente, mas pela simpatia do gesto desta senhora. É sinal que o meu trabalho e as minhas acções tocam as pessoas de alguma maneira.
Se bem se recordam, aqui há tempos falei da minha colega que deixou o emprego repentinamente para ir trabalhar para o estrangeiro. Tal como eu imaginava, têm sido dias difíceis. O cansaço físico e psicológico é muito. Tenho consciência que não estou a ser a melhor profissional possível. Mas, mal ou bem, lá nos vamos aguentando. E como cada momento de crise é uma oportunidade, o facto de aquela colega se ter ido embora deu a possibilidade de se proporcionar o primeiro emprego a uma jovem licenciada. Pouco a pouco, o equilíbrio vai-se restabelecendo e tempos mais felizes virão. Como diz o povo, "quando Deus fecha uma porta, abre-se, logo, uma janela". A nova colega é, ainda, um bocadinho tímida mas muito querida. Parece-me que está a ser bem aceite pela restante equipa e que se vai integrar com facilidade. Obviamente, que, nestes tempos mais iniciais, será preciso dar muito apoio mas já será uma grande ajuda para que nós, as que ficaram a aguentar o barco, não fiquemos loucas de todo. A vida arranja, sempre, maneira de seguir em frente.
P.S. - Vamos ver se fico com a cabeça mais leve para me poder dedicar aqui ao estaminé.
A minha semana foi um autêntico reboliço. O equilíbrio do meu local de trabalho ficou comprometido com a repentina saída de uma das colegas a quem surgiu uma proposta para trabalhar no estrangeiro. Quando ainda há férias para tirar, ficámos com menos 1 pessoa. Numa pequena empresa, uma pessoa faz toda a diferença. Num primeiro momento dei-lhe toda a força e senti até alguma inveja pela sua juventude que eu já perdi e pelo espírito de aventura que eu nunca tive. Quantas vezes penso que devia ter passado por experiências destas quando tinha menos compromissos para honrar. Depois comecei a pensar que há valores que se foram perdendo e que levam a que alguns jovens sejam capazes de gestos absolutamente irresponsáveis. Naturalmente que ela é livre para seguir este novo caminho que escolheu mas sair em semana e meia é uma grande falta de consideração e gratidão pela proprietária da empresa, que a adorava e privilegiava acima das funcionárias mais antigas, bem como uma grande falta de respeito pelas colegas que vão ter que passar a trabalhar a dobrar para compensar a sua saída. Cada um de nós, enquanto trabalhador, para exigir direitos tem que cumprir os seus deveres. Parte de mim, deseja-lhe o melhor mas a outra parte está um pouco revoltada com esta saída intempestiva quando nada o fazia adivinhar. Os próximos meses vão ser muito cansativos.
Para equilibrar esta semana, nada melhor que uma tarde bem passada entre amigos para que eu continue a acreditar nas pessoas, nos valores e na juventude. Excelente tarde com boa comida, boa bebida, boa conversa e uns mergulhos na piscina com água aquecida pelo sol. O domingo também promete ser agradável. a ver vamos.
Desde muito nova que decidi que iria trabalhar na área da saúde. Pensei em medicina mas nem cheguei a concorrer. Concorri a Ciências Farmacêuticas, a enfermagem e também a outras possibilidades na área das ciências que também me poderiam encaminhar, indirectamente, para a saúde. Acabei por ir mesmo parar a Ciências Farmacêuticas e já trabalho em Farmácia Comunitária há 15 anos. Gosto muito do meu trabalho, do contacto com as pessoas, de acompanhar várias gerações da mesma família. O farmacêutico tem um papel importante porque é o último profissional de saúde que contacta com o doente antes de ele ir para casa fazer o tratamento e muitas vezes também é a primeira pessoa a quem se recorre quando surge um problema de saúde. Eu vivo o meu trabalho apaixonadamente chegando a envolver-me emocionalmente com os problemas dos utentes. Hoje o dia começou de maneira triste mas prevísivel com a notícia da morte de uma mulher de armas que lutou durante 2 anos contra o cancro. 38 anos, a vida pela frente e 3 filhas para criar. Pobre mulher, partiu muito cedo, é sempre cedo demais para se deixar 3 filhas. Quando acompanhamos o evoluir destas patologias, o sofrimento dos doentes, quando olhamos no fundo dos olhos da filha mais velha que foi obrigada a crescer nos últimos meses ou o rosto da mãe que acabou de perder a filha mas que mostra, ainda, uma grande força e dignidade, os nossos problemas torna-se infinitamente mais pequenos. É impossível ficar indiferente porque eu tenho um coração grande demais e, para mim, as pessoas são mais do que números ou euros em caixa. Nem quero pensar se fosse médica ou enfermeira e tivesse que lidar com estas situações de perto constantemente. Não sei se aguentaria muito tempo.
Que a família da S. possa encontrar consolo e paz. Ela já encontrou paz, finalmente.
Eu trabalho com o público e esse não é um trabalho fácil. Já faço este tipo de trabalho há 15 anos e sempre achei, com uma ou outra falha, que desempenhava bem a minha função. Desde o tempo da faculdade que me preocupo em desenvolver as minhas capacidades de comunicação e, modéstia à parte, até me parece que consigo comunicar com facilidade No entanto, hoje houve um senhor que me disse que eu era brusca com as pessoas e, por momentos, fez-me duvidar das qualidades que eu acreditava ter. É bem verdade que não podemos agradar a toda a gente mas eu, insegura por natureza, tenho absoluta necessidade de sentir que as pessoas gostam de mim. Enfim, aquele senhor fez-me olhar para as minhas atitudes e perceber que, se calhar, tenho que ter ainda mais atenção às minhas atitudes, ao que digo e como digo, às minhas expressões faciais, à minha linguagem corporal para não correr o risco de perturbar a comunicação. Porque não falamos só quando articulamos as palavras, quando falamos é com o corpo todo.