Uma gracinha de um cegueta
Ontem chegou ao balcão um utente habitual da farmácia. Este senhor tem a particularidade de ser cego mas brincar com a sua deficiência. É habitual usar expressões como "bons olhos a vejam". Fazemos tudo para o ajudar e facilitar o atendimento. Qual não é o meu espanto quando ele me põe um embrulho em cima do balcão e diz: - Isto é só uma gracinha de um cegueta para vocês dividirem como irmãs. O pacote tinha uns salgadinhos. Fiquei comovida e quando lhe agradeci dizendo que não era preciso ter-se incomodado, ele responde-me: - Vocês são sempre tão gentis comigo. Só falta andarem comigo ao colo. Fiquei tocada, não pela importância do "presente" mas pela delicadeza do gesto. Não exerço a minha profissão à espera de presentes mas estes gestos recordam-me porque escolhi trabalhar em farmácia comunitária. Porque gosto, verdadeiramente, de pessoas.